Diante da impossibilidade e
receio de esmiuçar a história, eis a breve trama: Num ato de total
precipitação, um homem se olha no espelho demoradamente, não sabendo exatamente
o que está procurando em seu rosto. Então, ele resolve romper com o enfado
cotidiano raspando o bigode.
Sim, querido leitor, a sinopse
é apenas isso. Mas embora soe simplório, esse ato isolado é suficiente para
mergulhar o leitor numa intrigante rede psicológica que parece zombar de nossa
sanidade ou simplesmente nos causa aquela estranheza de achar que não prestamos
atenção em algum ponto específico da leitura.
O personagem quer se libertar,
talvez de seu tédio, e o gesto de tirar um bigode parece uma ideia inesperada,
porém, aprazível. No entanto, ninguém parece notar o feito; as pessoas mais
próximas se comportam como se a tal transformação, ocorrida no banheiro, não
houvesse acontecido. Vale, inclusive para a esposa, figura central na trama,
que não percebe o rosto desnudo do marido e, portanto, sua figura será elemento
de desconfiança por toda a trama.
Acho que já deu por
informação, não quero estragar a leitura de ninguém. E claro que compreendo se
você que está lendo esta resenha ainda não despertou nenhum interesse em ler
esta obra. Pois você tem toda razão, afinal, não é pela trama que você se
sentirá instigado a ler, mas pelo estranhamento que se manifestará em sua
mente, já no comecinho; o livro não enrola, é pequeno e vai direto ao ponto. Já
iniciamos a leitura com o protagonista no banheiro diante do espelho. O resto é
apenas uma senoide psicológica, onde tudo ora parece suspeito, ora soa
hipotético.
A leitura é leve no início,
quase despretensiosa. Mas a medida em que somos conduzidos ao estranhamento que
é constante no personagem principal, a leitura vai ganhando ares, digamos, mais
tenso, até mesmo perturbador. O autor, que eu não conhecia, o francês Emmanuel
Carrère, soube desenvolver uma narrativa que num primeiro momento parece
jocosa, mas que logo se torna insana, desconfortável, faz-nos duvidar até mesmo
de nossa leitura (como já mencionei, há momentos em que achei que tivesse
pulado algum parágrafo sem perceber).
Genial? Até certo ponto
funcionou, mas chegou um momento em que comecei a me aborrecer. Não deu tempo
de desdenhar a trama, porque como também já mencionei, o livro é curto, direto
e de leitura ligeira. Fosse um autor prolixo talvez o prazer tivesse sido
comprometido.
Outra coisa que me incomodou foi algumas ações e conduções do protagonista, mas não posso entrar em detalhes, apenas achei que ficou um pouco chatinho, Mas é apenas uma opinião estética.
O BIGODE é um livro cujo aspecto soa despretensioso, até seu título não anuncia muito. Mas é incômodo e não nos deixa parar de ler. Não chega a ser um suspense assustador, assim como não é uma comédia de humor negro, nem mesmo um terror psicológico. É um trabalho difícil de se definir, de se classificar e mais ainda, difícil de chegar a uma conclusão sobre o que de fato está acontecendo com seu protagonista..., Apesar de tudo, creio que deva ser lido para que você construa sua opinião.
NOTA: 7,1
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