É difícil elaborar uma resenha minimamente decente de qualquer uma das obras de George Orwell, primeiro porque a enormidade do escritor já causa intimidação imediata. Outro entrave é que sabemos que gente muito boa já esmiuçou a literatura do cara; intelectuais altamente sensíveis souberam analisar seus textos com profundidade. O que um bosta, feito eu, pensa que está fazendo com essa meia dúzia de parágrafos rasos?
Eu tenho explicação: é que
tudo o que escrevo aqui no blog, tem mais serventia para mim mesmo do que a qualquer
outra pessoa. Minhas resenhas não possuem a pretensão de mapear um trabalho
literário, mas registrar algumas de minhas impressões à cerca da leitura, que após
alguns anos, certamente não me lembrarei..., sim, eu costumo retornar para as
resenhas quando me esqueço do que senti ao ler determinado livro. E como
releituras são incomuns em minha rotina (porque eu tenho muita coisa pra ler e o
ritmo do tempo parece ter perdido o freio), ler minhas resenhas costuma
resgatar alguns insights da obra.
George Orwell é
detentor de um elemento que só fui descobrir nesta segunda incursão que fiz em
seu universo: o cara é genial pela simplicidade com que se expressa. Partidário
da escrita rudimentar, Orwell é especialista em linguagem acessível, coisa que ele
defende num dos capítulos destes ensaios, o que o torna sublime é o grande
pecado da maioria dos grandes intelectuais: a singeleza.
Os textos aqui reunidos
impressionam pela crueza e atualidade. O autor tece um estilo incomum de
intelectualidade honesta que agrada demais e faz parecer que a coisa foi
desenvolvida para algum tabloide contemporâneo, e que Orwell está por aí,
destilando suas críticas sobre o mundo de hoje (é fabuloso verificar o quanto
suas opiniões parecem extraídas de um período ainda em curso).
COMO MORREM OS POBRES E OUTROS
ENSAIOS reúne relatos e reflexões do autor sobre vários assuntos e
impressões extraídas na prática por esse importante nome da literatura mundial.
E concorde ou não com Orwell, uma coisa precisa ser levada em consideração: o
cara vivenciou aquilo que escreveu. Foi soldado, lavrador, presidiário, morador
de rua, soldado, jornalista e, claro, escritor.
Alguns ensaios são comoventes
pelas memórias vívidas, outros entram na parcialidade política e há alguns
textos mais analíticos que exploram o desenvolvimento de literatura,
praticamente tudo relatado de modo a escapar da linguagem técnica. Aqui quase
tudo é exibido de forma íntegra e vistosa. Muitas vezes até parece uma sutil
tentativa em fazer o leitor acreditar que ele também pode desenvolver algo
digno de um verdadeiro pensador.
Suas crenças, preferências e até
mesmo seus preconceitos estão expostos aqui de maneira simplificada e
fidedigna, sem nenhum receio de dizer o que se pensa; Orwell é um homem antes
de ser escritor..., e isso está explicitamente narrado em cada parágrafo deste
livro (imagino que em toda sua obra).
“A Covardia Intelectual é o pior inimigo” é o meu capítulo favorito, talvez porque o autor discorra sobre os maneirismos da literatura, liberdade de imprensa e outros assuntos relacionados ao universo dos livros. E como não poderia ser diferente, é óbvio que um livro que se propõe a falar de diversos assuntos, acaba fazendo com que alguns temas sejam apreciados e outros nem tanto.
COMO MORREM OS POBRES E OUTROS ENSAIOS é um livro para ser relido muitas vezes (às vezes me deprimo com minhas próprias sugestões), pela atualidade do conteúdo, pela aula grátis que exibe o quanto a linguagem simples pode ser extraordinária, e claro, porque é George Orwell..., o nome no alto da página já garante o conteúdo.
NOTA: 8,3