O escritor tcheco Franz
Kafka afirmou que “um livro tem que ser
como um machado para o mar congelado dentro de nós”. Quando reflito sobre
isso, imagino que um bom livro precisa desbravar a fronteira da ignorância;
aquecer o discernimento e expandir o saber “o mar” congelado do leitor.
É difícil pensar em como
estou me sentindo após o término da leitura desse O NEGÓCIO DOS LIVROS. O título, quando somado ao subtítulo, parece
explicitar com clareza o tema que será abordado: revelar a influência do
corporativismo sobre o que estamos lendo, universo geralmente distante da ética
e da coerência em suas relações. No entanto, terminei a leitura sem compreender
exatamente que caminho o autor quis percorrer. Ou pensando sobre as palavras de
Kafka: este livro não foi capaz de quebrar o gelo de minha ignorância sobre o
assunto.
Não estou me sentindo
enganado, propriamente, nem acho que o título fora meramente uma jogada de
marketing (o título da obra em inglês é o mesmo). Por outro lado, o conteúdo
parece não ter saciado minha fome de conhecer os bastidores do mundo editorial,
mas apenas inclinou-se levemente sobre algo que imagino que todo mundo já saiba:
igualmente a qualquer outro mercado, o negócio dos livros também foi engolido
pelo capitalismo e seu escopo singular não é outro senão o lucro.
O autor André
Schiffrin foi um respeitado editor nas décadas de sessenta e setenta, cujo
universo particular girou em torno do mercado livreiro. Logo, pensa-se que um
senhor calejado e imbuído de tanta experiência certamente possui muita história
para contar sobre os bastidores desse mercado. Cria-se a impressão de que o
cara vai fornecer luz nas trevas do cenário literário.
Mas não é exatamente isso o
que acontece. O autor começa o livro fazendo um resumo do início de sua
carreira, fala da ascensão e de como se tornou uma referência neste mercado. Em
seguida, Schiffrin nos conta sobre o surgimento e o fim da Pantheon, empresa
fundada por seu pai juntamente com alguns sócios no início da década de 1940.
Então, passeamos por esse tema entremeando nomes de figuras que passaram pela
empresa, as transformações que a solidificaram, os focos editoriais que a
tornaram referência, etc.
Depois disso, a obra se concentra
nas diversas fusões que aconteceram no mercado dos livros ao longo dos anos e
que culminaram numa hegemonia absoluta de alguns poucos empresários, onde 95%
do mercado pertencem a cinco grupos empresariais.
Os índices de cada capítulo
pareciam insignificantes demais, logo a narrativa voltava seu foco aos muitos
relatos de companhias gigantes engolindo tudo pela frente. Confesso que em
certos momentos o autor parecia até um pouco nostálgico, tamanho era a quantidade
de referências e nomes que pareciam fazer sentido unicamente a ele.
Também senti falta de uma
figura essencial neste universo dos livros: o escritor. Aqui temos praticamente
nada sobre esta peculiar personagem e sua ligação com as editoras. Há ainda um
capítulo dedicado a falar sobre censura, mas também é feito de modo
generalizado e quase não cita nomes ou traz referências.
Apesar disso, o livro é bem
escrito, não é muito longo, o que não permitiu que termos técnicos tornasse a
leitura cansativa; apontou para o perigo dos monopólios e fez um delicioso
encerramento em que o autor fala da importância desta plataforma chamada livro.
O NEGÓCIO DOS LIVROS é uma obra sobre a
experiência de um editor que um dia foi poderoso. Revela sua ascensão e queda e
dedica um capítulo exclusivo para exaltar seu novo projeto sem fins lucrativos,
o que elevou ainda mais a pessoalidade do conteúdo. Não foi exatamente uma
leitura desperdiçada, mas talvez faltou um pouco mais de coragem por parte do
autor em revelar os reais entraves desse universo, conforme sua experiência. Ou
quem sabe, um pouco mais de teor investigativo que nos ajudasse a vislumbrar
este mercado cada vez mais ambicioso, sem um ponto de vista tão genérico e simplista.
NOTA: 5,6