A segunda guerra mundial foi talvez o evento mais trágico e determinante da história moderna da humanidade; seus efeitos atingiram o globo inteiro, suas consequências até hoje se fazem sentir.
Nesta obra aqui resenhada, o
historiador Martin Gilbert optou pela premissa de narrar esse tempo de
trevas como num resumo (sim, um resumo de 976 páginas, mas em se tratando de
segunda guerra mundial, é espaço precário demais para tanta ocorrência); fez
uma espécie de diário de guerra, em que o relato precisa ser breve para que não
se perca o foco nos principais tempos e acontecimentos do conflito. Desse modo,
tudo aqui será relatado de maneira fugaz, eu diria que estamos diante de um
livro de entrada, para aqueles que desejam iniciar uma leitura sobre os
eventos.
O conflito, que começa em
setembro de 1939 e termina em agosto de 1945, foi estudado a exaustão por muita
gente boa. Atualmente há material quase que infinito para o público
interessado, desde livros, revistas, documentários, filmes, enciclopédias,
museus, memoriais... A história da grande guerra está eternizada por distintas
formas, algumas mais eficientes outras nem tanto. E este A SEGUNDA GUERRA
MUNDIAL de Martin Gilbert, é mais um trabalho que, embora audacioso
na proposta de contar uma história tão grande, esbarra em alguns probleminhas...,
vamos a eles:
O primeiro incomodo que senti
e perdurou por quase que toda a leitura foi a parcialidade escancarada em muitos
momentos da obra. O autor parece excessivamente preocupado em exaltar os
aliados (países encabeçados por Estados Unidos, Inglaterra e Canadá), assim
como execrar as nações que compuseram o eixo (Alemanha, Itália e Japão). Num
primeiro momento, isso até soa como caminho óbvio, mas com o avanço na leitura
isso incomoda porque a condução narrativa quer nos fazer engolir que nesta
guerra houve apenas dois lados: monstros asquerosos e inumanos numa extremidade,
querubins benevolentes na outra.
O jornalista Nelson Garrone afirma que não
existe imparcialidade no jornalismo, ideia que, num primeiro momento, parece ir
na contramão do que o senso comum gostaria que fosse. Primeiro porque, segundo
Garrone, é tecnicamente impossível ser imparcial pela complexidade incutida no
desenvolvimento jornalístico; também não dá pra mostrar “os dois lados” de um
escopo jornalístico porque é muito provável que não existam apenas dois, mas muitos
lados. Para Garrone, alegar de que existe apenas dois lados é um modo de
politizar o debate. Outro relato importante é o do historiador Leandro Karnal,
que compartilha dessa opinião quando alega que “neutro” é coisa de sabão de
coco; segundo ele, toda opinião tem um lado, uma origem, uma classe social e um
ponto de vista.
Martin Gilbert é de
nacionalidade britânica, elevado à condição de cavaleiro da coroa, o que
explicaria em parte seu apreço irremediável pelas forças aliadas. Também é
preciso que seja feita a seguinte observação: talvez a segunda guerra mundial
seja um exemplo de raro conflito em que não é difícil identificar os mocinhos e
os vilões. Mas é no mínimo irresponsável determinar que, num cenário de milhões
envolvidos, metade era composta por bárbaros descerebrados e a outra metade por
arautos da ética e da boa conduta (sim, o nazismo foi uma política bizarra e
condenável. Mas isso não fundamenta a ideia de que todo o povo alemão era
genocida. Muito menos que os soldados no front eram compostos por animais
sanguinários).
Há instantes em que fica
explicitado a “passada de pano” que o historiador deu perante a conduta dos
exércitos aliados, como quando ele tenta justificar como legítimo os
bombardeiros que devastaram a cidade alemã de Dresden e a capital japonesa,
Tokio. Martin Gilbert também faz uma narrativa um tanto imprecisa ao
alegar a necessidade de uso das duas bombas atômicas, despejadas pelo exército
americano em Hiroshima e Nagasaki; uma atitude claramente genocida, mas que no
livro é descrita como necessária.
Há aqui um sentimento de
superioridade por parte dos exércitos aliados, algo que também pode ser
encontrado em vários momentos da leitura, e incomoda bastante. Um exemplo é o
exposto diário do presidente americano Harry Truman, onde fica claro o
sentimento de superioridade e arrogância dos americanos:
“... A arma (referindo-se à
bomba atômica) deverá ser usada contra o Japão entre a presente data de 10 de
agosto, contra objetivos militares, soldados e marinheiros, não contra mulheres
e crianças. Ainda que os japoneses sejam selvagens, impiedosos, implacáveis e
fanáticos, nós, como promotores do bem-estar comum da humanidade, não podemos
lançar essa bomba terrível contra a antiga capital nem contra a nova”.
As duas bombas mataram mais de
duzentas mil pessoas.
A parte estética está bem servida. O livro conta com fotos de alguns eventos curiosos ou fundamentais, também há mapas geográficos, cujo intento é delimitar as reviravoltas demarcadas por regiões ao longo do conflito.
A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL é um livro que considero de entrada, faz menções de data importantes sem se aprofundar muito. Talvez seja interessante sua leitura fazendo uso da análise em outras fontes, quando forem citadas na obra. Há eloquência admiração pelo lado dos aliados e total desprezo pelas nações do eixo, mas como disse Nelson Garrone: “todo jornalismo é parcial...”, leitura fácil e ágil. Recomendado aos iniciantes.
NOTA: 6