A primeira coisa que
encontrei pela internet sobre o livro de estreia de um autor americano chamado Joshua Ferris foram comentários
apontando para a tonalidade cômica de sua obra (inclusive nas notas de críticos
inseridas na contracapa do livro).
Contudo, isso foi o que
menos encontrei ao ler este decente E
NÓS CHEGAMOS AO FIM. Deleitei-me com bons diálogos criados por um escritor
promissor e acompanhei um universo de trabalho bem construído no sentido de
retratar situações reais, como as constantes intrigas e fofocas que acontecem
no meio proletário; o dia-a-dia cheio de frivolidades e falta do que fazer; o terror
imaginário que paira na mente de todos sobre a chefia; o medo possível e real
da eminente demissão. Mas as situações engraçadas passaram longe, pelo menos de
minha leitura. Talvez pelo fato de se tratar de obra que aborda tão espinhosa e
atual problemática: a queda de corporações capitalistas e as inevitáveis
consequências que caem sobre seus empregados (um modo menos ardiloso de
mencionar o tema: demissões).
E o enredo é apenas isso. O
livro é narrado em primeira pessoa e o personagem relata tudo usando sempre o
pronome pessoal “nós” para contar a história. Mas estranhamente ele parece se
comportar como um mero documentarista; alguém que acompanha tudo de perto, está
em todos os lugares, mas jamais toma algum partido, age ou fornece opiniões.
Isso pode até incomodar um pouco, mas não chega a prejudicar a trama.
Incomodou-me bem mais os
inúmeros personagens que são jogados logo de cara, dificultando na
familiaridade ou quando precisamos nos lembrar de quem era esse ou aquele indivíduo.
O ponto alto fica por conta
da narrativa. E NÓS CHEGAMOS AO FIM
é um livro bem escrito, de sacadas dialogais bem elaboradas e apesar da
quantidade de personagens exagerado, alguns deles possuem características bem
atraentes; o capítulo dedicado à chefa da agência de publicidade Lynn Mason é o
meu favorito. Primeiramente acompanhamos basicamente apenas os rumores sobre
ela, oriundos de suposições dos funcionários; comentários sempre cautelosos,
cheios de medo e receio. Mas quando temos a chance de ver a moça um pouco mais
de perto, o autor nos faz tatear seu lado mais congênito; sua simplicidade, sua
fragilidade e sua ternura.
O ambiente de trabalho
também foi um ótimo tema porque geralmente estes lugares são ricos em abrigar
sujeitos tipicamente exóticos e distintos, o que talvez até colaborasse para
arrancar algumas risadas frente às situações bizarras, confissões absurdas e
especulações das mais inusitadas... Mas como eu disse: não achei um livro muito
engraçado, embora conseguisse reconhecer aspectos cômicos da leitura.