Mais um trabalho cuja essência é a psicoterapia, temperada com elementos filosóficos, o que causa certa contradição, afinal, as obras deste escritor costumam trazer nomes de grandes filósofos em seu título. Deveria ser filosofia, com pitadas de psicologia, mas isso não é nenhum problema, apenas uma constatação. Os textos de Irwin D. Yalom geralmente usam como fontes pensadores que se debruçaram sobre a complexidade humana diante da vida..., ou seja, a psicologia sempre bebeu da fonte da filosofia. Para quem gosta, o autor segue fiel a sua literatura que, embora me agrade bastante, não deve causar o mesmo efeito em muita gente. O estilo de Yalom é meio parado, pouca coisa acontece fora das sessões de terapia, e às vezes paira a sensação de que a história não sai do lugar..., e talvez não saia mesmo.
Aqui acompanhamos o psiquiatra
Julius Hertzfeld, que após receber o diagnóstico de um melanoma e a breve
perspectiva de vida, resolve repensar sua trajetória profissional. E tal
reflexão traz de volta a lembrança de Philip Slate, antigo paciente e rara
estatística de fracasso de sua carreira. Julius resolve procurar o ex-paciente
e então descobre que o mesmo conseguira se curar dos próprios problemas
seguindo os ensinamentos do filósofo Arthur Schopenhauer. Mesmo assim, o
psiquiatra convence Philip a participar de seu atual grupo de terapia, então
temos o cenário de praticamente toda a obra.
Sim, leitor, o livro é
basicamente sessões e mais sessões de terapia de grupo, condição que mais
incomoda alguns leitores desavisados que se dispuseram a ler este livro de
Yalom. Se você gosta desse tipo de cenário: pessoas refletindo sobre suas
existências, trocando confissões, acusações, embates acalorados ou não, alguns discernimentos
filosóficos e outros nem tanto, esse é o livro para você. Do contrário, nem
tente, pois praticamente mais nada de relevante acontece.
Não por acaso, o autor é um
homem do universo da psiquiatria, logo, este é o seu cenário predileto (tem
mais resenhas dele aqui no blog). O escopo não é produzir romances lineares,
mas mostrar-nos as articulações e entraves que permeiam as terapias, no caso
aqui, a terapia de grupo. É um estilo peculiar, mas particularmente me agrada,
principalmente porque eu jamais fiz terapia. É elucidativo ver como funcionam
este lugar onde se pretende tratar as mazelas da mente humana.
Outro ponto positivo, talvez o
que de melhor vamos encontrar aqui, é que os capítulos se dividem entre sessões
de terapia de grupo com um pouco da vida e trabalho do filósofo que intitula a
obra. Confesso que passei a sentir vontade de conhecer melhor a literatura de
Schopenhauer, de fato, um filósofo genial.
Há instantes meio desconexos,
talvez uma tentativa do autor em sair dos capítulos de sequências de terapias,
o que não agrada muito. Os personagens também são pouco explorados, basicamente
ficamos sabendo apenas aquilo que eles falam durante as sessões, o que pode ser
proposital. Julius é um personagem que agrada por sua experiência e abertura
reflexiva, enquanto Philip o considerei enfadonho e superestimado, houve uma
tentativa de fazer dele um personagem erudito, portanto, há instantes em que a
narrativa parece forçar a barra.
A CURA DE SCHOPENHAUER não é um livro para qualquer leitor. Talvez agrade aos amantes de psicologia, afinal, pouco dá pra se falar da obra fora deste escopo. Os diálogos costumam ser o que de melhor acontece e tendo Schopenhauer como pano de fundo, tornou a experiência ainda mais agradável.
NOTA: 7,3