Nunca fui contra a ideia de nomes
sedutores nas capas dos livros. Mas não apresentar o conteúdo no qual o título se
refere, é simplesmente inaceitável. Essa é a impressão que fiquei, conforme avançava
em minha leitura deste “O Enigma Maria Madalena”,
romance chato e sonolento de um historiador chamado Gerald Messadié. Digo isso, porque comprei o livro justamente por
ser um admirador da personagem bíblica Maria Madalena. E o que menos se encontra
nesta trama é algo sobre ela. Já nas
primeiras páginas o autor nos mostra a ação de seu livro girando em torno de
Jesus Cristo, em momentos de sua pós-crucificação. Não, eu não escrevi errado. Gerald Messadié foi um tanto ousado em
narrar uma história acertadamente humanizada, de um plano arquitetado por Maria
Madalena, para salvar o Messias da cruz. Mas seus méritos param por aqui. Porque
desde os primeiros parágrafos até a última página é Jesus quem rouba todas as
cenas e fica com o crédito de personagem principal. Enquanto a pobre Maria de
Magdala é completamente esquecida, restando para si apenas alguns momentos
isolados da história, onde ela faz algum comentário vago ou surge como que para
preencher algum espaço narrativo, deixando evidente que Maria Madalena é tão
importante para Gerald Messadié, quanto
foi para os autores da bíblia, ou seja, praticamente se esqueceram de sua existência
na história. Isso não seria nenhum problema, mas acontece que o autor aqui usou
o atualmente badalado nome de Maria Madalena, para carimbar o título de sua
obra.
E o livro não erra somente neste
aspecto. Também achei a narrativa exageradamente lecional e sem harmonia. Um eficiente
sonífero que quase me fez desistir de chegar ao final de sua trama, que embora
seja ousada, não tem uma pegada literária competente. A única coisa
aparentemente agradável é a minuciosa e rica reconstrução das cenas do
cotidiano das cidades de Jerusalém, Judeia e Galileia, daquele tempo. Mas até
mesmo esse ponto á favor parece se repetir exaustivamente ao longo da história.Não o recomendo apenas por conta do fraquinho conteúdo literário, mas principalmente porque este livro possui um título dissimulado e pretensioso, que pega carona no embalo de um personagem que surgiu das cinzas, para tentar se destacar e consequentemente vender gato por lebre.