Por minha própria
deliberação em manter o foco na literatura de romance, contos e filosofia,
havia decidido parar de ler biografias por algum tempo. Sim, pois normalmente
considero esta plataforma literária um pouco exaustiva, pois o conteúdo é sempre infestado de termos técnicos e as especificidades que envolvem o
universo do biografado. Isso pode ser um pouco cansativo para o leitor que não
tiver muita familiaridade com tal existência. E uma biografia de quase
quatrocentas páginas (como é o caso desta aqui resenhada) pode se tornar um infindável
tormento.
Contudo, eu pessoalmente considero Clint Eastwood um dos melhores
diretores ainda vivos. Filmes magistrais como Menina de Ouro, Sobre Meninos
e Lobos, Os Imperdoáveis, Gran
Torino, A Troca, Cartas de Iwo Jima, entre tantos
outros, são exemplos de uma sensibilidade peculiar inserida em suas produções. E como
simplesmente adoro o estilo cinematográfico de Clint, esta foi a razão que fez com
que eu não resistisse em levar esta biografia pra casa.
Inevitavelmente os referidos
termos técnicos e as longas narrativas das principais produções do mega-astro
permeiam toda a obra; um prato cheio para os cinéfilos que desejam
mergulhar um pouco mais no imenso mar hollywoodiano das grandes produções. E Clint Eastwood é parte importante da
história do cinema mundial. Mas se você apenas curte os filmes do cara, como
no meu caso, ainda assim vale a leitura pela chance de acompanhar com um pouco mais
de propriedade a ascensão de um grande nome do cinema.
De mim, não sei o porquê de
ainda insistir com biografias. Normalmente elas não são muito diferentes umas
das outras, salvo raras personalidades extremamente transgressoras ou alguém que sofreu tragédias notórias. Talvez ler uma biografia seja para o leitor
uma maneira indireta de homenagear o biografado, mas não sei se apenas este motivo dá
conta. Penso que a maior lição que se pode encontrar dentro das páginas de uma
biografia é a aproximação do astro alvo com sua humanidade. As biografias
geralmente revelam que pessoas de sucessos, apesar de sustentarem imenso
talento naquilo que fazem, são simplesmente pessoas comuns que se tornaram
famosas pelo esforço e desenvolvimento de algum talento. Biografias são ótimas para nos mostrar que essa
hipótese idiota de aptidão natural não existe... O que há nessas pessoas é
muito trabalho, dedicação e uma irredutibilidade quase neurótica.
CLINT
EASTWOOD – Nada Censurado não foge a esta regra. Aqui vamos acompanhar
toda a trajetória do portador do olhar mais expressivo do cinema, desde seu
nascimento até a fase atual, aos 87 anos e ainda fazendo filmes de qualidade
(recentemente assisti e adorei o filme “Sully”
de sua direção). O subtítulo faz parecer mesmo que é mera tentativa de
marketing, pois não existe exageros transgressores que justifiquem tal referência. E apesar de ser muito legal ler o percurso de um astro, ver seus acertos e erros,
encontrar curiosidades que não sabíamos a seu respeito e até descobrir alguns
aspectos peculiares da sua personalidade, definitivamente não há nada de
tão extraordinário assim na vida dessas pessoas. E apesar de o autor Marc Eliot ter feito direitinho sua
lição de casa e de Clint Eastwood
ser um sucesso inegável, sua vida não foi assim tão distinguível de outras
tantas personalidades mundo afora.