Fazendo uso de uma pitada de
exagero, é preciso certo cuidado com atrofias na hora de ler esta pesada obra. O
volume de conhecimento aqui reunido é gigantesco, e isso pode ser constatado no
peso físico do livro (tratam-se de indispensáveis 715 páginas). Segurá-lo
aberto por horas de leitura pode se tornar uma desconfortável experiência.
Mas a imersão narrativa,
mesclada a uma expansão de detalhes compensam qualquer desafio na hora de
encarar a robustez física; DIA D
talvez possa ser considerado o trabalho definitivo sobre o maior desembarque de
tropas da história militar. E esta opinião não é minha, vem de alguns
historiadores e especialistas da Segunda Guerra Mundial.
Temos aqui um trabalho
minucioso cuja narrativa se inicia no desembarque dos aliados no litoral da Normandia,
em 06 de Junho de 1944, rumo à libertação da França que estava sob o jugo do
terceiro Reich. E diferente dos demais trabalhos sobre esse importante período
da grande guerra, DIA D é amplamente
enriquecido por detalhes dos combates que muitas vezes escapam dos
historiadores; um olhar quase em primeira pessoa.
O nível de imparcialidade do
autor impressiona. Antony Beevor
tece a narrativa na precisa fidelidade de sua pesquisa, e o que carece de
levantamentos hipotéticos, ele os sugere em concordância com documentos
oriundos de diferentes fontes. O intento jornalístico e a vontade de contar
exatamente o que houve é formidável, o autor não puxa sardinha para nenhum
lado, apenas analisa suas fontes e entrega um dos textos mais verossímeis que
já li sobre a Segunda Guerra Mundial.
Embora a obra se preocupe em
relevar alguns termos técnicos, nomes e datas, o brilho fica por conta do
aspecto humano de todos os envolvidos: o inabalável empenho das tropas aliadas;
o medo generalizado de não saber o que está à espera no país ocupado; a luta
desesperada dos alemães em notória minoria; a tragédia da destruição que sempre
desaba sobre os civis que lá se encontravam.
Sim, DIA D deve ser considerado um livro indispensável para quem se
interessa pelo tema. Contudo, cabem aqui algumas observações:
É preciso certo
conhecimento, mesmo que não muito aprofundado, sobre a Segunda Guerra, pois o
autor se concentra nos bastidores dos acontecimentos, sem fazer nenhuma
apresentação. Os grandes generais, as divisões de destaques, os termos técnicos
recheiam a obra por todo o instante sem fazer nenhuma referência (há apenas um
glossário de siglas e fontes no final da obra), o que é perfeitamente
compreensivo, haja vista que o livro narra um pequeno período da grande guerra
que se passa já em tempos finais. Leitores introdutórios devem começar por
obras mais genéricas antes de entrar em narrativas específicas.
Outro aspecto singular do
livro foi a maneira com que Antony
Beevor procura esmiuçar e compreender a mente dos generais de ambos os
lados. Minha leitura deste DIA D
tornou-me ainda mais admirador do marechal de campo alemão Erwin Rommel. Outras
obras e documentários que pude acompanhar sempre o descreveram como um exímio
estrategista e líder articulado. Neste volume tais conceitos são ainda mais
acentuados, mostrando que, de fato, Rommel era um homem de elevada inteligência
militar e principalmente sobriedade ímpar ao deixar de lado o orgulho e
aprender com os próprios erros (condição raramente relatada pelos especialistas
que pesquisaram o corpo de liderança do Terceiro Reich). Possivelmente as
coisas poderiam ter sido menos trágicas para os alemães, caso o vaidoso Hitler
tivesse dado ouvidos ao discernimento dos bons generais que tinha no comando de
seu exército.
Não sei se em todas as
edições estão iguais (a minha é da editora Record, lançada no ano de 2010), mas
esta ainda vem com um bônus maravilhoso: muitas fotos do conflitos, imagens de personagens
importantes e diversos mapas que nos ajudam a entender a problemática
geográfica.
NOTA: 9,5