Quando iniciei a leitura
deste CASÓRIO, outra divertida obra
de uma autora que aprendi a gostar por conta de sua narrativa humorística, eu imaginei
que Marian Keyes houvesse perdido o fôlego. No entanto, logo descobri que o
livro aqui resenhado foi a segunda obra escrita pela autora irlandesa (o livro
é de 1996, mas só foi lançado no Brasil em 2005).
Tal informação era indício
de que a verdade era precisamente o contrário de minha suspeita: Marian Keyes
não estava perdendo o fôlego. Estava, de fato, ganhando-o.
De qualquer forma, o
decorrer da leitura me fez perceber que eu estava duplamente enganado. Não
havia nada de errado com a criatividade cômica da autora. O que acontece é que
a leitura de CASÓRIO demora pra
divertir e agradar.
As primeiras dezenas de
páginas me pareceram um tanto repetitivas. Eu que sou leitor dos livros de
Marian Keyes há muitos anos, tive essa impressão. Era como se eu estivesse
lendo um aglomerado de outros pedacinhos dos livros dela; uma mescla de suas demais
obras. Os personagens também não ajudavam muito a compor uma distinção; desde a
neurótica Lucy até os perfis coadjuvantes, tudo aqui parecia ser mais do mesmo.
Mas como eu disse: o
problema é que CASÓRIO demora muito
pra funcionar como comédia (passei a preferenciar esta definição, pois chamar o
estilo literário de Marian Keyes simplesmente de chick-lit soa um tanto
preconceituoso). Eu cheguei a pensar que o fato de não ter achado nenhuma graça,
mesmo após ter lido um terço da obra, fez com que voltasse a crescer a suspeita
de que estou me tornando um leitor ranzinza.
Por sorte o livro demora,
mas não decepciona. E embora o enredo seja, de fato, banal e previsível, CASÓRIO é uma comédia simpática e
jocosa, que me fez dar boas risadas.
A trama não foge do universo da autora: moça
em início de sua fase adulta, que divide um apartamento em Londres com outras
duas jovens. No meio de neuras e inconstâncias, Lucy vai com algumas amigas do
trabalho a uma cartomante que prevê um vindouro casamento na vida da moça. O
problema é que ela não tem namorado, e muito menos perspectivas de arranjar um,
já que sua natureza submissa e insegura a mantém afastada de bons partidos.
A personagem principal, que é
também narradora de sua própria trajetória, é mesmo uma chata. Muitas vezes
beirando o insuportável. Uma mulher teimosa, de raciocínio lento e indulgente
frente às mazelas de sua vida, cuja autocomiseração nos faz ter náuseas. E
embora este seja praticamente o perfil padrão das personagens de Marian Keyes,
creio que Lucy acaba sendo, de longe, a protagonista mais intragável já criada
pela autora.
Contudo, creio que até mesmo
isso se deve a um talento genuíno de Marian em despertar inúmeras emoções no
leitor. Porque embora as histerias de Lucy incomodem bastante, é inevitável não
nos pegarmos torcendo por ela no decorrer da trama.
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