Sempre me senti um pouco deslocado por ser um amante de rock vivendo no meio de uma tribo apreciadora de sertanejo, forró, funk, pagode e afins... E quando o assunto é minha outra grande paixão, ou seja, os livros, então minha situação fica ainda mais desesperadora. Sinto-me como um ser improvável, que segue em queda livre rumo á extinção.
Certa vez, eu li uma matéria, não me lembro em qual site e tão pouco quem era o autor, na qual ele fazia um desabafo sobre o quanto é ridícula essa proliferação da ideia de que os brasileiros não gostam de ler. E ele sustentava sua tese mostrando alguns números que colheu através dos meios informativos; números otimistas que apontam considerável crescimento na demanda de livros e e-books, em nosso país, além do expressivo aumento de editoras e seus relacionados.
Quando li essa matéria fiquei um pouco envergonhado, porque eu mesmo sempre fiz parte dos que carregam a bandeira do pessimismo á cerca de nosso povo, mesmo porque eu não apenas me deparo com os baixos números, mas também presencio a falta de interesse coletiva pela literatura. Porque o cheiro da merda pode ser sentido numa breve busca pela verdade sobre o nosso desinteresse; que os brasileiros leem em média seis minutos por dia; que mais da metade dos brasileiros não leram nenhum livro nos últimos três meses; que 75% do nosso povo nunca entrou numa biblioteca (aqui em minha cidade tem gente que nem sabe onde ela fica); e para esta mesma nação, que ama futebol e adora pegar no pé dos nossos vizinhos hermanos, talvez estes recentes dados consiga, enfim, lhe tocar: existe mais livrarias na capital deles, Buenos Aires, do que em todo o nosso território nacional. E que a média de leitura dos nossos rivais por ano é mais que o dobro da nossa (4,6% livros por ano deles, contra 1,9% nossa). Uma goleada! Se fosse uma partida de futebol, a nação inteira estaria indignada.
Mesmo assim, eu disse á mim mesmo que, como nunca fiz nada para melhorar esse quadro, também não faria para piorá-lo ainda mais. Prometi que jamais escreveria um post que apontasse com meus dedos preguiçosos o quão ruim são as estatísticas sobre literatura no Brasil, aqui no blog.
Só que recentemente eu optei por quebrar minha promessa. Não porque quero contribuir com a proliferação da péssima realidade de nosso país; mudei de ideia, porque quero arregaçar as mangas e fazer algo, á começar pela minha cidade. Pensei em trazer para cá, a ideia que encontrei na Internet; um projeto bacana e que custa tão pouco, que considerei quase um pecado me recusar á contribuir. Chama-se “Campanha Esqueça um Livro”, que consiste no simples ato de deixar um livro esquecido em local público, para que um suposto leitor possa o encontrar e talvez adquirir o gosto pela leitura. Dentro deste livro, deixarei um breve recado impresso, explicando a situação para que o felizardo que o encontrou possa avaliar se quer ou não lê-lo, e caso não queira, que o deixe em local público para que outra pessoa tenha a mesma oportunidade de encontra-lo.
Uma ideia que de tão fácil, é simplesmente genial.
É a chance de apresentar este desconhecido universo linguístico; único que produz filosofia, ciência e literatura, capaz de ampliar o pensamento com mais profundidade acerca das realidades objetivas e subjetivas e, claro, fazer com que consigamos um bom emprego e ascendamos profissionalmente. Se ao menos eu conseguir introduzir um novo leitor com esta simples ideia, já terá valido á pena...Espero num futuro bem próximo, poder vir aqui com um novo post para compartilhar os bons resultados dessa iniciativa.