quinta-feira, 26 de setembro de 2013

CRÔNICA: INESPERADA INSTROSPECÇÃO

Sentado no gramado sintético, ao lado de uma grande amiga, ouviu-se alguns acordes aleatórios de guitarra. Imediatamente quase todas as pessoas, que também descansavam pelo chão da Cidade do Rock, levantaram-se, inclusive esta amiga, todos os olhares de expectativas direcionados para o Palco Mundo. Pois eis que de forma quase despercebida, eu a puxei de volta ao seu lugar e falei:

– Calma. Não é assim que o Metallica começa seus Shows.

De fato, o que estava a se manifestar no palco, naquele exato instante, era alguns operários da equipe de produção afinando instrumentos. Ela voltou a se sentar e aguardamos pacientemente (talvez ela nem tanto), pelo início de “Ecstacy of Gold”, de Ennio Morricone; canção que se tornou marca registrada na abertura dos shows da banda. Só então nos levantamos e toda a euforia do rock teve início.

Menos a minha.

Naquele momento em que o Metallica pisou no palco, o delírio explodiu coletivamente no coração da massa roqueira. Vi uma sacolejante multidão saltar nas alturas, sob um ritmo frenético no qual James & Cia nos impôs, ao longo de quase duas horas e meia de show. Mas para minha surpresa, não consegui fazer absolutamente nada, além de cantar as músicas de maneira quase tímida e, em raras ocasiões, permiti-me alguns leves sacolejos de cabeça, talvez até desajeitados, como os de alguém que escuta o Metallica pela primeira vez.

Eu mesmo não me reconheci naquele momento.

Olhava para as luzes do palco; sentia arrepios quando ouvia o coro de mais de noventa mil pessoas cantando, juntas, as canções. Acordes que tanto quis um dia testemunhar com meus próprios olhos, braços erguidos para um céu escurecido que em alguns instantes era violado pelos holofotes hiperativos daquela edição do Rock In Rio..., os meus braços também se levantavam, às vezes, de maneira acanhada; munhequeiras em meus pulsos condiziam e me traziam a lembrança do lugar ansiado. Por perto, alguém olhou para o nome escrito em meu braço direito. Ele sorriu e acenou para mim, mostrou sua tattoo. Éramos fãs da mesma banda. Só que ele saia do chão, empolgado, completamente envolvido pela energia...

Enquanto eu era incapaz de me mover.

Nem parece que acabamos de ver o show da sua banda favorita”, comentou minha amiga, quando o espetáculo chegou ao fim. Olhava-me com seu rosto suado, porém, a expressão ainda intrigada com aquela inesperada introspecção.

Esse é o resumo da minha conduta nem um pouco previsível, durante o show que mais aguardei na vida. E a pergunta que inevitavelmente me faço desde então é: por que eu me senti tão deslocado?

Sim, eu adorei estar lá, perto dos veteranos que tocam as músicas que me acompanham desde a adolescência. Senti o termômetro da minha emoção subir a cada nota introdutória que anunciava outro clássico. Minha alma vibrou quando o coro em uníssono saiu da garganta da multidão e rasgou a noite do dia dezenove de setembro de 2013.

Mas aconteceu alguma coisa comigo, a qual ainda não sei explicar. E dizer que fiquei hipnotizado pelo espetáculo certamente soaria como uma esfarrapada retórica... Não foi isso.

A melhor explicação que tenho é não ter nenhuma resposta que esclareça minha melancolia. Estar completamente introspectivo diante do show que tanto aguardei, foi um ato inexplicável e imprevisto.

De qualquer forma, meu coração sabe que esteve lá. E aquele que foi o menos afetado pela delirante energia chamada Metallica, talvez fosse o mais apaixonado entres todos os loucos da cidade do rock... Um admirador silencioso, que intimidado por seu objeto de contemplação, só lhe restou aquiescer e escutar; satisfeito por simplesmente estar ali, feito víscera taciturna que compõe um todo pulsante... And Nothing Else Matters!

Um comentário:

  1. Meu caro e nobre amigo...gostaria de ter compartilhado este momento com você, mas tenho certeza que será algo que nunca mais esquecerá, quanto a seu sentimento...possivelmente o de realização de estar ali...ficaria assim também em qualquer show de uma banda que tenha grande admiração como você e como eu também tenho...grande abraço...

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