quarta-feira, 22 de agosto de 2012

RESENHA DE LIVRO – A MULHER DE PILATOS


Um personagem bíblico que é timidamente citado uma única vez na bíblia, provavelmente não haveria de ganhar muito assédio de historiadores. Mas a esposa de Pilatos, Claudia Prócula, venceu este tabu, e nas mãos da jornalista e biografa Antoinette May, ganhou, numa mescla de teoria e fundamentação, sua trajetória contada, que supostamente teve início no segundo ano do reinado do imperador Tibério – descrito como ano 16 da era comum.
Se levarmos em conta a história descrita no livro sagrado, Claudia é um personagem menos que coadjuvante, e em se tratando de uma mulher, certamente ela sofreu as consequências do prestígio escasso, dados ás damas de um tempo machista. Sim, mas estes são ingredientes que sempre despertaram a minha atenção de imediato: Adoro ler sobre as mulheres que viveram em tempos onde a masculinidade era uma prática cultuada e absolutista. Geralmente o especulativo retrato dessas damas é feito de forma brilhante, mostrando o quanto foram guerreiras e se sobressaíram, mesmo em condições submissas e muito distantes dos postos de liderança na humanidade.
Portanto, logicamente meu interesse neste livro era constante. E por ironia ou acaso, levei muitos anos para conseguir finalmente saboreá-lo.
Mas este A Mulher de Pilatos, que apesar de começar bem, acaba pecando no receio de arriscar. Uma vez que, se é para trabalhar em um personagem onde há apenas espaço para possíveis conjecturas, por que não ousar e inserir uma trama mais impactante? Ou se era apenas para descrever aquilo que o autor imaginava ter acontecido de fato com seu personagem alvo, por que igualar tanto a história ao mesmo rumo da bíblia?
Como eu disse anteriormente, o livro começa muito bem; Claudia é a narradora de sua própria história, e isso por si já se torna uma grande jogada, afinal, ler os relatos de um personagem bíblico é um feito luxuoso, embora ao mesmo tempo arriscado. E mesmo perante esse caminho tortuoso, Antoinette May se saiu muito bem. Os detalhes enriquecidos de inúmeras referências culturais da época são magistralmente narrados pela historiadora. E até mesmo características que foram inseridas á Claudia ficaram legais, como dons de vidência, fragilidade feminina, discrição e um constante impressionismo, que pairava em um tempo no qual reinava uma vasta cultura politeísta. Tudo isso foi por demais, pontos á favor da autora.
Contudo, Antoinette May logo se mostra intencionada á descambar tudo para o biblicismo. E toda a originalidade, e por que não dizer toda inspiração criativa, se torna uma verdadeira desculpa para uma entediante narrativa á cerca das já tão conhecidas passagens bíblicas que relatam os instantes finais de Jesus Cristo. As últimas páginas chegam á beira da exaustão (se você quer saber tudo o que acontece no final deste livro, leia um dos evangelhos da bíblia).
Não quero criticar a autora por ter inserido em seu livro os acontecimentos da história na bíblia, até porque isso de certa forma já era esperado, dado ao fato de que estamos falando de Claudia Prócula, mulher de um dos personagens mais polêmicos nas últimas horas de Cristo. O problema, em minha opinião, foi quando a autora transformou sua personagem numa espécie de locutora dos principais fatos e momentos finais de Jesus. É como se houvesse uma preocupação em retirar Claudia de sua condição de coadjuvante, dando á ela um posto de testemunha ocular com um pouco mais de notoriedade, algo que lhe foi negligenciado (ninguém sabe se propositalmente ou não) pelos autores da bíblia. Isso também não teria sido um problema, caso a autora tivesse mantido seu punho criativo, e contado tudo o que já sabemos, mas através de um ângulo de visão diferente, no caso aqui, em descrições pessoais de Claudia. Porém, no lugar disso o que a autora faz é inserir passagens dos feitos de Jesus, na maioria das vezes de maneira idêntica ao que é descrito na Bíblia.
De qualquer maneira, o livro vale pela ótima construção narrativa e pela viagem literal, cortesia do vasto conhecimento que a autora mostrou possuir sobre história antiga. É um livro mediano, que talvez ficou faltando uma pitada do charme de Dan Brown, ou um pouco da sensibilidade de Kathleen McGowan.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

