terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

RESENHA DE LIVRO – HOMEM CINDERELA


Existem poucas maneiras de fazer com que as histórias dos grandes nomes do boxe mundial cheguem até os ouvidos daquele que não se interessa em acompanhar o esporte (como no meu caso). E o cinema é um desses raros meios á parte. Foi através da sétima arte que eu ouvi falar, pela primeira vez, em James J. Braddock; campeão mundial dos pesos pesados e símbolo de superação neste esporte.

Contudo, limitar conhecer a vida de grandes personagens que habitaram nosso passado, apenas através da telinha, pode ser perigoso. Porque geralmente filmes precisam de uma versão mais romantizada para atrair o público, e isso pode distorcer verdades e nos induzir á conceitos preestabelecidos.
A versão cinematográfica de “Homem Cinderela” chama-se “A Luta Pela Esperança”. História que o diretor Ron Howard foi até certo ponto fiel á vida de James J. Braddock, mas ele tiraniza seu adversário ao título mundial, Max Baer, talvez para dar maior impacto àquele que deveria ser o vilão cruel na trama.

Mas o fato é que Max baer, embora não tivesse sido exatamente um amor de pessoa, era um boxeador talentoso, que lutava fácil, gostava da fama e ás vezes era até carismático. Em momento algum no livro ele é apontado como um homem arrogante cruel e frio, características que são acentuadas no Max do filme.
Mas deixemos o filme de lado (que por sinal, vale muito á pena conferir, mas sem se ater ao lado biográfico), e vamos falar do livro do autor Jeremy Schaap, que mostrou ser um obstinado pesquisador em busca dos fatos que rondaram a vida de James J. Braddock e os grandes boxeadores de seu tempo. Uma época marcada pela quebra da bolsa de Nova York (1929), fato que gerou decadência social nos Estados Unidos e no mundo; e pelo Boxe, que naquele tempo era o esporte mais prestigiado do país.

Diante de um cenário desolador e desesperançoso, o Homem Cinderela (apelido que Braddock recebe na época) protagoniza uma história de triunfo contra todas as adversidades, e se torna herói nacional. James foi um boxeador promissor, até que uma sequencia de derrotas, a mão direita quebrada e o crack da bolsa nova iorquina, o levam ao fundo do poço. Braddock chega á ter que trabalhar em serviços braçais nas docas e receber auxílio do governo para conseguir sustentar mulher e filhos. Seu agente Joe Gould era o único que ainda sustentava alguma esperança no boxeador.
Cerca de um ano depois, vivendo sem nenhuma perspectiva, James J. Braddock ressurge das cinzas como azarão, e numa incrível reviravolta, ele se vê disputando o título dos pesos pesados, contra o atual astro e campeão mundial Max Baer.
É uma história de superação incrível, que não perde o brilho mesmo diante da autenticidade dos fatos, o principal objetivo do autor. Uma bela história para os fãs de boxe, assim como é um surpreendente livro, para os amantes de literatura; exatamente como no meu caso.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

