O título exageradamente
simplista quase me fez devolver este livro à prateleira da loja onde o
encontrei por acaso. A autora exageradamente talentosa como atriz, remeteu-me à
preconceituosa desconfiança do conteúdo. E o resultado exageradamente
satisfatório me fez compreender que estava diante de uma das melhores obras que
li ano passado.
FIM é
um trabalho charmoso e delicioso de ser lido. De narrativa coloquial que ajudou
a dar autenticidade aos personagens, a trama segue por uma linha expositora tão
casual que é fácil criar empatia por cada indivíduo; os cinco amigos que narram
seus instantes finais se assemelham na forma de suas oratórias, embora
sustentem opiniões distintas. Ás vezes eu precisava voltar para rever quem era
o narrador do capítulo que estava lendo, por conta da semelhança nas falas.
Mas isso não incomoda nem um
pouco, pois como já mencionei: FIM é
um livro delicioso de ser lido. Portanto, fosse um ou dez narradores, a
agradável exposição altamente parcial e desembaraçada nos aproxima daquilo que
parece ter se perdido nos espaços físicos de interação social: a boa conversa.
Alguns resenhistas pela
internet discordam dessa ideia, alegando que Fernanda Torres criou de maneira
categórica, cinco personagens distintos; há quem diga, inclusive, que alguns
personagens são muito bons, enquanto outros um desastre. Mas eu insisto que,
salvo alguns poucos aspectos que os diferem, ler cada um dos personagens me
deixou com a sensação de que estava a ler um único narrador a relatar suas
diferentes fases da vida, ou simplesmente se trata de um sujeito confuso e
inconstante.
FIM coloca
com pano de fundo a tragédia dos últimos instantes na vida de cinco amigos, com
um capítulo dedicado a cada uma das finitudes, entremeados com subcapítulos de
coadjuvantes que circundaram suas trajetórias. A trama segue uma linha crua e
direta; acompanhamos os momentos finais de cada um, seus conceitos contraditórios
ou não, e as perspectivas de gente que vive ou viveu próximo deles. É uma literatura
bem encorpada pelo senso humano de análise desconexa, cujas situações se
mesclam entre o humor ácido, distorções e escárnio.
Outro comentário que se pode
encontrar facilmente pela internet são argumentos maldosos e infundados,
alegando que a autora abusou de maneirismos e fez de seu texto um instrumento
de ostentação de intelecto. Ela teria tentado aproximar sua narrativa de
autores como Nelson Rodrigues... Tudo bobagem.
A meu ver, Fernanda Torres se mostrou uma
excelente narradora; segura, madura e nos entregou uma obra que esteve a um
passo de algo brilhante. Penso que para um livro de estreia, ela mostrou ser
detentora de elevada sensibilidade criativa e absoluto controle de seus
personagens. Restou-me, após os aplausos, ficar na torcida para que o fôlego de
Fernanda não tenha se acabado. Era de se esperar que uma atriz talentosa como
ela fosse alvo de críticas conservadoras, que custam a digerir a ousada
inserção noutra plataforma cultural feita por algum artista.