Sentado no gramado sintético, ao
lado de uma grande amiga, ouviu-se alguns acordes aleatórios de guitarra.
Imediatamente quase todas as pessoas, que também descansavam pelo chão da Cidade do Rock, levantaram-se, inclusive
esta amiga, todos os olhares de expectativas direcionados para o Palco Mundo. Pois eis que de forma quase
despercebida, eu a puxei de volta ao seu lugar e falei:
– Calma. Não é assim que o Metallica começa seus Shows.
De fato, o que estava a se
manifestar no palco, naquele exato instante, era alguns operários da equipe de
produção afinando instrumentos. Ela voltou a se sentar e aguardamos
pacientemente (talvez ela nem tanto), pelo início de “Ecstacy of Gold”, de Ennio Morricone;
canção que se tornou marca registrada na abertura dos shows da banda. Só então
nos levantamos e toda a euforia do rock teve início.
Menos a minha.
Naquele momento em que o Metallica pisou no palco, o delírio
explodiu coletivamente no coração da massa roqueira. Vi uma sacolejante
multidão saltar nas alturas, sob um ritmo frenético no qual James & Cia nos impôs, ao longo de
quase duas horas e meia de show. Mas para minha surpresa, não consegui fazer
absolutamente nada, além de cantar as músicas de maneira quase tímida e, em
raras ocasiões, permiti-me alguns leves sacolejos de cabeça, talvez até
desajeitados, como os de alguém que escuta o Metallica pela primeira vez.
Eu mesmo não me reconheci
naquele momento.
Olhava para as luzes do palco;
sentia arrepios quando ouvia o coro de mais de noventa mil pessoas cantando,
juntas, as canções. Acordes que tanto quis um dia testemunhar com meus próprios
olhos, braços erguidos para um céu escurecido que em alguns instantes era
violado pelos holofotes hiperativos daquela edição do Rock In Rio..., os meus braços também se levantavam, às vezes, de
maneira acanhada; munhequeiras em meus
pulsos condiziam e me traziam a lembrança do lugar ansiado. Por perto, alguém
olhou para o nome escrito em meu braço direito. Ele sorriu e acenou para mim, mostrou
sua tattoo. Éramos fãs da mesma banda. Só que ele saia do chão, empolgado,
completamente envolvido pela energia...
Enquanto eu era incapaz de me
mover.
“Nem parece que acabamos de ver o show da sua banda favorita”, comentou minha amiga, quando o espetáculo chegou ao fim. Olhava-me com seu rosto suado, porém, a expressão ainda intrigada com aquela inesperada introspecção.
Esse é o resumo da minha
conduta nem um pouco previsível, durante o show que mais aguardei na vida. E a
pergunta que inevitavelmente me faço desde então é: por que eu me senti tão
deslocado?
Sim, eu adorei estar lá, perto
dos veteranos que tocam as músicas que me acompanham desde a adolescência. Senti
o termômetro da minha emoção subir a cada nota introdutória que anunciava outro
clássico. Minha alma vibrou quando o coro em uníssono saiu da garganta da
multidão e rasgou a noite do dia dezenove de setembro de 2013.
Mas aconteceu alguma coisa
comigo, a qual ainda não sei explicar. E dizer que fiquei hipnotizado pelo
espetáculo certamente soaria como uma esfarrapada retórica... Não foi isso.
A melhor explicação que tenho
é não ter nenhuma resposta que esclareça minha melancolia. Estar completamente introspectivo
diante do show que tanto aguardei, foi um ato inexplicável e imprevisto.
Meu caro e nobre amigo...gostaria de ter compartilhado este momento com você, mas tenho certeza que será algo que nunca mais esquecerá, quanto a seu sentimento...possivelmente o de realização de estar ali...ficaria assim também em qualquer show de uma banda que tenha grande admiração como você e como eu também tenho...grande abraço...
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