sábado, 14 de abril de 2018

RESENHA DE LIVRO: CONTATO VISUAL


O universo singular e pouco explorado que é abordado nesta obra já é razão para atrair o leitor que deseja fugir do senso comum. Ler sua sinopse intrigante inevitavelmente nos deixa convencidos de estar segurando um inesquecível conteúdo literário. Contudo, CONTATO VISUAL, de uma autora chamada Cammie McGvern, muito embora tenha alguns elementos positivos, está longe de ser um trabalho inesquecível (que me perdoe a grande maioria dos leitores que amaram a obra).

Longe de ser ruim, o tal universo singular que menciono é o autismo. E a trama aparentemente envolvente é claro prenúncio de algo magnífico: duas crianças desaparecem num bosque próximo a escola em que estudam. Apenas uma delas é encontra com vida, a outra foi assassinada. E a grande problemática é que este único remanescente é um autista. Começa então uma árdua jornada de paciência e habilidade para conseguir arrancar relatos do pobre menino.

No aspecto de mostrar a enorme problemática em lidar com uma limitada testemunha, principalmente por parte da mãe do menino, o livro não decepciona; é enriquecido por detalhes que nos deixa bem próximo daquilo que seria a difícil convivência com um autista. A trama foca bastante sobre essa complexidade, nos fazendo perceber que com a medida ideal de habilidade é possível aprofundamento nesta realidade aparentemente insolúvel. Outro aspecto bem explorado é a determinação incansável de uma mãe em tentar ajudar o filho.

Mas a narrativa incomoda um pouco porque exagera em tentar fazer o leitor compreender os acontecimentos. É como se Cammie McGovern não confiasse na capacidade interpretativa do leitor. Aqui tudo é excessivamente narrado, o que infelizmente acaba bloqueando em nossa mente aquela deliciosa lacuna subjetiva que tanto gostamos de preencher com nosso próprio discernimento.

Talvez o livro funcione melhor, mesmo que não seja propriamente a premissa, como conteúdo que narra as dificuldades oriundas de lidar com autistas. Sim, pois como suspense ou thriller policial o livro não engrena em nenhum momento.

Novamente reforço: CONTATO VISUAL não é um livro ruim. Só o que houve foi uma trama envolvente que acabou sendo mal aproveitada pela autora ao focar demais no tema “autismo”, deixando de lado componentes fundamentais para se conduzir um bom suspense literário. Mas é apenas minha leiga opinião. E como se pode verificar pelo imenso sucesso da obra, minha análise faz parte da minoria.