Primeiro trabalho que li da
escritora Fernanda Young e não, eu não resolvi conhecer a autora após ser
atraído pelos noticiários de sua morte. O fato é que já havia lido alguns
textos dela em sites, assim como apreciei algumas de suas colocações, um tanto
destemidas, que ela dava em entrevistas. Há anos sustentava curiosidade em vasculhar
a literatura da Fernanda, mas devido a tantos outros autores que também anseio
conhecer, acabava deixando a moça em segundo plano. Pois minha chance veio
quando adquiri este TUDO QUE VOCÊ NÃO SOUBE, o qual eu não sei se foi a
melhor porta de entrada para o universo da autora, mas o retirei da prateleira,
seduzido que fiquei pelo título sugestivo.
Que me perdoem os amantes
dessa obra e de sua criadora, mas aviso, de antemão, para que relevem esta
resenha, pois não gostei do livro e vou tentar analisar da forma mais imparcial
possível.
Aqui não há nada surpreendente
no enredo: mulher de meia idade, cuja poeira do passado conturbado parece não
ter baixado, pelo menos dentro de sua mente, resolve contar sua história para o
pai moribundo. A personagem narra tudo aquilo que o genitor, aparentemente, não
sabia, ou é apenas isso que ela ameaça invocar o tempo inteiro... E se ao longo
do relato houve algo incrivelmente confessional, sinceramente esta informação
me passou despercebida.
A narrativa em primeira pessoa
é fundamento de pessoalidade, o que na boca de uma personagem complexa, cuja
análise de si é dotada de noção perspicaz sobre a própria existência, certamente
nos convida a uma leitura inesquecível, como bem souberam fazer autores como
Clarice Lispector, Hermann Hesse, Herta Muller e Dulce Maria Cardoso. Contudo,
aqui estamos diante do relato de uma mulher ressentida, que embora se descreva
como alguém experiente e que aprendeu muito sobre a vida, trata-se de mera
autoafirmação; seu colóquio soa como o de uma adolescente desagradável que considera
o mundo um lugar horrível porque o todinho que recebia todas as manhãs, um dia
estava frio: a personagem é superficial e previsível, dá muitas voltas e não
sai do mesmo lugar; um rancor inesgotável por razões questionáveis, (sem fazer
julgamentos sobre as motivações da mesma), a coisa toda parece rasa demais.
O único elemento que me fazia
seguir com o livro aberto, era o interesse em desvendar o que sugere o título
da obra, ou seja, tudo o que o pai da protagonista não soube. E como já
mencionei: ou as grandes revelações escaparam de minha compreensão, ou são elas,
de fato, banais ao limite do risível.
O livro também está infestado
de sacadas clichês, expressões popularescas e frases prontas, as quais talvez
até funcionassem caso a personagem possuísse alma; é por conta dos relatos de
alguém que parece viver inconformismos descabidos que tais citações triviais, frequentes
na vida cotidiana, tornam-se desinteressantes e desprovidas de substância; não
importa se uma frase é clichê, na boca de um personagem complexo, a coisa ganha
um lugar de reflexão em nossas mentes.
Juro que me esforcei para entender a protagonista. Porém, quando se está diante de explanação tão infestada de rancor, é difícil conferir credibilidade à narrativa. Por exemplo, quando a personagem anuncia que não vai fazer algo, é precisamente o que ela faz (inconstância é um elemento ótimo, mas não pareceu ser o caso aqui); quando ela garante não ter determinada personalidade, é exatamente como se comporta; cita aspectos de erudição do modo mais tolo e vil possível. Traços de sociopatia? Poderia até ser, mas a condução é recheada de sentimentalismo barato, tornando nossas hipóteses improváveis; a narradora demonstra sua superação existencial por meio de conquistas sociais ou materiais. Senti-me como se estivesse diante de uma garota emburrada porque a vida não foi como ela queria que fosse... Não, definitivamente a personagem aqui não é detentora de alguma disfunção cerebral (isso talvez até elevasse o potencial narrativo), na verdade ela é apenas uma chata mesmo!
TUDO O QUE VOCÊ NÃO SOUBE é um livro cujo enredo não apresenta nada, que dá voltas ininterruptas sem sair do lugar e tem uma protagonista que quase me causou náuseas. Não tive ideia do escopo da obra ou o que ela quis me contar. Igualmente ao pai da personagem, eu continuo a desconhecer tudo o que ela alega que ele não sabe..., contudo, como literatura de entretenimento pode até funcionar, desde que você tenha idade semelhante ao discernimento da protagonista: algo em torno de dez anos.
NOTA: 3,3