Foi no dia 28 de maio minha última postagem aqui no blog. E embora isso não pareça tanto tempo, esse foi o maior período em que fiquei sem postar nada.
Foi uma fase difícil? Bom,
estamos no meio de uma pandemia o que já torna válida essa hipótese. Mas também
estou em tempos de muito trabalho em casa e fora, de transformações estruturais
as quais interferiram na vida literária de um modo geral. E interferir significa
interromper mesmo. A única coisa que tentei manter sempre em dia foi a leitura.
Tratou-se de uma pausa
necessária, eu fiz escolhas, precisava ajudar na recomposição do lar, minha
esposa careceu de mim e tentei ser menos escritor e mais um alicerce com o qual
ela pudesse contar nessa hora difícil. Claro, a pandemia também colaborou muito
elevando o tédio e o desinteresse em produzir..., mas isso não conta como
explicação.
Mas enfim, explicação para o
que?
Não é a primeira vez em que
entraves ocorrem, e infelizmente não será a última. Porém, ao longo desses dez
anos de existência do blog eu sempre tentei manter ao menos uma ou duas
postagens por mês. Jamais havia ficado mais de trinta dias sem postar nada.
Medida de tempo não é
comparado ao período, propriamente, porque isso não significa nada, mas a
alienação daquilo que era importante quando estabeleci que iria parar de
escrever em espaços de internet dedicados a escritores amadores, e focaria meu
trabalho em espaço autônomo no qual visitaria quem se interessasse pelo
conteúdo, em vez de gente buscando seduzir por meio de visitas vazias, situação
que ocorre a todo instante em redes sociais feitas para escritores.
Meu blog sempre foi como um
alívio pessoal; um lugar só meu em que posso expressar minhas opiniões nem um
pouco técnicas e transgressoras para além de minha precária capacidade de
análise literária. Aqui eu relato os meus achismos levianos, o que senti
enquanto lia, as particularidades nem um pouco versadas sobre as impressões que
tive de alguma leitura recente. Tanto é assim, que há muito não resenho livros
que não despertaram a vontade de falar dele. No começo desse espaço, algumas
resenhas foram contempladas pela mera vaidade em mostrar para os visitantes que
eu era leitor de valores intelectuais consagrados. Hoje consegui me livrar
dessa futilidade neurótica; resenho somente aquilo que sinto vontade de relatar.
O Dimensão Reluzente se tornou
um espaço de independência; maior liberdade do que essa é difícil existir, de
ser autônomo das amarras externas e também internas. No meu cantinho posso ser
ousado ou tímido; posso ser prolixo ou sucinto; posso ser cordato ou ranzinza...,
aqui no meu blog eu posso ser.
Então eu reitero a pergunta: toda
essa explicação é para que? Permita-me, uma vez mais, ser esse falso profundo e
falar sobre a escrita.
Foi Rainer Maria Rilke quem
disse que “se fomos capazes de viver sem escrever, é melhor que o façamos”.
Entendo que ele estava se referindo à uma necessidade inerente de se produzir conteúdo
escrito; escrever para algumas pessoas é uma necessidade de externar-se;
colocar no papel (tela) sentimentos, impressões, rancores, amores, mágoas,
solidões... E apesar de que algumas vezes me sinto assim, ansioso de vontade de
ligar o notebook e abrir o editor de texto, isso não me ocorre o tempo inteiro.
Mas compreendo Rilke e sei que a vida seria menos agradável se por algum motivo
eu não pudesse mais escrever.
No entanto, acho que vai muito
além disso. Talvez num mundo capitalista onde só existe espaço para competição,
a escrita seja o único espaço onde posso deixar de ser coadjuvante e me tornar
o diretor; abandonar o lugar de criatura para assumir o lugar de criador. Aqui
eu vou em busca de lugares impossíveis que jamais serão alcançados, mesmo
assim, continuar buscando. Sensação de liberdade maior eu desconheço.
E não tem nada a ver com ser
lido. Porque não funciona assim. Quem escreve esperando retorno de um público
específico, anda de mãos dadas com a mediocridade. Isso não quer dizer que
escrever de modo despretensioso seja garantidor de um texto acabado enxuto e
belo..., não! Também seria hipocrisia de minha parte afirmar que não me importo,
que receber o reconhecimento por algo escrito seja desprezível. Mas o grande
trabalho não nasce da necessidade de retorno externo, e sim da manifestação de
uma subjetividade intrínseca; a expressão da sensibilidade do autor, que é diferente
em cada um e invariável em sua essência de querer ser eterna.
A literatura é a arte de
produzir eternamente por meio de versos e prosas; um polimento que não tem fim,
mas que com o tempo e a prática, torna-se cada vez mais reluzente.
Enfim, essa é a justificativa para mim mesmo. E se você leu este texto até aqui, acabou de se deparar com um pedacinho do meu inferno, a minha angústia infinita. Escrevo para não ser lido, mas gostaria de ser. Não mereço o tempo de leitura de ninguém, mas adoraria ser causa de seu tempo gasto. Não quero a glória, mas se ela vier como consequência vai ser demais! De tempos em tempos continuarei aparecendo e sumindo, a vida é mesmo uma senoide doida..., e é por isso que nos apegamos tanto a ela.
Sim, senhor Rilke, eu consigo viver sem escrever. Mas esse negócio é tão legal, que não da vontade de parar. E vez ou outra a gente para, só para sentir novamente aquele gostinho adocicado da vontade se acumulando dentro de nós.
É uma excelente justificativa para si mesmo. Eu diária bom dia e sem mais para o momento.
ResponderExcluirSó a explicação já foi uma leitura incrível
Não encontro palavras para definir seu trabalho e dizer que você é um escritor esplêndido ainda seria pouco.
Lisonjeado com seu manifesto... Obrigado pelo carinho, e obrigado por acompanhar o blog!!
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