Para viajar pelas páginas do livro que narra o diário de um ano devastador na vida de um astro do rock chamado Nikki Sixx, é preciso duas coisas: coragem e estômago forte. Porque todo o conteúdo deste trabalho é a nua e crua realidade de quem viveu á beira de um abismo profundo e perverso chamado Drogas. Antes de lê-lo, o pouco que já tinha ouvido falar sobre o baixista e compositor do Motley Crue, foi suficiente para que eu o considerasse um completo idiota.
Opinião superficial á parte, inevitavelmente
minha opinião pós-livro mudou. Sim, porque eu acabara de ler o diário de um
homem que viveu constantemente dominado por seus vícios e através deles
orquestrou sua própria decadência. Um cara que rumou desenfreadamente para o
inferno, numa trilha tortuosa onde drogas, sexo e rock n’ roll ditavam o ritmo.
Nikki Sixx foi á um extremo no qual
qualquer ser-humano em sã consciência consideraria impossível chegar. Como ele
mesmo afirmou; “Álcool, ácido e cocaína
foram somente casos. Só quando conheci a heroína foi amor verdadeiro”.
Nikki Sixx não é o idiota que eu imaginava. Se em determinados
momentos ele se comportava como tal, pelo menos seu livro me fez enxerga-lo de
outra forma. Sixx é um sujeito que ostenta certo ar irônico, ás vezes é
arrogante, teimoso e recluso. Principalmente quando estava sob os efeitos das
drogas; ai a coisa descambava para o irracional. Mas há também o outro lado do
homem falho, que talvez não tenha sabido lidar com a ostentação do sucesso, nem
com os problemas que vivera na infância e provavelmente partiu disso a sua
tentativa de refúgio por meios das drogas. Nikki é um baixista extremamente
talentoso e um compositor competente. Além do fato de que provou ser corajoso
ao expor sua verdade mais obscura e seu lado frágil e feio, ao lançar este
livro. Nikki Sixx é um ser-humano
que cai e se levanta como qualquer outro. Como geralmente acontece comigo ao
ler biografias (embora aqui não se trate exatamente de uma), a maior lição que
tirei desse livro foi a de não julgar nunca; principalmente sem antes ter
alguma ideia daquilo em que se está apontando o dedo.Obter esse livro foi realmente muito bom. E lê-lo foi uma experiência singular. Nunca procurei por algo sobre Nikki Sixx ou sua banda, o Motley Crue. De fato, eu encontrei esse livro da mesma forma como acontece quando não conheço a fonte: numa banca de promoções, em uma livraria qualquer, á um preço irresistível.
O visual do livro é arrasador; bem colorido, com fotos, gravuras legais e as passagens do diário foram feitas com uma escrita datilográfica bem bolada. Como se fossem as páginas do diário de Nikki Sixx, xerocadas para impressão. Durante as passagens do diário, há comentários de pessoas que estiveram próximas ao Motley Crue na época. Destaque para os comentários de certo guitarrista chamado Slash, que integrava uma banda que estava em início de carreira, o Guns N’ Roses.
Em determinado momento do livro, há um intervalo onde o próprio Nikki levanta uma questão que inevitavelmente invade e permanece constante na mente do leitor, já nas primeiras páginas:
Como esse cara ainda pode estar vivo?
Pois Nikki Sixx é um sobrevivente que retornou do inferno para nos
contar sua experiência nada sóbria, de uma vida cheia de dependência e loucura.
De um ser-humano que não conseguiu medir seu próprio limite. Mas que como
poucos, soube sacudir a poeira e encontrar um caminho que o arrancasse do fundo
do poço.
Uma leitura que não é fácil de ser digerida. Mas
ler o livro de alguém que seguiu com a própria vida num limite inimaginável, é no
mínimo curioso. Em minha humilde opinião, valeu muito á pena ter adquirido este
relato incrível, que orgulhosamente está exposto em minha estante de livros.