RESENHA DE LIVRO: O FATOR SORTE


Sempre gostei da ideia de que a vida está constantemente me colocando nos lugares certos; ora para me fornecer boas situações; outras vezes para me manter longe de problemas. A maior parte do tempo, alguns detalhes denotam isso como verídico em meu dia-dia. Mas há instantes em que me vejo em situações tão ruins, que fica complicado sustentar essa minha crença, tamanho são os empecilhos ao meu redor. O que então seria esses acontecimentos, senão algo completamente fora do meu controle? E justo eu, que adoro associar o termo “autocontrole” á minha existência.  
Olhando para o cenário inteiro de minha realidade, posso afirmar que a sorte faz sim, parte de minha vida. Contudo, ela rege através de doses pequenas e constantes. Mas por que eu nunca tive um grande momento de sorte, que pudesse mudar drasticamente a minha vida? Tipo acertar os benditos números da loteria, os quais eu persigo insistentemente á tantos anos. Obviamente, da mesma forma, talvez eu devesse me sentir imensamente satisfeito com minha situação, simplesmente porque o elevado oposto também não faz parte da minha existência, ou seja, nunca tive um azar tão catastrófico, á ponto de me lançar ao fundo do poço.
Bem, o escritor Max Gunther (autor de Os Axiomas de Zurique) vai a buscar das respostas para a questão que levantei acima, e consegue juntar todo o material coletado neste interessante livro, intitulado “O Fator Sorte”. Max procura saber por que algumas pessoas possuem mais sorte do que outras e o que podemos fazer para nos tornarmos uma delas.
A grande sacada aqui foi que o autor não se apegou á nenhum estilo, conceito ou crença. Ele apenas criou uma coletânea de materiais em estilo jornalístico, para nos apresentar casos onde esse estranho fenômeno chamado Sorte foi determinante. Reuniu histórias de gente afortunada e de outras inacreditavelmente azaradas, e dividiu o livro em temas que vão desde A Teoria de Aleatoriedade (meu capítulo favorito), passando por crendices religiosas, supersticiosas, presságios e até mesmo casos de intuição. Nos últimos capítulos, o autor faz um resumo com algumas das atitudes mais evidentes na vida das pessoas sortudas. Nessa parte vemos teorias interessantes, e nem um pouco místicas, que podem muito bem ser aplicadas em nosso cotidiano, para aumentarmos o nosso imã da boa sorte.
 Que fique claro que não se trata de um livro de autoajuda. Mas um amontoado jornalístico, que vai a busca de respostas consistentes. Sem julgar, sugerir ou favorecer qualquer dos relatos presente em seu conteúdo.
É uma leitura gostosa, de fácil compreensão e que aborda um tema que interessa á todos nós. Á menos que você tenha se convencido de que é um azarado irremediável, vale á pena conferir este intrigante livro.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

HOMENAGEM: AMIZADE



O inesperado pode ser algo assustador quando se tem em jogo algo tão instável quanto nossa própria vida. Mas há momentos em que este mesmo imprevisto pode nos proporcionar alegria. De certa forma, gosto da ideia de que tudo tem á ver com a maneira com que encaramos nosso cotidiano. Uma pedra no sapato pode nos ser algo inquestionavelmente incômodo, mas esta mesma pedra, pode ter nos tirado o tempo que precisaríamos para conseguir embarcar num transporte que fora completamente destruído num acidente... Não faz muito tempo, eu precisei fazer uma cirurgia no Tendão de Aquiles. Quando entrei no quarto asséptico, fui recepcionado por duas enfermeiras, que acharam inusitado aquele meu sorriso e espontaneidade. Disseram que jamais haviam presenciado um paciente tão tranquilo ao entrar naquele lugar, considerado um antro de completa infelicidade. Aquelas palavras das enfermeiras era a comprovação de que eu estava aprendendo a olhar com admiração para toda a manutenção irremediável da vida.

Recentemente tenho experimentado algo inesperado, que me foi gentilmente devolvido pela Senhora Vida. O retorno de um velho amigo. Que simplesmente conheceu e viveu os tempos difíceis; que tolerou com paciência admirável todos os meus medos e neuroses. Um ato que por si, já valeria toda minha admiração e que seria completamente compreensível se este camarada não quisesse ter-me por perto... Mas que mesmo assim, dispõe de tempo para escrever um texto tão auspicioso (confesso que precisei consultar essa palavra no dicionário), que pincela com maestria incomparável, o verdadeiro significado da palavra amigo...
Obrigado por Tudo, Mario.


