domingo, 3 de outubro de 2021

RESENHA DE LIVRO – O BIGODE


Esse é um daqueles livros em que não é simples de ser resenhado, porque qualquer apontamento soa inapropriado, além de colocar em risco o mistério em torno da trama.
O BIGODE é o tipo de obra cuja leitura desperta diferentes interpretações, sem que nenhuma delas soe conclusiva.

Diante da impossibilidade e receio de esmiuçar a história, eis a breve trama: Num ato de total precipitação, um homem se olha no espelho demoradamente, não sabendo exatamente o que está procurando em seu rosto. Então, ele resolve romper com o enfado cotidiano raspando o bigode.

Sim, querido leitor, a sinopse é apenas isso. Mas embora soe simplório, esse ato isolado é suficiente para mergulhar o leitor numa intrigante rede psicológica que parece zombar de nossa sanidade ou simplesmente nos causa aquela estranheza de achar que não prestamos atenção em algum ponto específico da leitura.

O personagem quer se libertar, talvez de seu tédio, e o gesto de tirar um bigode parece uma ideia inesperada, porém, aprazível. No entanto, ninguém parece notar o feito; as pessoas mais próximas se comportam como se a tal transformação, ocorrida no banheiro, não houvesse acontecido. Vale, inclusive para a esposa, figura central na trama, que não percebe o rosto desnudo do marido e, portanto, sua figura será elemento de desconfiança por toda a trama.

Acho que já deu por informação, não quero estragar a leitura de ninguém. E claro que compreendo se você que está lendo esta resenha ainda não despertou nenhum interesse em ler esta obra. Pois você tem toda razão, afinal, não é pela trama que você se sentirá instigado a ler, mas pelo estranhamento que se manifestará em sua mente, já no comecinho; o livro não enrola, é pequeno e vai direto ao ponto. Já iniciamos a leitura com o protagonista no banheiro diante do espelho. O resto é apenas uma senoide psicológica, onde tudo ora parece suspeito, ora soa hipotético.

A leitura é leve no início, quase despretensiosa. Mas a medida em que somos conduzidos ao estranhamento que é constante no personagem principal, a leitura vai ganhando ares, digamos, mais tenso, até mesmo perturbador. O autor, que eu não conhecia, o francês Emmanuel Carrère, soube desenvolver uma narrativa que num primeiro momento parece jocosa, mas que logo se torna insana, desconfortável, faz-nos duvidar até mesmo de nossa leitura (como já mencionei, há momentos em que achei que tivesse pulado algum parágrafo sem perceber).

Genial? Até certo ponto funcionou, mas chegou um momento em que comecei a me aborrecer. Não deu tempo de desdenhar a trama, porque como também já mencionei, o livro é curto, direto e de leitura ligeira. Fosse um autor prolixo talvez o prazer tivesse sido comprometido.

Outra coisa que me incomodou foi algumas ações e conduções do protagonista, mas não posso entrar em detalhes, apenas achei que ficou um pouco chatinho, Mas é apenas uma opinião estética.

O BIGODE é um livro cujo aspecto soa despretensioso, até seu título não anuncia muito. Mas é incômodo e não nos deixa parar de ler. Não chega a ser um suspense assustador, assim como não é uma comédia de humor negro, nem mesmo um terror psicológico. É um trabalho difícil de se definir, de se classificar e mais ainda, difícil de chegar a uma conclusão sobre o que de fato está acontecendo com seu protagonista..., Apesar de tudo, creio que deva ser lido para que você construa sua opinião.

NOTA: 7,1

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