Nossa sociedade moderna
privilegia e exalta quase que de modo obcecado a ideia de sucesso, o que nos
faz querê-lo com a mesma obstinação que este dogma ressoa desde sempre. Ter
sucesso todos os dias deve ser condição de vida boa e elevá-lo a se ter menos
hoje do que teremos amanhã é obrigação do homem bem sucedido.
Afinal, a obtenção de
sucesso nos é identitário do resultado de esforços, satisfaz por conta do
reconhecimento externo de alguma virtude ou conquista por nós alcançados.
Sucesso enobrece e nos faz querer continuar crescendo.
No entanto, apesar de
ninguém o desejar e muito menos se sentir satisfeito quando de sua chegada, é
talvez inegável que o fracasso eleve muito mais o ser humano do que o sucesso.
É um pensamento conclusivo? Logicamente não, assim como nenhum outro deste
quadro. Mas é pertinente para pensarmos se o fracasso de fato nos humaniza mais
do que o sucesso. Porque embora pareça absurdo, o fracasso é talvez o ponto em
que estamos mais inclinados a reconhecer a nossa falta de humildade, a perceber
em quais aspectos estamos errando, e também a levar em consideração a
inevitável contingência.
Enquanto isso, a progressão
do sucesso pode elevar a vaidade, alterar nossa percepção de cuidados, nos
deixar relapsos quanto à noção do esforço. Conquistas sucessivas e constantes
podem nos dar a impressão de que somos maravilhosos e irreprováveis. E embora
isso também não seja regra incontestável, algumas vezes um pouquinho de
fracasso é bom para nos fornecer humildade.
É claro que a sucessão de
fracassos também pode ter efeitos nocivos por nos deixar completamente
desmotivados, derrubar toda a nossa estima, frustrar-nos a ponto de não
querermos seguir por determinadas escolhas ou até mesmos nos fazer pendurar de
vez as chuteiras.
Lucidez e discernimento
perante este mal, porque é sim um mal estar no fracasso. Contudo, insucesso nos
será útil no sentido de enxergarmos na derrota alguns conselhos sobre como
lidar desse ponto em diante, trazer-nos a noção de nosso tamanho e até nos
livrar da perigosa noção de achar que devemos ter sucesso ininterrupto.