Pensamentos

Certo dia li em algum lugar que para um homem ser completo ele deveria, ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro.
Por vários anos planejei tudo isso, e por vários anos fiquei cada vez mais frustrado comigo mesmo.
Afinal, havia plantado uma árvore que acabou não florescendo, e sempre tive medo de ter um filho e não conseguir dar a ele algo que achava ser importante ter em minha juventude.
O livro enfim, já gastei cadernos e folhas avulsas sem nunca criar nada que o contexto pudesse valer a pena ser lido por ninguém.
Passaram-se anos e acabei desistindo de escrever o livro.
Quanto ao filho, continuo com medo de concebê-lo.
E a árvore nada mais se tornou do que uma paisagem em minha memória.
Mas o mestre do universo, o Senhor tempo, acabou por me ensinar às duras penas lições que a maioria delas eu não teria escolhido viver.
Mas tudo muda, e eu não era uma exceção à regra afinal, então me concentrei nas coisas que achava que me fariam diferença.
Trabalhei como um louco, mas de forma errada, e fiz coisas que não me ajudaram em nada a crescer como pessoa.
Tornei-me egoísta.
Passava por cima de pessoas como um trator, e com isso só me tornei mais sozinho e amargo.
Mas o tempo, esse tempo, esses minutos que se transformam em horas e dias e que não percebemos que está acontecendo, me fizeram enxergar a verdadeira magia.
Aquela magia que encontramos ao levantarmos da cama e olhar o quadro na parede do quarto, ou seja lá o que quer que olhamos e não percebemos.
Seja a chuva que nos obriga correr para não nos molharmos, ou o sol que logo pela manhã já nos faz reclamar do calor.
Mas aprendi que a vida está presente todos os dias de nossas vidas mais do que a vemos.
E hoje quando levanto pela manhã procuro fazer isso com o coração, e meus abraços se tornaram tão fraternos que procuro passar sempre a melhor energia possível, mesmo que não esteja muito bem.
Pois o dia é longo e tenho sempre a certeza de que se não acordei bem é porque o dia tem tudo para melhorar mais tarde.
Aprendi que o filho que deveria ter, nada mais é do que uma ação que possa ser lembrada para sempre, ou a ajuda à alguém.
A minha árvore nada mais é do que uma boa formação do meu caráter, e que me trará maravilhosos frutos.
E meu livro não precisa estar no papel, mas na lembrança do mundo como um belo conto, onde desempenhei o papel principal e o de coadjuvante com direito ao oscar.
Aprendi enfim, que posso sim chorar, pois sou humano como qualquer outro, e aprendi que posso sim sorrir, pois a vida ensinou-me isso.
Sim existem anjos. E eles geralmente não nos guiam por caminhos fáceis.
Fazem que pulemos de grandes precipícios para que assim nos ensinem a voar, e acima de tudo, acreditar que podemos voar.
Aprendi que sorrir é mais fácil do que chorar, e ser feliz é uma questão de escolha, não algo que simplesmente acontece na nossa vida.
Aprendi a sorrir com as coisas mais bobas da vida, e a dar gargalhada com as dificuldades mesmo que às vezes elas pareçam intransponíveis.
Nossa vida nasce escrita pelas mãos do Criador, mas ele nos deu lápis e borracha para podermos reescrevê-la. E é preciso ser um bom autor.
Acredite em você, e depois se olhe no espelho.
Você vai ver que seus olhos brilham como as estrelas que iluminam o céu da humanidade. E perceberá que seus atos fazem parte de uma força onde, sempre como um círculo, o que parte de um princípio volta sempre ao seu início.
Então verá que o que se faz com disciplina e bom coração retornarão a você com a mesma força que a distribuiu.
Ser feliz é algo que buscamos todos os dias de forma irracional, mas se pararmos para escutar nosso coração e a canção que o universo toca para nossa alma a cada dia, talvez consigamos em um breve momento encontrar a paz que nosso espírito realmente busca.
Não sou um conhecedor da verdade, nem tampouco dos segredos do mundo, mas a cada suspiro que sai da minha alma, percebo que o mundo é e sempre será muito mais do que minha visão pode enxergar...  
