segunda-feira, 16 de março de 2020

RESENHA DE LIVRO – VAGALUMES & PARASITAS


Ser prolixo na literatura é ser detentor de um aspecto que carece de muito mais eficiência do que seu oposto, ou seja, um escritor sucinto. E embora a capacidade de desenvolver uma ideia em poucas palavras seja virtude notável, criar textos longos requer a habilidade de ir além da mera narrativa situacional... Exige profundidade reflexiva.

O método da escritora norte-americana Cynthia Ozick é o que podemos chamar de abundância textual. Porém, como acabei de mencionar, o excesso precisa de prudência incessante para não permitir que a narrativa se torne cansativa.

VAGALUMES & PARASITAS é um parcial exemplo desse problema; uma obra decente e bem escrita, mas que perde a chance de ser excepcional por conta do seu excessivo tamanho. Atravessar suas quatrocentas e cinquenta páginas não é tarefa das mais simples. Não pelo tamanho propriamente, a extensão não é sinônimo de fiasco. Mas porque há instantes enfadonhos que suscitam o desgaste no leitor.

A trama, ambientada na década de 30, é narrada em primeira pessoa, onde acompanhamos o olhar atento de Rose Meadows, uma jovem órfã que anseia por se esquecer de seu pai problemático. Após uma breve temporada vivendo com um primo, ela é contratada para trabalhar na casa de uma inusitada família de alemães que fugiram do caldeirão prestes a explodir que era a Europa desse período. E ao se instalar no interior da família Mitwisser descobrimos através da narrativa meticulosa de Rose o aglomerado de pessoas deslocadas e confusas que agora ela precisa dividir o mesmo teto.

Os aspectos de cada uma das personagens remetem-nos ao estranhamento de pessoas que não sabem como viver num lugar diferente. O Novo Mundo desconcerta a todos e isso logo nos é evidenciado. Rose precisa ser resiliente para sobreviver aos membros da família que estão desconexos e impotentes. A estrangeirice dessas pessoas é um desafio imenso para ela, que analisa o cotidiano como se fosse uma vigia incansável dos Mitwisser, quase como se ela própria não fizesse parte da história... Eis o lado excessivo da autora.

Num primeiro momento, a meticulosidade prosaica de Rose agrada e ajuda a criar empatia no leitor. Porém, após algumas centenas de páginas, isso começa a ficar entediante porque só o que a personagem faz é narrar. Raramente ela expressa alguma emoção ou discernimento sobre o que vê. Há momentos em que é até fácil se esquecer de que a narradora é parte da trama.

Porém, quando começava a surgir em mim vontade de abandonar a leitura, eis que uma das personagens, que havia ficado pra trás, reaparece na história e vi meu minguado ânimo se renovar. Esse ressurgimento foi a salvação do que eu estava prevendo como um final chato e fastidioso por vir. E além de o ato final ter sido completamente diferente do que pairava em minha intuição, devo dizer que o melhor do livro esteve guardado para os últimos capítulos. Houve então enfrentamentos instigantes, diálogos inteligentes e reviravoltas convincentes. Fiquei com a impressão de que Cynthia Ozick se acovardou um pouco e preferiu concluir sem nenhuma ousadia. Contudo, a autora não usou o caminho mais simples e o livro terminou de modo decente e inesperado.

VAGALUMES & PARASITAS é um livro para quem gosta de narrativas alongadas e minuciosas, sem nenhuma imersão. Usa uma linguagem simples que agrada, possui personagens curiosos, mas se estende de forma excessiva. Teria sido uma obra genial se cortasse ao menos um terço de sua desafiante jornada até a deleitável conclusão.

NOTA: 6,1

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