Ser prolixo na literatura é ser
detentor de um aspecto que carece de muito mais eficiência do que seu oposto,
ou seja, um escritor sucinto. E embora a capacidade de desenvolver uma ideia em
poucas palavras seja virtude notável, criar textos longos requer a habilidade
de ir além da mera narrativa situacional... Exige profundidade reflexiva.
O método da escritora
norte-americana Cynthia Ozick é o
que podemos chamar de abundância textual. Porém, como acabei de mencionar, o
excesso precisa de prudência incessante para não permitir que a narrativa se
torne cansativa.
VAGALUMES
& PARASITAS é um parcial exemplo desse problema; uma
obra decente e bem escrita, mas que perde a chance de ser excepcional por conta
do seu excessivo tamanho. Atravessar suas quatrocentas e cinquenta páginas não
é tarefa das mais simples. Não pelo tamanho propriamente, a extensão não é
sinônimo de fiasco. Mas porque há instantes enfadonhos que suscitam o desgaste
no leitor.
A trama, ambientada na
década de 30, é narrada em primeira pessoa, onde acompanhamos o olhar atento de
Rose Meadows, uma jovem órfã que anseia por se esquecer de seu pai
problemático. Após uma breve temporada vivendo com um primo, ela é contratada
para trabalhar na casa de uma inusitada família de alemães que fugiram do
caldeirão prestes a explodir que era a Europa desse período. E ao se instalar
no interior da família Mitwisser descobrimos através da narrativa meticulosa de
Rose o aglomerado de pessoas deslocadas e confusas que agora ela precisa
dividir o mesmo teto.
Os aspectos de cada uma das
personagens remetem-nos ao estranhamento de pessoas que não sabem como viver
num lugar diferente. O Novo Mundo desconcerta a todos e isso logo nos é
evidenciado. Rose precisa ser resiliente para sobreviver aos membros da família
que estão desconexos e impotentes. A estrangeirice dessas pessoas é um desafio
imenso para ela, que analisa o cotidiano como se fosse uma vigia incansável dos
Mitwisser, quase como se ela própria não fizesse parte da história... Eis o
lado excessivo da autora.
Num primeiro momento, a meticulosidade
prosaica de Rose agrada e ajuda a criar empatia no leitor. Porém, após algumas centenas de páginas, isso
começa a ficar entediante porque só o que a personagem faz é narrar. Raramente ela
expressa alguma emoção ou discernimento sobre o que vê. Há momentos em que é
até fácil se esquecer de que a narradora é parte da trama.
Porém, quando começava a surgir
em mim vontade de abandonar a leitura, eis que uma das personagens, que havia
ficado pra trás, reaparece na história e vi meu minguado ânimo se renovar. Esse
ressurgimento foi a salvação do que eu estava prevendo como um final chato e
fastidioso por vir. E além de o ato final ter sido completamente diferente do
que pairava em minha intuição, devo dizer que o melhor do livro esteve guardado
para os últimos capítulos. Houve então enfrentamentos instigantes, diálogos
inteligentes e reviravoltas convincentes. Fiquei com a impressão de que Cynthia Ozick se acovardou um pouco e
preferiu concluir sem nenhuma ousadia. Contudo, a autora não usou o caminho
mais simples e o livro terminou de modo decente e inesperado.
VAGALUMES & PARASITAS é um livro para quem
gosta de narrativas alongadas e minuciosas, sem nenhuma imersão. Usa uma
linguagem simples que agrada, possui personagens curiosos, mas se estende de
forma excessiva. Teria sido uma obra genial se cortasse ao menos um terço de
sua desafiante jornada até a deleitável conclusão.
NOTA: 6,1
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