sexta-feira, 28 de junho de 2013

RESENHA DE LIVRO – O MELHOR DA SUPER (1987-2012)


Quando a primeira edição da revista Superinteressante chegou ás bancas de revistas, meu mundo ainda girava em torno de soldadinhos de plásticos, caminhões sem fundo e com rodas de arame, minha bola de futebol e os deveres da escola. Era o auge de meus sete anos de idade quando nascia uma das melhores revistas já feita por esse país.
E durante os recentes anos nos quais me tornei leitor fiel deste verdadeiro guia de conhecimento, duas questões sempre pairaram em minha mente á cerca de sua existência: Como eram os textos da revista na época de minha infância? Sim, porque naquela época conhecimento parecia ser coisa apenas para acadêmicos ou abastados. E outra questão é se ainda hoje seria possível haver conteúdo suficiente para fazer com que a revista se mantivesse assim tão interessante, mesmo após todos esses anos de publicação. Sem falar que estamos vivendo num mundo em que a internet fez com que conhecimento se tornasse acessível á qualquer curioso online.  
E eis que a primeira dúvida me foi respondida quando comecei a ler este livro, que comemora os 25 anos da famosa revista de bordas vermelhas. De fato, os textos publicados, mesmo aqueles de 1987, continuam enxutos, interessantes e numa linguagem incrivelmente acessível, mesmo quando a matéria aborda assuntos complexos como a teoria da relatividade de Einstein. Desde o início, é impressionante a enorme capacidade dos escritores e jornalistas envolvidos nas edições, em produzir textos de fácil compreensão. O conteúdo literário da revista é semelhante á um bate-papo do nosso dia-dia. O livro é um eficiente “catado” dos melhores textos da revista, desde o seu nascimento até o ano de 2012. Uma seleção de material tão bom que é difícil citar os melhores textos do livro (apenas pra não deixar de mencionar aqui, eu apreciei demais a matéria Sucesso e Fracasso, escrita por Karin Hueck).
Quanto á minha segunda dúvida, esta tem sido respondida á cada nova edição que leio. Porque a Super parece, de fato, estar sempre antenada para tudo o que possa ser interessante, inovador ou redescoberto em nosso mundo atual. E embora em alguns casos a internet venha a tentar parear com a revista, ainda assim, a Superinteressante continua mantendo sua linguagem coloquial como um dos principais atrativos que fazem com que ela permaneça sendo lida e apreciada (O defasado ensino brasileiro deveria tentar se espelhar nessa ideia, numa tentativa de modernizar a metodologia de nosso ensino).
É leitura indispensável para aqueles que querem adquirir o hábito de ler livros, e um livro obrigatório para os fãs desta esplendorosa revista, cujo conteúdo continua fazendo muito jus á seu nome.

terça-feira, 18 de junho de 2013

MATÉRIA: A GOTA QUE FALTAVA

Nunca postei nada sobre política aqui no blog. Mas hoje li uma matéria ótima e de fácil compreensão do Alexandre Versignassi (Superinteressante), que me ajudou a entender um pouco melhor as razões dos protestos que estão movimentando todo o nosso país. Tomei gentilmente emprestado o seu texto, pois este foi o conteúdo mais simplista possível que encontrei para entendermos um pouco da política monetária na qual nossos “amados” governantes estão nos submetendo. Se ao menos uma pessoa tiver lido esta matéria, já terá valido á pena o post... Boa leitura:

A GOTA QUE FALTAVA


(Por Alexandre Versignassi)


