Mesmo detentor de razoável aparência e olhos verdes (sempre tão apontados como algo indispensável na hora de uma boa xavecada), a timidez era algo determinante e que geralmente freava meus planos de interatividade com as garotas, na adolescência. Eu era um desastre na arte da conquista; da boa lábia... Creio que isso era bem ao contrário de meus irmãos, que sempre foram infinitamente mais habilidosos do que eu neste quesito.
Começo esta resenha apontando este meu infortúnio juvenil, no
intuito de reforçar o quanto me senti identificado com Cameron Wolfe, personagem principal deste volume que encerra a brilhante
trilogia do criador Markus Zusak,
intitulado A GAROTA QUE EU QUERO.
Desde o livro passado, eu já identificava que parte da
fragilidade de Cameron era mesmo
recíproca. E neste último episódio houve um foco maior da trama girando em
torno das frustrações quanto ao isolamento e escassez de relacionamento do sôfrego
personagem. Foi o que acentuou a proximidade deste resenhista que vos escreve, com
a criação do autor. Cameron Wolfe é
um desastre aparentemente imutável e insolúvel, e seus irmãos mais talentosos
só fazem este sentimento se frisar no jovem rapaz.
Aqui, Markus Zusak
dispensou as apresentações, justamente por se tratar da reta final da trama. O
livro já começa mostrando o dia-dia da família Wolfe, sem nenhum foco introdutório. Os personagens vão surgindo
aleatoriamente, o que é muito gostoso para quem já leu os dois livros passados.
E embora sejam meigos coadjuvantes, a aleatoriedade pode deixar o livro um
pouco confuso para leitores que não degustaram os volumes anteriores.
A família aparentemente está melhor das pernas, tocando a
vida com um pouco mais de tranquilidade, fato que proporcionar ao leitor mais espaço
para viver perto de Cameron, o único
que parece ainda não ter se encontrado. A trama vai focar mais no cotidiano
solitário e receoso deste simpático sujeito, que outra vez narra a história. Cameron gostaria de ter uma namorada,
mas reconhece sua covardia e simplesmente não sabe o que fazer. Então, coisas
acontecem e uma inesperada surpresa faz com que nosso herói encontre exatamente
aquilo que o título propõe: a garota que ele quer (creio não ter cometido
nenhuma gafe, pois isso acontece logo no início da história).
Acredito que esta trilogia fechou muito bem. Em definições,
diria que “O Azarão”, primeiro da
jornada, seja o mais fraquinho dos três, porém é fundamental para que entremos
no mundo dos irmãos Wolfe. O segundo,
“Bom de Briga” é bem mais encorpado
e nos coloca dentro de conflitos familiares, em especial dos dois irmãos, Rubem e Cameron. Enquanto este último é com certeza o mais sensível dos
três, o qual o autor foca exclusivamente no personagem principal. Trazendo á
tona suas dores e limitações, e nos fazendo se encantar com suas conquistas.
Uma queixa que vi entre muito leitores internautas, é quanto
ao fato deste último livro ter sido publicado pela editora Intrínseca, enquanto que os outros dois saíram pela Bertran Brasil. Isso não seria nenhum
problema, mas a capa deste “A GAROTA QUE
EU QUERO” não deixa nenhum indicativo de que se trata do terceiro volume de
uma trilogia, o que compromete um pouco para aqueles que lerem o livro, sem antes
ter passado pelos anteriores. Não estar familiarizado com a família Wolfe
talvez faça com que o brilho destes carismáticos personagens seja ofuscado.
Picuinhas entre editoras á parte, é um livro belíssimo, fácil
de ler, e que deixou claro uma crescente evolução no aspecto sensível da obra,
sem parecer piegas em nenhum momento. Sim, a história ás vezes desperta
estímulos á ponto de arrancar algumas lágrimas (eu achei muito bem construída e
amarrada a relação entre Cameron e seu
irmão mais velho), e nos faz torcer pelo personagem.
É leitura suave e despretensiosa. E talvez seja
esta arriscada combinação o brilho literário que instiga a emoção dentro de
nós, privilegiados leitores.
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