Talvez algum dia ao me sentar para olhar o horizonte, trarei em minha alma a certeza de que os caminhos que percorri estavam corretos e então o sol poderá iluminar-me a alma de forma que possa enfim comungar com a verdadeira força que rege o universo.
E assim, poderei dizer ao mundo com toda a força que encontrei o verdadeiro sentido da vida.
Talvez isso seja devaneio de uma mente insana, que sonha e acredita em um mundo onde não existam mais diferenças de pessoas ou de crença. Onde existam pessoas que enxergam não com os olhos da face, mas sim com os olhos da alma.
Onde pessoas não achem que são expectadores, mas que passem a desempenhar o papel principal, pois como disse Francis Bacon (filósofo, político inglês e alquimista que fazia parte da Fraternidade Rosa-cruz) “Somente a Deus e aos anjos é dado este poder de só observar.”
Podemos escolher sermos marionetes do destino, ou podemos ser o controlador das cordas de nossa vida. Não precisamos ser o que o mundo nos obriga, mas podemos ser o que o mundo precisa.
Sim eu sei, é difícil. Lutar sempre contra a tirania dos outros, saber fugir da falsidade escondida em um sorriso ou um abraço.
Tentar entender enfim o porquê de tanto rancor, egoísmo, ganância desenfreada, ou seja lá os tantos outros artifícios que as pessoas possuem para magoar as outras e assim atingir seus objetivos. Realmente é difícil.
Segundo Lao Tse “o homem que conhece o outro é sábio, o que conhece a si próprio é iluminado”.
Às vezes me pergunto se conseguirei ao menos chegar ao patamar de sábio algum dia. As pessoas me surpreendem a cada dia, e como diz o ditado “morro e não vejo de tudo na vida”.
Penso às vezes em desistir de tentar entender, mas o que mais poderei fazer se desistir, se realmente abandonar as pessoas? Conseguiria enfim entender-me?
Acho que às vezes precisamos nos afastar dos outros e ouvir somente nosso coração, mas não dizer ao nosso coração o que queremos, mas ouvi-lo.
Quando conseguimos isso deixamos nossa alma em silêncio, e assim nosso coração realmente fala. E devemos ouvi-lo, pois ele é sábio, ele comunga com as forças que regem nossa vida.
Prefiro perder o que tenho em bens materiais ao invés de atirar-me aos escombros de uma vida sem guerra, sem batalha. Não serei pobre de espírito ao ponto de não aceitar a dor da derrota, mas sim, serei o guerreiro que irá emanar dos escombros com minha espada em riste e meu estandarte flagelado tremulando para que nações de tristeza vejam e admirem o que minha alma é capaz de conquistar. O Grande Arquiteto do Universo assim me moldou e tempestades jamais causarão a erosão da fraqueza em minha alma.
Ao final os fracos se ajoelharão perante Ele e pedirão perdão, mas aos guerreiros restará a glória de ver suas espadas e escudos estendidos ao chão em agradecimento pela vida que viveram.
A vida por vezes nos afasta das pessoas, faz com que consigamos magoa-las, ou por vezes deixa que sejamos magoados por elas.
Mas precisamos aprender com as lições que nos são impostas que às vezes as lágrimas que rolam por nossa face não querem realmente dizer que sofremos, mas que caminhamos por estradas que realmente deveríamos percorrer e ao final de nossa jornada poderemos nos sentar e contemplar o que nos foi importante.
E então iremos sorrir.
Acredito que a vida tenha vontade própria e ela não ministra seus ensinamentos de forma aleatória. Ela molda toda uma existência com paciência não compreendida por nós na maioria das vezes.
Então ela nos surpreende com acontecimentos inesperados, como o retorno de um grande amigo a muito afastado. Mas ela também fez seu trabalho de forma brilhante naquela vida e lhe oferece a recompensa ao lhe devolver um amigo que certamente fará com que você se lembre que todos os momentos realmente possuem sua própria magia.
Poderemos um dia nos distanciar novamente, mas o tempo já cumpriu seu papel de gravar estes pequenos momentos em minha existência e assim transforma-los em lembranças gratificantes que jamais me serão tomadas. 
A ti meu amigo Michel Soares. 
 Com carinho, respeito e fraterno abraço...
Mario Sergio Cetto