Como de costume, encontrei
este livro de forma despretensiosa, enquanto vasculhava um Sebo neste país
afora. E muito me interessam os autores que se propõem a escrever sobre
mulheres do passado que, jogadas às sombras da nossa história, estiveram à
mercê do patriarcalismo. Mesmo sendo estes autores, profissionais que escrevem
ficção.
SENHORA
DA VINCI é um trabalho que, de cara denota ousadia: narrar a vida
de uma personagem quase sem nenhum documento histórico existente e que trouxe
ao mundo um dos homens mais importantes da humanidade, Leonardo da Vinci. Restou-me retirar a intrépida obra da prateleira
e descobrir se a autora Robin Maxwell
foi feliz ao realizar este feito.
E talvez o veredito possível
seja: sim e não... Vamos começar pelos acertos:
O livro sabe fazer com que o
leitor entenda que aqui estamos viajando através do início do renascimento;
período dos mais importantes para o movimento artístico da história. A narração
em primeira pessoa faz diversas referências ao longo da trama, sempre mantendo
seu ponto de vista pessoal, ou seja, nem um pouco técnico, o que é bom para humanizar
os relatos.
Os capítulos finais
escaparam do previsível e de sacadas clichês. A autora foi assertiva em deixar
a trama seguir sem inserções românticas, estereotipadas, nem ficou tentando
causar comoção no leitor, o que é muito bom. Há um capítulo em que acompanhamos
uma descrição ótima que acontece sobre uma das pinturas de Leonardo, em que sua
mãe posa para ele (não se trata de um fato histórico, mas eu adorei esse
momento da trama).
O livro também começa muito
bem: não perde o foco no cotidiano modesto de Caterina (a mãe de Leonardo). Ela
é uma mulher entusiasmada, que teve a sorte de ser criada por um pai que não
limitou a educação da filha só porque ela era uma mulher. O livro fala com
coragem do abandono do pai biológico de Leonardo e do preconceito social daquela
época. Se algumas situações se trataram de inserções hipotéticas da autora, não
importa; o fato é que deu muito certo, a leitura sustenta instante de deliciosa
fluidez.
Infelizmente esta desenvoltura
funcionou somente até o momento em que o filho ilustre nasce. É aí que começam
os problemas da obra.
SENHORA
DA VINCI parece não conseguir se livrar da aura brilhante que
envolve Leonardo, mesmo não o elevando à condição de personagem principal, ele
segue por toda a trama como se fosse um escopo; aquilo que se tem por
finalidade. Robin Maxwell acaba
tendo dificuldades em manter o carisma de Caterina, tornando-a uma mera
expectadora da vida do filho pomposo.
Mesmo nos instantes em que Leonardo da Vinci sequer aparece, sua
mãe (que como já mencionei, é a narradora da história), se comporta de forma
diminuta, quase submissa. Nos instantes em que ela fala de Leonardo, ou até de
outras figuras ilustres de seu tempo, a narrativa se torna sôfrega, algo quase servil.
Caterina os descreve como se fossem deuses impávidos e perfeitos... Um
comportamento patético e desnecessário que quase me fez abandonar a leitura.
Incomodou-me também a persistência
em se narrar alguns dos feitos de Leonardo. Como se isso fosse obrigatório para
o desenrolar da história. Veja bem: o caso é que não estamos falando aqui de um
livro sobre Leonardo da Vinci, mas
de sua mãe. Portanto, verificar demais a obra do filho elevou o senso de
desvalia da personagem principal; reduziu-a à condição de mera coadjuvante.
Infelizmente também não é
muito difícil nos depararmos com erros gramaticais e descuidos de revisão, mas
isso não chega a incomodar tanto.
NOTA: 5,2