Passeando através da vastidão
da literatura nacional, deparo-me com este agradável volume, cujo título
parafraseia um conto de Guimarães Rosa. A Menina de Cá, compilação de
contos do escritor e vencedor do prêmio Jabuti Carlos Nascimento Silva,
é uma leitura que norteia o olhar feminino.
A singularidade narrativa do
escopo feminino é intensa em quase todos os contos deste volume. Diversificados
em essência, eles agradam em proporções distintas, o autor é muito bom em
variar. Livros de contos, quando escritos por autores que detém visão multifacetada,
faz com que a experiência da leitura seja um agradável passeio pelo
imprevisível, o que pode não agradar os leitores mais conservadores e que
curtem aquele escopo narrativo característico que lhes agrade.
Eu, particularmente, gosto de
me deparar com o diferente, muito embora confesse que, inevitavelmente, isso torne
o prazer da leitura oscilante, o que não significa que o livro seja pior do que
aqueles que seguem uma única linha narrativa. No caso deste A MENINA DE CÁ,
alguns contos me fizeram desacelerar (quem conhece minhas resenhas, sabe o que
isso significa), outros perderam-me como leitor. No entanto, o conjunto da obra
aqui é um livro de contos agradável, direto e lúcido.
Dois contos valem destaque,
pois os considerei o ponto alto da coletânea: Contraponto no Samba,
curiosamente um dos poucos textos cujo o olhar em terceira pessoa, permeia o
personagem masculino, porém, segue com a força dominante proporcionada pela
presença feminina; a personagem Leila desestrutura os intentos do namorado que
arquiteta um plano para passar o feriado de carnaval longe da amada. O outro
conto é o que dá nome ao livro; A Menina de Cá é uma deliciosa leitura que faz
referência ao conto famoso de Guimarães Rosa.
Dois aspectos me incomodaram em alguns momentos: o autor segue uma narrativa que, apesar de polida, não consegue se desprender de certo viés higienizado que fez transparecer o receio de adentrar impressões mais críveis do ser humano. Outro probleminha, este menos perceptível, é que alguns contos pareciam textos fragmentados, onde algo do anterior me pareceu dar sequência ao próximo, como se eu estivesse lendo um livro que fora arrancado algumas páginas.
A MENINA DE CÁ é uma obra aprazível, de contos distintos e um autor que acertou em cheio em nos colocar perto de mulheres tão sedutoras. Derrapa um pouco na sobriedade linguística, mas isso não chega a prejudicar a leitura.
NOTA: 6,5