sábado, 28 de setembro de 2013

RESENHA DE LIVRO: Heroína & Rock N' Roll


Para viajar pelas páginas do livro que narra o diário de um ano devastador na vida de um astro do rock chamado Nikki Sixx, é preciso duas coisas: coragem e estômago forte. Porque todo o conteúdo deste trabalho é a nua e crua realidade de quem viveu á beira de um abismo profundo e perverso chamado Drogas.  Antes de lê-lo, o pouco que já tinha ouvido falar sobre o baixista e compositor do Motley Crue, foi suficiente para que eu o considerasse um completo idiota.

Opinião superficial á parte, inevitavelmente minha opinião pós-livro mudou. Sim, porque eu acabara de ler o diário de um homem que viveu constantemente dominado por seus vícios e através deles orquestrou sua própria decadência. Um cara que rumou desenfreadamente para o inferno, numa trilha tortuosa onde drogas, sexo e rock n’ roll ditavam o ritmo. Nikki Sixx foi á um extremo no qual qualquer ser-humano em sã consciência consideraria impossível chegar. Como ele mesmo afirmou; “Álcool, ácido e cocaína foram somente casos. Só quando conheci a heroína foi amor verdadeiro”.
Nikki Sixx não é o idiota que eu imaginava. Se em determinados momentos ele se comportava como tal, pelo menos seu livro me fez enxerga-lo de outra forma. Sixx é um sujeito que ostenta certo ar irônico, ás vezes é arrogante, teimoso e recluso. Principalmente quando estava sob os efeitos das drogas; ai a coisa descambava para o irracional. Mas há também o outro lado do homem falho, que talvez não tenha sabido lidar com a ostentação do sucesso, nem com os problemas que vivera na infância e provavelmente partiu disso a sua tentativa de refúgio por meios das drogas. Nikki é um baixista extremamente talentoso e um compositor competente. Além do fato de que provou ser corajoso ao expor sua verdade mais obscura e seu lado frágil e feio, ao lançar este livro. Nikki Sixx é um ser-humano que cai e se levanta como qualquer outro. Como geralmente acontece comigo ao ler biografias (embora aqui não se trate exatamente de uma), a maior lição que tirei desse livro foi a de não julgar nunca; principalmente sem antes ter alguma ideia daquilo em que se está apontando o dedo.
Obter esse livro foi realmente muito bom. E lê-lo foi uma experiência singular. Nunca procurei por algo sobre Nikki Sixx ou sua banda, o Motley Crue. De fato, eu encontrei esse livro da mesma forma como acontece quando não conheço a fonte: numa banca de promoções, em uma livraria qualquer, á um preço irresistível.
O visual do livro é arrasador; bem colorido, com fotos, gravuras legais e as passagens do diário foram feitas com uma escrita datilográfica bem bolada. Como se fossem as páginas do diário de Nikki Sixx, xerocadas para impressão. Durante as passagens do diário, há comentários de pessoas que estiveram próximas ao Motley Crue na época. Destaque para os comentários de certo guitarrista chamado Slash, que integrava uma banda que estava em início de carreira, o Guns N’ Roses.
Em determinado momento do livro, há um intervalo onde o próprio Nikki levanta uma questão que inevitavelmente invade e permanece constante na mente do leitor, já nas primeiras páginas:
Como esse cara ainda pode estar vivo?

Pois Nikki Sixx é um sobrevivente que retornou do inferno para nos contar sua experiência nada sóbria, de uma vida cheia de dependência e loucura. De um ser-humano que não conseguiu medir seu próprio limite. Mas que como poucos, soube sacudir a poeira e encontrar um caminho que o arrancasse do fundo do poço.
Uma leitura que não é fácil de ser digerida. Mas ler o livro de alguém que seguiu com a própria vida num limite inimaginável, é no mínimo curioso. Em minha humilde opinião, valeu muito á pena ter adquirido este relato incrível, que orgulhosamente está exposto em minha estante de livros.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

CRÔNICA: INESPERADA INSTROSPECÇÃO


Sentado no chão, ao lado de minha esposa, escutamos alguns acordes aleatórios de guitarra. Imediatamente quase todas as pessoas, que também descansavam ao nosso redor no chão da Cidade do Rock, se levantaram, inclusive minha esposa. De forma quase que despercebida, eu á puxei de volta e falei:
– Calma. Não é assim que o Metallica começa seus Shows.
De fato, o que se manifestava no palco Mundo naquele instante, eram alguns caras da equipe de produção, afinando os instrumentos. Ela voltou a se sentar e aguardamos pacientemente (talvez ela nem tanto), pelo início de “Ecstacy of Gold”, canção que se tornou marca na abertura dos shows da banda. Só então nos levantamos e a euforia teve início.
Menos a minha.
No instante em que o Metallica pisou no palco, o delírio explodiu coletivamente no coração da massa roqueira. Vi uma sacolejante multidão saltar nas alturas, sob um ritmo frenético no qual James & Cia nos impôs, ao longo de quase duas horas e meia de show.
Mas para minha própria surpresa, não consegui fazer absolutamente nada além de cantar as músicas de maneira quase tímida, e noutras vezes me permiti alguns leves balançares de cabeça, talvez até desajeitados, como os de alguém que escuta o Metallica pela primeira vez.
Eu mesmo não me reconheci naquele momento.
Olhava para as luzes do palco; sentia arrepios quando ouvia o coro de mais de noventa mil pessoas cantando as canções, juntas. Canções que eu tanto quis poder um dia testemunhar com meus próprios olhos. Braços erguidos para um céu escurecido que em alguns instantes era violado pelos holofotes. Meus braços também levantavam ás vezes, mas devo confessar, de maneira acanhada. A munhequeira em meu pulso condizia e me trazia a lembrança do lugar onde estava. Alguém olhou para o nome escrito em meu braço direito; este sorriu e acenou para mim. Éramos fãs da mesma banda. Só que ele saia do chão, empolgado, completamente tomado pela magia. Enquanto eu era incapaz de me mover.
Nem parece que acabamos de ver o show da sua banda favorita”, disse minha esposa, quando o espetáculo se acabou, ainda intrigada com minha inesperada introversão.
Este foi meu comportamento durante o show que mais aguardei este ano. E a perguntar que inevitavelmente me faço desde então é: Porque eu me senti tão deslocado?
Sim, eu adorei estar lá, perto dos veteranos que tocam as músicas que me acompanham desde a adolescência. Eu senti o termômetro da minha emoção subir quando uma familiar introdução anunciava outro clássico que estava começando. Minha alma vibrou quando o coro em uníssono saiu da garganta da multidão e rasgou a noite do dia dezenove de Setembro.
Mas aconteceu alguma coisa comigo, na qual eu ainda não sei explicar. E dizer que fiquei hipnotizado pelo espetáculo certamente soaria como uma esfarrapada desculpa. Não. A melhor resposta que tenho é não ter nenhuma resposta que justificasse meu comportamento. Estar completamente embevecido diante do show que mais aguardei para ver na vida foi um ato inexplicável e imprevisto.
Mas de qualquer forma, meu coração sabe que esteve lá. E aquele que foi o menos afetado por um encanto chamado Metallica, talvez fosse o mais apaixonados entres todos os loucos.