segunda-feira, 13 de novembro de 2017

RESENHA DE LIVRO – CASÓRIO


Quando iniciei a leitura deste CASÓRIO, outra divertida obra de uma autora que aprendi a gostar por conta de sua narrativa humorística, eu imaginei que Marian Keyes houvesse perdido o fôlego. No entanto, logo descobri que o livro aqui resenhado foi a segunda obra escrita pela autora irlandesa (o livro é de 1996, mas só foi lançado no Brasil em 2005).

Tal informação era indício de que a verdade era precisamente o contrário de minha suspeita: Marian Keyes não estava perdendo o fôlego. Estava, de fato, ganhando-o.

De qualquer forma, o decorrer da leitura me fez perceber que eu estava duplamente enganado. Não havia nada de errado com a criatividade cômica da autora. O que acontece é que a leitura de CASÓRIO demora pra divertir e agradar.

As primeiras dezenas de páginas me pareceram um tanto repetitivas. Eu que sou leitor dos livros de Marian Keyes há muitos anos, tive essa impressão. Era como se eu estivesse lendo um aglomerado de outros pedacinhos dos livros dela; uma mescla de suas demais obras. Os personagens também não ajudavam muito a compor uma distinção; desde a neurótica Lucy até os perfis coadjuvantes, tudo aqui parecia ser mais do mesmo.

Mas como eu disse: o problema é que CASÓRIO demora muito pra funcionar como comédia (passei a preferenciar esta definição, pois chamar o estilo literário de Marian Keyes simplesmente de chick-lit soa um tanto preconceituoso). Eu cheguei a pensar que o fato de não ter achado nenhuma graça, mesmo após ter lido um terço da obra, fez com que voltasse a crescer a suspeita de que estou me tornando um leitor ranzinza.

Por sorte o livro demora, mas não decepciona. E embora o enredo seja, de fato, banal e previsível, CASÓRIO é uma comédia simpática e jocosa, que me fez dar boas risadas.

 A trama não foge do universo da autora: moça em início de sua fase adulta, que divide um apartamento em Londres com outras duas jovens. No meio de neuras e inconstâncias, Lucy vai com algumas amigas do trabalho a uma cartomante que prevê um vindouro casamento na vida da moça. O problema é que ela não tem namorado, e muito menos perspectivas de arranjar um, já que sua natureza submissa e insegura a mantém afastada de bons partidos.

A personagem principal, que é também narradora de sua própria trajetória, é mesmo uma chata. Muitas vezes beirando o insuportável. Uma mulher teimosa, de raciocínio lento e indulgente frente às mazelas de sua vida, cuja autocomiseração nos faz ter náuseas. E embora este seja praticamente o perfil padrão das personagens de Marian Keyes, creio que Lucy acaba sendo, de longe, a protagonista mais intragável já criada pela autora.

Contudo, creio que até mesmo isso se deve a um talento genuíno de Marian em despertar inúmeras emoções no leitor. Porque embora as histerias de Lucy incomodem bastante, é inevitável não nos pegarmos torcendo por ela no decorrer da trama.

CASÓRIO terminou de modo a confirmar todas as apostas que fiz sobre o desenrolar da história, fazendo com que a previsibilidade também se confirme como insígnia dessa autora. Mas as piadas hilárias estão lá, pelo menos da metade em diante. E talvez esta seja a primeira obra que valide o que muita gente diz sobre a literatura de Marian Keyes: uma história que funciona, mas que poderia facilmente ter sido contada em menos da metade de suas longínquas 644 páginas.

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