Para entender melhor o que está acontecendo na rua, imagine que você é o presidente de um um país fictício. Aí você acorda um dia e resolve construir um estádio. Uma “arena”.
O dinheiro que o seu país fictício tem na mão não dá conta da obra. Mas tudo bem. Você é o rei aqui. É só mandar imprimir uns 600 milhões de dinheiros que a arena sai.
Esses dinheiros vão para bancar os blocos de concreto e o salário dos pedreiros. Eles recebem o dinheiro novo e começam a construção. Mas também começam a gastar a grana que estão recebendo. E isso é bom: se os caras vão comprar vinho, a demanda pela bebida aumenta e os vinicultores do seu país ganham uma motivação para produzir mais bebida. Com eles plantando mais e fazendo mais vinho o PIB da sua nação fictícia cresce. Imprimir dinheiro para construir estádio às vezes pode ser uma boa mesmo.
Mas e se houver mais dinheiro no mercado do que a capacidade de os vinicultores produzirem mais vinho? Eles vão leiloar as garrafas. Não num leilão propriamente dito, mas aumentando o preço. O valor de uma garrafa de vinho não é o que ela custou para ser produzida, mas o máximo que as pessoas estão dispostas a pagar por ela. E se muita gente estiver com muito dinheiro na mão, essa disposição para gastar mais vai existir.
Agora que o preço do vinho aumentou e os vinicultores estão ganhando o dobro, o que acontece? Vamos dizer que um desses vinicultores resolve aproveitar o momento bom nos negócios e vai construir uma casa nova, lindona. E sai para comprar o material de construção.
Só tem uma coisa. Não foi só o vinicultor que ganhou mais dinheiro no seu país fictício. Foi todo mundo envolvido na construção do estádio e todo mundo que vendeu coisas para eles. Tem bastante gente na jogada com os bolsos mais cheios. E algumas dessas pessoas podem ter a idéia de ampliar as casas delas também. Natural.
Então as empresas de material de construção vão receber mais pedidos do que podem dar conta. Com vários clientes novos e sem ter como aumentar a produção do dia para a noite, o cara do material de construção vai fazer o que? Vai botar o preço lá em cima, porque não é besta.
Mas espera um pouco. Você não tinha mandado imprimir 600 milhões de dinheiros para fazer um estádio? Mas e agora, que ainda não fizeram nem metade das arquibancadas e o material de construção já ficou mais caro? Lembre-se que o concreto subiu justamente por causa do dinheiro novo que você mandou fazer.
Mas, caramba, você tem que terminar a arena. A Copa das Confederações Fictícias está logo ali… Então você dá a ordem: “Manda imprimir mais 1 bilhão e termina logo essa joça”. Nisso, os fabricantes de material e os funcionários deles saem para comprar vinho… E a remarcação de preços começa de novo. Para quem vende o material de construção, tudo continua basicamente na mesma. O vinho ficou mais caro, mas eles estão recebendo mais dinheiro direto da sua mão.
Mas para outros habitantes do seu país fictício a situação complicou. É o caso dos operários que estão levantado o estádio. O salário deles continua na mesma, mas agora eles têm de trabalhar mais horas para comprar a mesma quantidade de vinho.
O que você fez, na prática, foi roubar os peões. Ao imprimir mais moeda, você diminuiu o poder de compra dos caras. Inflação é um jeito de o governo bater as carteiras dos governados.
Foi mais ou menos o que aconteceu no mundo real. Primeiro, deixaram as impressoras de dinheiro ligadas no máximo. Só para dar uma ideia: em junho de 2010, havia R$ 124 bilhões em cédulas girando no país. Agora, são R$ 171 bilhões. Quase 40% a mais. Essa torrente de dinheiro teve vários destinatários. Um deles foram os deputados, que aumentaram o próprio salário de R$ 16.500 para de R$ 26.700 em 2010, criando um efeito cascata que estufou os contracheques de TODOS os políticos do país, já que o salário dos deputados federais baliza os dos estaduais e dos vereadores. Parece banal. E até é. Menos irrelevante, porém, foi outro recebedor dos reais novos que não paravam de sair das impressoras: o BNDES, que irrigou nossa economia com R$ 600 bilhões nos últimos 4 anos. Parte desse dinheiro se transformou em bônus de executivo. Os executivos saíram para comprar vinho… Inflação. Em palavras mais precisas, o poder de compra da maioria começou a diminuir. Foi como se algumas notas tivessem se desmaterializado das carteiras deles.
Algumas dessas carteiras, na verdade, sempre acabam mais ou menos protegidas. Quem pode mais tem mais acesso a aplicações que seguram melhor a bronca da inflação (fundos com taxas de administração baixas, CDBs que dão 100% do CDI…, depois falamos mais sobre isso). O ponto é que o pessoal dos andares de baixo é quem perde mais.
Isso deixa claro qual é o grande mal da inflação: ela aumenta a desigualdade. Não tem jeito. E esse tipo de cenário sempre foi o mais propício para revoltas. Revoltas que começam com aquela gota a mais que faz o barril transbordar. Os centavos a mais no ônibus foram essa gota.

terça-feira, 11 de junho de 2013

RESENHA DE LIVRO - SUSHI


Sinceramente não me sinto á altura de fazer uma resenha sobre os livros de Marian Keyes. Acho que por essa razão eu nunca havia me arriscado a tal proeza. Em minha opinião esta magnífica autora consegue inserir reais traços de personalidade em seus personagens como poucos o fazem. Suas histórias são recheadas de situações as quais enfrentamos no dia-dia e os personagens ás encaram exatamente como fazemos na vida real: problemas que muitas vezes são causados por falta de maturidade, e consequentemente não dispomos dessa mesma maturidade para resolvê-los.
Há alguns burburinhos que rodam pela internet á cerca de que os livros de Marian Keyes são monótonos e insossos. De fato, a linha narrativa dela é o chick-lit, o que faz com que o ritmo siga de maneira natural e sem grandes agitações. Mas eu garanto que seus livros são bem mais eficientes e interessantes do que a “novela das oito”. Uma espécie de aventura da vida real. É fácil se identificar com algumas fraquezas dos personagens, na mesma proporção em que nos apegamos rápido á alguns deles.
Considero Sushi um ótimo entretenimento porque possui três personagens principais em seu enredo, e mesmo assim a autora não comete o pecado de perder o controle sobre nenhum deles, fazendo com que o leitor se divirta ao se deparar com situações semelhantes aqueles tropeços e burradas que cometemos ao longo da vida.
A trama segue entrelaçando aos poucos a história das três personagens: Lisa é uma mulher cuja personalidade workalolic lhe custou um casamento e agora ela ambiciona o cargo de editora chefa numa revista; Clodagh é casada, mãe de dois pestinhas, e que está entediada com sua vida de dona de casa; Ashling tem baixa-estima e passa o tempo inteiro tentando a impossível missão de ser prestativa aos outros. Obviamente ainda há, em torno da vida destes, outros coadjuvantes que ajudam a manter um clima cotidiano ora engraçado, ora dramático ao enredo.
Mesmo sem grandes novidades ou um final arrebatador, Sushi não decepciona em momento algum. Leva uma linha narrativa que entretém e diverte, numa leitura fácil, simples e cheia de situações que são como espelhos de nossa confusa realidade.