quinta-feira, 26 de março de 2015

RESENHA DE LIVRO – A GAROTA QUE EU QUERO


Mesmo detentor de razoável aparência e olhos verdes (sempre tão apontados como algo indispensável na hora de uma boa xavecada), a timidez era algo determinante e que geralmente freava meus planos de interatividade com as garotas, na adolescência. Eu era um desastre na arte da conquista; da boa lábia... Creio que isso era bem ao contrário de meus irmãos, que sempre foram infinitamente mais habilidosos do que eu neste quesito.

Começo esta resenha apontando este meu infortúnio juvenil, no intuito de reforçar o quanto me senti identificado com Cameron Wolfe, personagem principal deste volume que encerra a brilhante trilogia do criador Markus Zusak, intitulado A GAROTA QUE EU QUERO.
Desde o livro passado, eu já identificava que parte da fragilidade de Cameron era mesmo recíproca. E neste último episódio houve um foco maior da trama girando em torno das frustrações quanto ao isolamento e escassez de relacionamento do sôfrego personagem. Foi o que acentuou a proximidade deste resenhista que vos escreve, com a criação do autor. Cameron Wolfe é um desastre aparentemente imutável e insolúvel, e seus irmãos mais talentosos só fazem este sentimento se frisar no jovem rapaz.

Aqui, Markus Zusak dispensou as apresentações, justamente por se tratar da reta final da trama. O livro já começa mostrando o dia-dia da família Wolfe, sem nenhum foco introdutório. Os personagens vão surgindo aleatoriamente, o que é muito gostoso para quem já leu os dois livros passados. E embora sejam meigos coadjuvantes, a aleatoriedade pode deixar o livro um pouco confuso para leitores que não degustaram os volumes anteriores.
A família aparentemente está melhor das pernas, tocando a vida com um pouco mais de tranquilidade, fato que proporcionar ao leitor mais espaço para viver perto de Cameron, o único que parece ainda não ter se encontrado. A trama vai focar mais no cotidiano solitário e receoso deste simpático sujeito, que outra vez narra a história. Cameron gostaria de ter uma namorada, mas reconhece sua covardia e simplesmente não sabe o que fazer. Então, coisas acontecem e uma inesperada surpresa faz com que nosso herói encontre exatamente aquilo que o título propõe: a garota que ele quer (creio não ter cometido nenhuma gafe, pois isso acontece logo no início da história).

Acredito que esta trilogia fechou muito bem. Em definições, diria que “O Azarão”, primeiro da jornada, seja o mais fraquinho dos três, porém é fundamental para que entremos no mundo dos irmãos Wolfe. O segundo, “Bom de Briga” é bem mais encorpado e nos coloca dentro de conflitos familiares, em especial dos dois irmãos, Rubem e Cameron. Enquanto este último é com certeza o mais sensível dos três, o qual o autor foca exclusivamente no personagem principal. Trazendo á tona suas dores e limitações, e nos fazendo se encantar com suas conquistas.
Uma queixa que vi entre muito leitores internautas, é quanto ao fato deste último livro ter sido publicado pela editora Intrínseca, enquanto que os outros dois saíram pela Bertran Brasil. Isso não seria nenhum problema, mas a capa deste “A GAROTA QUE EU QUERO” não deixa nenhum indicativo de que se trata do terceiro volume de uma trilogia, o que compromete um pouco para aqueles que lerem o livro, sem antes ter passado pelos anteriores. Não estar familiarizado com a família Wolfe talvez faça com que o brilho destes carismáticos personagens seja ofuscado.

Picuinhas entre editoras á parte, é um livro belíssimo, fácil de ler, e que deixou claro uma crescente evolução no aspecto sensível da obra, sem parecer piegas em nenhum momento. Sim, a história ás vezes desperta estímulos á ponto de arrancar algumas lágrimas (eu achei muito bem construída e amarrada a relação entre Cameron e seu irmão mais velho), e nos faz torcer pelo personagem.
É leitura suave e despretensiosa. E talvez seja esta arriscada combinação o brilho literário que instiga a emoção dentro de nós, privilegiados leitores.

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