sábado, 24 de fevereiro de 2018

RESENHA DE LIVRO: RELIGIÃO PARA ATEUS


Conheci o autor deste excelente livro através de bons documentários que ele produziu na internet. Então, a curiosidade era forte e quando tive a chance, adquiri este ótimo volume filosófico.

RELIGIÃO PARA ATEUS é um preciso trabalho que se propõe a cutucar em casa de abelhas: grosso modo, quando se entra no assunto religião, parece só haver espaço para o antagonismo religioso versus ateu. No entanto, o suíço Alain de Botton, confesso ateu, nos entregou este belo conteúdo cuja premissa é manter a imparcialidade e nos atentar para os benefícios e problemas que carregam os grupos seculares e dogmáticos.

As perspectivas do livro dividem-se em capítulos distintos, que buscam esmiuçar temas que pouco são observados quando se fala do percurso das religiões. Alain propõe que se olhe para o rico e inegável legado construído pelas igrejas, analisemos temas como arquitetura, instituições, arte e educação. E a mensagem mais notória do autor talvez seja para os perigos de um fenômeno social que está crescendo de modo assustador: a noção de cada um por si.

O desprendimento secular em crenças afasta o ateu de algo fundamental para a base da convivência social: a noção de comunidade. E como deve ser uma boa leitura de filosofia (embora o autor sustente uma leve inclinação para autoajuda), as ideias se mantém sob pontos de interrogação ou apenas nos mostram aspectos distintos de pensamentos, deixando a cargo do leitor o ato da reflexão. Alain de Botton não quer sacudir galhos sensacionalistas; usa de uma linguagem documental que faz com que o texto flua com extrema facilidade e doçura; lança questionamentos pertinentes; faz observações sem ser agressivo; destaca dúvidas sem fazer nenhuma censura.

Meu capítulo favorito é intitulado “Pessimismo”. E embora em muitas vezes eu queira e carregue a vontade de ser um ser humano mais otimista, acho que o mundo sempre termina por me empurrar de volta para o meu senso de desconfiança... E apesar de evoluirmos como sociedade, eu ainda sustento a ideia de que inveja, preguiça, ansiedade e principalmente a vaidade humana, acaba dando razão ao meu inesgotável pessimismo.

Pensar religião de uma forma ampla e aberta, sem conceitos fundamentalistas ou determinismos impositivos, já valeria a leitura desta obra. E já que também dependo de elevar minha autoanalise sobre temas espinhosos como este, deixo à cargo do próprio Alain, a reflexão final desta resenha:

 “A Sabedoria das fés pertence à humanidade toda, até mesmo aos mais racionais dentre nós, e merece ser reabsorvida de forma seletiva pelos maiores inimigos do sobrenatural. As religiões são intermitentemente úteis, eficazes e inteligentes demais para ser deixadas somente para os religiosos”.

sábado, 3 de fevereiro de 2018

RESENHA DE LIVRO – PEREGRINOS


Este é mais um daqueles livros que eu retiro da prateleira de promoções, sem sequer me dar conta de que estou diante de um autor aclamado por outra obra. PEREGRINOS veio parar em minhas mãos porque eu aprecio o gênero Contos, e dando uma breve analisada na contracapa e nos textos de orelha, resolvi comprá-lo.

A autora se chama Elizabeth Gilbert e ficou famosa mundialmente por uma obra de outro gênero que não li e nem tenho interesse, intitulada COMER, REZAR, AMAR (o marketing editorial não nos deixa esquecer, colocando uma lustrosa etiqueta na capa para que você saiba que está levando pra casa uma autora de sucesso). Portanto, bem diferente de muitos leitores brasileiros, eu não adquiri o livro aqui resenhado por conta de sucessos passados. De fato, eu não conhecia nenhum trabalho da autora.

A coletânea de contos nos remete ao que o título sugere: personagens em diferentes situações de transitoriedade, de migração existencial, algumas situações chegando a anunciar uma pegada mais subjetiva, algo que deixaria a reflexão a cargo do leitor... Mas infelizmente foi a ausência de intensidade no livro que não permitiu que o mesmo funcionasse.

Eu explico meu ponto de vista:

Elizabeth Gilbert narra seus contos de forma restrita; não parece haver nenhuma preocupação com linearidade, os textos parecem fragmentos extraídos de contos maiores. Tudo bem até aqui; penso que este tipo de narrativa atiça a imaginação e pode contribuir muito no quesito charme. Contudo, a autora exagera nos termos técnicos, faz muita referência geográfica e social, esquecendo-se de inserir aspectos particulares e intrínsecos em seus personagens. Por vários instantes fiquei com a sensação de estar lendo uma matéria de jornal ou revista, cujo conteúdo não vai além do meramente informativo.

Outra coisa que incomodou bastante foram os diálogos entre os protagonistas. Além de serem extremamente maçantes, as conversas parecem ter sido elaboradas por sistemas operacionais que tentam, sem sucesso, imitar o colóquio humano. Algumas falas soam tão artificiais que me fizeram rir, não pela situação em si, mas por conta das expressões robotizadas.

Já no primeiro conto, fui acometido de certa estranheza. Afinal, como se trata de uma coletânea é normal que alguns textos sejam melhores do que outros. Mas numa análise final, este é mais um livro esquecível, de textos que oscilam entre o mediano e ruim.

E caso você seja um amante de contos, como eu, certamente não será uma boa recomendação este PEREGRINOS. Aqui mesmo no Brasil está cheio de bons contistas contemporâneos, a preços bem mais generosos, mas que por ainda não terem em seus históricos bibliográficos uma obra antecessora campeã de vendas, acabam confinados ao anonimato.