O universo singular e pouco
explorado que é abordado nesta obra já é razão para atrair o leitor que deseja
fugir do senso comum. Ler sua sinopse intrigante inevitavelmente nos deixa convencidos
de estar segurando um inesquecível conteúdo literário. Contudo, CONTATO VISUAL, de uma autora chamada Cammie McGvern, muito embora tenha alguns
elementos positivos, está longe de ser um trabalho inesquecível (que me perdoe
a grande maioria dos leitores que amaram a obra).
Longe de ser ruim, o tal
universo singular que menciono é o autismo. E a trama aparentemente envolvente
é claro prenúncio de algo magnífico: duas crianças desaparecem num bosque
próximo a escola em que estudam. Apenas uma delas é encontra com vida, a outra
foi assassinada. E a grande problemática é que este único remanescente é um
autista. Começa então uma árdua jornada de paciência e habilidade para conseguir
arrancar relatos do pobre menino.
No aspecto de mostrar a
enorme problemática em lidar com uma limitada testemunha, principalmente por
parte da mãe do menino, o livro não decepciona; é enriquecido por detalhes que
nos deixa bem próximo daquilo que seria a difícil convivência com um autista. A
trama foca bastante sobre essa complexidade, nos fazendo perceber que com a
medida ideal de habilidade é possível aprofundamento nesta realidade
aparentemente insolúvel. Outro aspecto bem explorado é a determinação
incansável de uma mãe em tentar ajudar o filho.
Mas a narrativa incomoda um
pouco porque exagera em tentar fazer o leitor compreender os acontecimentos. É
como se Cammie McGovern não
confiasse na capacidade interpretativa do leitor. Aqui tudo é excessivamente
narrado, o que infelizmente acaba bloqueando em nossa mente aquela deliciosa
lacuna subjetiva que tanto gostamos de preencher com nosso próprio
discernimento.
Talvez o livro funcione
melhor, mesmo que não seja propriamente a premissa, como conteúdo que narra as
dificuldades oriundas de lidar com autistas. Sim, pois como suspense ou
thriller policial o livro não engrena em nenhum momento.