quinta-feira, 7 de março de 2013

RESENHA DE LIVRO – A Vida Secreta da Gente



Era manhã de domingo. Eu vasculhava o armário da despensa á procura de papéis velhos para acender a churrasqueira, quando encontrei, em meio á uma pequena pilha de jornais, algumas edições de uma revista dominical chamada AG.  Meus instintos de leitor compulsivo geralmente me impedem de ir atirando uma revista no fogo, sem antes me certificar de que não há absolutamente nada de interessante nela. Portanto, já da pra imaginar que a função de selecionar papéis velhos é uma missão demorada para alguém como eu.
E foi folheando as páginas daquela revista esquecida, que encontrei, pela primeira vez, a coluna de uma cronista chamada Maria Sanz Martins. Mal havia começado a ler sua crônica e eu já estava perplexo com tamanha intimidade daquela autora com as palavras. Com uma incrível naturalidade em descrever o cotidiano, ela conseguiu tocar o interior existencial do ser humano falível que sou. E já sem me lembrar do verdadeiro propósito pelo qual estava dentro da despensa, lá estava eu, afundado no meio de tralhas velhas e mantimentos, á procura de mais edições da revista que abrigava entre suas páginas um talento tão atraente.
Obviamente o churrasco aconteceu naquela manhã, mas desde então, eu passei a ser um frequentador assíduo da despensa e do jornaleiro, aos domingos, só para comprar o jornal que continha a revista na qual apenas os textos daquela cronista chamada Maria me interessavam.
Passado alguns dias, enviei um e-mail para a autora (sim, quando admiro bastante o talento de um escritor, me sinto meio que na obrigação em, de alguma forma, parabeniza-lo). Nada demais, foram apenas elogios á cerca do esplêndido trabalho que ela vinha desempenhando, e terminei o e-mail sugerindo que ela escrevesse um livro de crônicas.
Então os dias se passaram. E eis que numa bela manhã, ao abrir minha caixa de mensagens, lá está um remetente com o nome: Maria Sanz Martins. Á princípio fiquei estupefato, pois são raros os autores que se dão ao trabalho de agradecerem á um e-mail. Além do mais, esse não é o objetivo de meus e-mails; faço apenas para saciar minha consciência de “missão cumprida”, pois como eu disse, gosto de parabenizar autores. Mas Maria me agradeceu de maneira efusiva e sincera. Chegou até a mencionar, devo dizer que com uma exagerada modéstia, que não se sentia preparada para escrever um livro naquele momento (isso já faz alguns anos).
Mas o benigno tempo nunca para, e eis que no início de 2012, eu sorrio ao descobrir que finalmente esta esplêndida autora, orgulho para nós capixabas e de mesmo nome de minha mãe, resolve nos brindar com seu primeiro livro de crônicas, intitulado “A Vida Secreta da Gente”, nome que é o mesmo de um dos mais belos textos do livro (foi lançado recentemente a segunda edição. Soube disso enquanto escrevia essa resenha). Carismática na dose certa, as crônicas deste belo trabalho são incrivelmente feitas como se a autora dissecasse a alma de nosso cotidiano, para transcrever aquilo que a cegueira causada pela correria de nosso dia-dia não nos deixa ver.
Por que este livro é especial?
Porque são raros os autores que conseguem despertar minha inspiração, nos dias em que a mente está vazia feito um limbo. E “A Vida Secreta da Gente” arranca na marra este estímulo em mim, quase que imediatamente ao abrir suas páginas.
O livro termina com uma breve frase que diz:
“Que as palavras nos encontrem”.
De fato, as palavras fizeram com que autor e leitor se encontrassem, mesmo que através de um simples e-mail, num dia desse qualquer. Mas foi muito prazeroso ver uma breve e imparcial sugestão, ser transformada em um dos melhores livros de crônicas que já li na vida.
 E que as palavras continuem á nos encontrar.