quinta-feira, 22 de novembro de 2012

COCÔLOGIA


Meu ritual quando vou ao banheiro descarregar o intestino consiste em: levar uma revista, mesmo que eu leia muito pouco quando estou no trono (o ato de ler atrapalha minha concentração. Geralmente levo a revista pros dias em que a criança demora a nascer); sentar-me na louça do vaso (nunca gostei da almofadinha do assento sanitário); conferir o papel após a limpeza para checar se o “danado” está realmente limpo; e finalmente observar o aspecto do resultado que ficou no fundo do vaso. E é exatamente este último ato a proposta imposta pelos autores Anish Sheth e Josh Richman com seu livro intitulado “O que seu cocô está dizendo á você”.
Sim, o titulo parece piada e embora o tema seja tratado de maneira hilária pelos autores, o livro é de conotação didática. Os autores dissecaram o assunto e foram aos confins da "merda" para nos revelar tudo aquilo que não prestamos atenção antes de darmos descarga. O estudo sobre o cocô nos brinda com informações que vão desde qual é a posição mais confortável, até problemas de saúde que podem ser identificados apenas verificando o estado, cheiro e a tonalidade de nossas fezes.
A obra já não é novidade. Foi lançado em 2008, mas como se trata de um assunto que é raramente discutido em meios sociais, achei interessante divulgar o trabalho. Afinal, não é todo dia que vemos um livro exclusivamente dedicado ao infame cocô.
O que seu cocô está dizendo á você” é, segundo o que li, uma divertida e inusitada leitura, que serve como um catálogo para ensinar, explicar e dar dicas sobre esse fundamental e indispensável alívio natural. Você vai aprender rindo, e descobrir que “cagar” é algo muito maior e mais importante do que simplesmente “passar um fax para o departamento de esgoto”.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

RESENHA DE LIVRO - Lugar Nenhum


Criar um conto de fadas baseado nas questões sociais do mundo atual. Essa foi a impressão que tive ao percorrer as páginas deste “Lugar Nenhum”, onde a famosa cidade Londres mascara uma outra Londres, usada para abrigar a escória da sociedade. E é esta Londres de Baixo, infestada das mais incríveis e bizarras criaturas, que serve de cenário para a trama do livro, nos dando um elevado vislumbre do que seria viver em meio aos esgotos de uma grande metrópole. Obviamente, isso seria como estar em “Lugar Nenhum”.
Logo nas primeiras páginas, mais ou menos no instante em que Richard Mayhew (personagem principal da história) resolve socorrer uma garota ensanguentada na rua e acaba indo parar na fétida Londres de Baixo, eu confesso que estava ficando um pouco entediado com o rumo no qual a trama estava seguindo. E para piorar, o leitor precisa, de forma repentina, a se adaptar com a inserção imediata de falantes criaturas esquisitas, sem a menor explicação do autor. Isso acabou me causando um pouco de desconforto com relação ao texto.
Mas com o avançar na leitura, e ajudado por uma deliciosa e viciante narrativa, logo vi que esses mesmos aspectos que me incomodavam inicialmente, se tornaram um ponto de distinção; é um convite para que desabroche a imaginação do leitor. Eu acredito que esse é o principal objetivo de um escritor: dar-nos asas á imaginação.
Sim, o texto é tão suave que envolve e embevece, nos conduzindo á um único foco: a trama. Essa característica do autor, Neil Gaiman, também contribuiu para camuflar os possíveis erros descritivos, normais em livros fantasiosos, assim como a escassez nos detalhes ambientais. E mesmo com o roteiro seguindo em sua fantasia cinzenta e desvairada, logo nos sentimos completamente familiarizados com ratos falantes, seres disformes, esgotos obscuros e até mesmo anjos.
O personagem principal não é muito carismático e possui personalidades fracas. Mas acredito que até mesmo tais peculiaridades foram propositais; talvez Neil Gaiman, de fato, queria um cidadão londrino mediano e pouco expressivo para sua trama. E é o que acontece: Richard inesperadamente vai parar na Londres de Baixo, dando inicio á uma aventura incrível e cheia de perigos, situação que obviamente sacode toda a estrutura do cara.
Como eu disse anteriormente, “Lugar Nenhum” é exercício para a imaginação, numa leitura agradável e rápida. Fiz uma busca na Internet, e descobri que esse foi o livro de estreia do autor, mas que ele já havia feito adaptações com o roteiro do livro em HQs. Isso denota sua familiaridade com o texto. Quanto a parte criativa, não sei se tudo saiu da mente de Neil Gaiman, mas o submundo descrito no texto ficou bem legal. O único aspecto que considerei negativo foi a dupla de vilões, o Sr. Group e o Sr. Vandemar; eu achei ambos chatos, previsíveis e insossos. Mas nem isso conseguiu estragar a fantástica viagem que foi percorrer os misteriosos esgotos de uma Londres esquecida... Uma Londres que poderia ser chamada de Lugar Nenhum.