RESENHA DE FILME: BATMAN - O CAVALEIRO DAS TREVAS RESSURGE



Dois aspectos eu considerava extremamente difíceis de serem alcançados por Christopher Nolan, em seu desfecho na trilogia do morcegão: elaborar uma trama tão bem amarrada quanto a do filme anterior; conseguir fazer com que o novo vilão tirasse de suas costas a responsabilidade (inevitável e impossível) de substituir o perfeito Coringa.
Nolan não chegou a falhar. Mas também não foi brilhante em nenhuma das duas coisas.
Mas, se de fato a missão de fazer o espectador desgrudar de uma vez a imagem do vilão de cicatrizes e terno roxo (magistralmente incarnado por Heath Legder) de suas memórias, era mesmo algo impossível, pelo menos uma boa trama não deveria ser um desafio assim tão complicado para um inovador como Nolan. E embora eu acredite que, em nada este terceiro filme conseguiu superar seu antecessor, sei que minha opinião talvez seja a minoria.
Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge, é um ótimo filme. O diretor segue o clima sombrio dos dois primeiros longas (talvez este tenha se tornado um pouco mais artificial, porque agora temos naves e combates aéreos), e desta vez nos mostra Bane na telona, um vilão mais bruto e menos dissimulado, talvez para obrigar o herói á usar um pouco mais de testosterona, e menos o seu cérebro.  Uma boa ideia. Mas, mesmo que isso de fato tenha acontecido, o desfecho de Bane ficou um pouco insosso.
Já o filme começa com uma linha até interessante: Mostra um Bruce Wayne decadente, mergulhado em seus fantasmas do passado. E a queda do homem fez com que este, desistisse do herói.  Vemos também uma Gothan City que enaltece seu herói do passado, Harvey Dent, sob uma mentira na qual o comissário Gordon não aguenta mais carregar consigo. Então, eis que surge o terrorista mascarado Bane, e a cidade volta a se ver em perigo eminente (não sei o porquê dessa obsessão nos vilões de Batman em destruir a cidade. Parece que todos seguem uma mesma linha de raciocínio e não possuem interesses próprios... Mas tudo bem). E para completar a salada, também surge na história, uma ladra inescrupulosa e sexy, muito sexy, chamada Selina Kyle, a tão aguardada Mulher-Gato.
Sim, realmente parece um bocado de encrenca, e antes mesmo de chegar aos trinta minutos, eu já começava a suspeitar de coisas demais acontecendo, o que inevitavelmente é indício de correria para que o filme termine, e que todos os pepinos deixados ao longo do caminho sejam respondidos.
Dito e feito: da metade em diante, as coisas começam a acontecer muito rápidas, comprometendo um pouco na qualidade do roteiro.
No entanto, como motor de arranque, temos um batalhão de atores brilhantes para garantir a mesma construção narrativa charmosa dos dois filmes anteriores: Gary Oldman (o comissário Gordon), Morgan Freeman (como Lucius Fox), Michael Caine (o mordomo Alfred), Anne Hathaway (a irresistível Mulher Gato), Joseph Gordon Levitt (como um policial braço direito de Batman), Tom Hardy (como o vilão Bane), Marion Cotillard (como a milionária Miranda Tate), e é claro, Christian Bale (nosso inovador Batman).
Num resumo geral: Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge é um filmaço, mas que o público terá dificuldades em lidar com a sombra da perfeição de seu antecessor de 2008, Batman – O Cavaleiro das Trevas.