sábado, 29 de setembro de 2012

RESENHA DE LIVRO - O Lírio e a Quimera - TOMO I - Mademoseille de Miry


Geralmente quando estou compondo uma resenha de livro, tenho o hábito de vasculhar na internet para conferir o que outros leitores acharam do livro. E curiosamente não encontrei nenhuma resenha deste livro impressionante do romancista Romaric S. Büel.
O Lírio e a Quimera – Tomo I  - Mademoiselle de Miry, é o início de uma trilogia que conta a saga de Marie Adelaide de Miry, futura baronesa de Santa Maria, e sua trajetória que destaca a aproximação entre a cultura e a história da França e do Brasil; O Lírio, que é o símbolo da França dos Orleans, e a Quimera (dragão), emblema da monarquia dos Bragança. Em uma Europa do século XIX, o autor nos revela as proezas desta jovem aristocrata francesa, através de uma narrativa vibrante, mostrando de maneira detalhista, um pouco do que foram os bastidores da nobreza europeia e brasileira.
É simplesmente uma vasta mistura de criados e nobres, reis e rainhas, artistas e comerciantes, burguesia e escravidão. Um prato cheio para os amantes de literatura e história. O autor é indiscutivelmente um conhecedor das artes e culturas, tanto brasileiras quanto europeias. Já o ritmo da trama oscila um pouco, deixando alguns momentos sonolentos, que nos faz pensar que eles estão no livro apenas com o propósito de “encher linguiça”. As coisas só começam a ficar intrigantes da metade em diante, e quando você se sentir completamente entorpecido pela leitura, eis que o tomo I acaba e você terá que, como eu, adquirir a segunda parte, intitulada A Imperatriz do Café.
Uma bela jogada de marketing. Mas que vale a pena, pois o livro é muito bom.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

CRÔNICA: ANTES LER DO QUE REMEDIAR



Ao chegar do trabalho e abrir a porta, eis que meus sapatos se deparam com uma costumeira pilha de correspondências. Não, eu não sou tão importante assim. A pilha em sua maioria era apenas as contas do mês, que nunca se esquecem de chegar.
No entanto, naquele fatídico fim de tarde, um dos envelopes me chamou a atenção. Ele era robusto, pesado e me recebia com um saudoso “Parabéns”. Curioso, me sentei no sofá, já completamente esperançoso de que finalmente a providencia divina se lembrou deste pobre sofredor, e me enviou boas novas... Afinal, meu nome estava no alto da correspondência, escancarado em negrito, e me dava os parabéns.
Restava saber pelo quê.
Ao abrir a carta encontro um belíssimo cartão magnético preso em uma folha onde havia meus dados impressos; um enorme encarte, que se desdobrava de forma super criativa, enfatizando o quanto eu era um homem de sorte e indicando todas as vantagens que eu acabara de receber; e por fim, um livreto sem-graça cujo título era: Termo de uso e Política de Privacidade.
Obviamente eu descartei o livreto e fui direto ás boas notícias conferir as vantagens da minha nova vida, agora que eu tinha em mãos, tão reluzente cartão magnético. E após uma rápida lida no encarte, que parecia tão empolgante quanto um convite para um réveillon em Paris, peguei o telefone, totalmente decidido, para discar o número de desbloqueio do cartão.
Mas foi nesse exato momento, com o telefone encostado no ouvido e a boca salivando de ansiedade, que me lembrei de uma matéria que havia lido recentemente em uma revista. E a matéria apontava justamente para a importância de se ler aquele livreto, o tal... Como era mesmo o nome? Ah, sim... Está aqui:
Termo de uso e Política de Privacidade.
Confesso que só me lembrei do título, porque o resgatei do chão, já com marcas de sola de sapato, mas graças, ainda ao alcance de minhas mãos...
A situação acima é algo que se repete quase que diariamente em minha vida: vivo concordando com qualquer espécie de cláusula e termos enigmáticos, sem saber dos mistérios que espreitam suas entrelinhas. Seja através de contratos bancários, financiamentos, ou mesmo um simples aplicativo para computador, nunca, em hipótese alguma, eu desperdiço alguns minutos do meu precioso tempo para entender um pouco mais dos direitos e deveres nos quais estou me submetendo. Afinal, você conhece alguém que perde tempo lendo contratos?
Pois o artigo que li mostrava alguns exemplos do quanto isso não é uma perda de tempo. Pelo contrário, em muitos casos, a perda de tempo virá depois, para cancelar este mesmo contrato com algumas empresas que infestam seus termos com cláusulas abusivas.
É o caso de um britânico, que teve alguns aplicativos deletados de seu tablete pela Microsoft, sem aviso prévio. O caso foi parar na justiça e a empresa provou que agia dentro dos termos. Estava tudo lá, em destaque em um dos primeiros parágrafos do contrato. Outro caso aconteceu com a Amazon, que em 2009 removeu livros do Kindle de alguns usuários, alegando irregularidades na publicação dos volumes.
No caso do meu “lindo” cartão magnético, e que aparentemente era só vantagens, eu me dispus a perder alguns minutos e desafiar páginas e mais páginas de um texto chato, de linguagem técnica e cheio de termos complexos, para descobrir que, a tal anuidade grátis para sempre, a qual o cartão oferecia em destaque, só me beneficiaria, se eu usasse o cartão todos os meses, rigorosamente. E que se eu deixasse de comprar num único mês dentro do ano corrente, a anuidade passaria a valer em sua totalidade. Um susto, que me fez devolver o fone ao gancho, contente pelos minutos desperdiçados, que me pouparam assinar um contrato abusivo, o qual me deixaria a mercê de uma empresa vigarista, que certamente aposta a eficácia de seus truques, na certeza de que seus usuários jamais perderão tempo, lendo contratos propositalmente feitos de modo complexo, com letras miúdas e cheios de interpretações duvidosas.
E a coisa é bem séria: em 2005, um sujeito resolveu ler um contrato. No meio das cláusulas, ele encontrou algo estranho – um prêmio de mil dólares. O cara entrou em contato com a empresa responsável, e recebeu o dito prêmio. O problema é que foram preciso 5 meses, e mais de três mil contratos assinados para que alguém  notasse a brincadeira, que tinha como propósito, certificar se os clientes daquela empresa estavam ou não, lendo o contrato de uso.
Nada mais óbvio: num mundo recheado de marketing comercial, promoções aparentemente irresistíveis, e gente tentando se dar bem, o negócio é: ler para entender do negócio... Ou não assinar nada com ninguém.