Durante os dias em que eu estava afundado na leitura deste
fabuloso livro, um colega de trabalho, ao vê-lo sobre minha mesa, olhou-me com
certo sarcasmo e garantiu, com base no título metafórico da obra, que eu estava
a ler o livro certo pra mim.
De fato, meu estimado colega tinha razão. Mas não pela
intenção de seu maldoso comentário, pressupondo que eu precisava ler livros
relacionados aos desequilíbrios etílicos. Ele acertou, porque eu aprecio ler
trabalhos que trazem à tona, a ideia de que não existe no mundo fórmula generalizada
de se obter sucesso. No caso deste livro, o autor vai esmiuçar à cerca do
quanto a aleatoriedade é ampla e inevitável na vida daqueles que conseguiram chegar
ao auge do sucesso, assim como é crucial na triste realidade dos que sempre
estiveram afundados na lama pegajosa do fracasso.
Portanto, O Andar do
Bêbado, nada mais é do que uma alegoria que descreve o movimento aleatório;
uma expressão popular que serve para nos ajudar a compreender os acontecimentos
da vida diária.
O combustível que impulsiona o autor, Leonard Mlodinow, é justamente ir à busca dos princípios que
governam o acaso, do desenvolvimento dessas ideias e da maneira pela qual elas
atuam em nossa existência. Mlodinow
também busca compreender porque o modo como tomamos algumas decisões, podem nos
levar a julgamentos equivocados e resultados ruins frente ao determinismo da
aleatoriedade.
Com competência elevada diante de um assunto que facilmente
nos escapa, o autor consegue nos mostrar o papel do acaso no mundo em que
vivemos e nos revela de que modo podemos reconhecer tal atuação nas questões de
nosso dia-dia. Nesta obra, poderemos transitar através da crítica em relação à
doutrina do determinismo, que pressupõe que nossas qualidades pessoais e
propriedades de situações, levam direta e inequivocamente a consequências precisas.
Passamos também pelo fenômeno conhecido como Efeito Borboleta, baseado na
ordinária ideia de que o bater de asas de uma borboleta, poderia ter grandes
efeitos nos subsequentes padrões atmosféricos.
Atenta-nos para os perigos de se crer que os erros do passado
devem ser consequências da ignorância ou da incompetência. Acreditamos,
irracionalmente, que pessoas ricas e de sucesso são heróis, enquanto pobres e
fracassados não passam de bodes expiatórios. Temos o pragmático conceito de que
o brilhantismo de algumas pessoas é proporcional a seus ganhos substanciais. Deixamos
que nosso minguado discernimento não enxergue o potencial individual, somente o
resultado final em si.
E fechando o enriquecido conteúdo da obra, temos o último
capítulo, cujo título é o mesmo do livro e que para mim foi a melhor e mais
motivadora parte da leitura. Aconselha-nos a nunca desistir de algum projeto,
baseado no julgamento dos outros, que o melhor a se fazer é acreditar em nós
mesmos. O autor recomenda que sigamos em frente, pois a grande sacada é que,
como o acaso efetivamente participa do cotidiano, um dos mais importantes
fatores que determinam o sucesso está sob o nosso controle: “o número de vezes que nos arriscamos, ou
seja, o número de oportunidades que aproveitamos”.