Se assim como eu, você for um amante de contos, então vai uma
previsão assertiva: tornar-nos-emos prisioneiros deste livro, quase ao ponto de
alça-lo a condição de livro de cabeceira. Rubem
Fonseca é um escritor estupendo, e sua obra digna de adjetivos distintos:
vibrante, desconcertante, realista, surrealista, coerente, abstruso, cruel,
deliciosa...
Poderia continuar com as atribuições, mas talvez seja um ato
desnecessário e infinito. Por que eu começo esta resenha rasgando elogios á
este Os Prisioneiros? Bem, talvez a
melhor resposta seja dada a você, por meio do simples ato de ler a obra.
Neste trabalho maravilhoso nos deparamos com um vasto
universo de personagens imaginários, onde o mestre Rubem Fonseca nos mostra toda sua maestria em construir diálogos e equilibrar
a condução literária. Difícil é identificar o melhor conto desta coletânea. Só
a título de exemplo, eu citaria “Teoria
do Consumo Conspícuo”, belo trabalho dotado de um viés misterioso e até um
pouco mórbido, e meio como uma cereja no topo do glacê, ela termina com um
final inusitado.
O autor é munido de talento inquietante, ou melhor dizendo,
este se mostrou capaz de narrar a inquietação decorrente do ser humano. Sua condução
textual é composta por uma crueza de linguagem que nos exterioriza de forma
quase palpável.
É sempre muito bom descobrir grandes autores, como fiz ao ler,
pela primeira vez, o sr. Rubem Fonseca,
embora seja dolorosa a realidade de se estar lendo algo que em muito breve
chegará ao seu final, uma vez que, a literatura ideal é aquela em que
degustamos devagar, temendo o seu término. O consolo ficaria na realidade de
podermos rele-lo e, com este gesto meio amplificador, fazer deste Os Prisioneiros, aquele bom e velho
livro de cabeceira. Só os amantes de livros entenderão o que quero dizer com
isso.
Outro ponto que me soa confessional é a realidade de se estar
diante de um gênio da literatura, o que inevitavelmente contrasta com a minha
pequenez. E para este caso, aqueles que têm o hábito de escrever saberão do que
estou falando.
Nascido em Juiz de Fora, no ano de 1925, Rubem Fonseca teve uma existência, eu diria, um tanto variada; foi
office boy, escriturário, nadador, ajudante de mágico, revisor de jornal,
comissário de polícia... Até que se formou em direito, virou professor da Escola Brasileira de Administração Pública
da Fundação Getúlio Vargas e, por
fim, executivo da Light do Rio de Janeiro. Mas sua melhor contribuição a este
país certamente foi como escritor, talento que só foi descoberto em 1960, com
duas publicações de sua autoria para as revistas O Cruzeiro e Senhor. Os Prisioneiros é sua primeira coletânea
de contos, que logo foi reconhecida pela crítica nacional como a mais criativa
obra da literatura brasileira em décadas.
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