sábado, 8 de agosto de 2015

RESENHA DE LIVRO – OS PRISIONEIROS


Se assim como eu, você for um amante de contos, então vai uma previsão assertiva: tornar-nos-emos prisioneiros deste livro, quase ao ponto de alça-lo a condição de livro de cabeceira. Rubem Fonseca é um escritor estupendo, e sua obra digna de adjetivos distintos: vibrante, desconcertante, realista, surrealista, coerente, abstruso, cruel, deliciosa...

Poderia continuar com as atribuições, mas talvez seja um ato desnecessário e infinito. Por que eu começo esta resenha rasgando elogios á este Os Prisioneiros? Bem, talvez a melhor resposta seja dada a você, por meio do simples ato de ler a obra.

Neste trabalho maravilhoso nos deparamos com um vasto universo de personagens imaginários, onde o mestre Rubem Fonseca nos mostra toda sua maestria em construir diálogos e equilibrar a condução literária. Difícil é identificar o melhor conto desta coletânea. Só a título de exemplo, eu citaria “Teoria do Consumo Conspícuo”, belo trabalho dotado de um viés misterioso e até um pouco mórbido, e meio como uma cereja no topo do glacê, ela termina com um final inusitado.

O autor é munido de talento inquietante, ou melhor dizendo, este se mostrou capaz de narrar a inquietação decorrente do ser humano. Sua condução textual é composta por uma crueza de linguagem que nos exterioriza de forma quase palpável.

É sempre muito bom descobrir grandes autores, como fiz ao ler, pela primeira vez, o sr. Rubem Fonseca, embora seja dolorosa a realidade de se estar lendo algo que em muito breve chegará ao seu final, uma vez que, a literatura ideal é aquela em que degustamos devagar, temendo o seu término. O consolo ficaria na realidade de podermos rele-lo e, com este gesto meio amplificador, fazer deste Os Prisioneiros, aquele bom e velho livro de cabeceira. Só os amantes de livros entenderão o que quero dizer com isso.

Outro ponto que me soa confessional é a realidade de se estar diante de um gênio da literatura, o que inevitavelmente contrasta com a minha pequenez. E para este caso, aqueles que têm o hábito de escrever saberão do que estou falando.

Nascido em Juiz de Fora, no ano de 1925, Rubem Fonseca teve uma existência, eu diria, um tanto variada; foi office boy, escriturário, nadador, ajudante de mágico, revisor de jornal, comissário de polícia... Até que se formou em direito, virou professor da Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e, por fim, executivo da Light do Rio de Janeiro. Mas sua melhor contribuição a este país certamente foi como escritor, talento que só foi descoberto em 1960, com duas publicações de sua autoria para as revistas O Cruzeiro e Senhor. Os Prisioneiros é sua primeira coletânea de contos, que logo foi reconhecida pela crítica nacional como a mais criativa obra da literatura brasileira em décadas.

Sem nenhuma demagogia posso dizer que sou um leitor privilegiado, por ter tido a chance de conhecer mais este mestre da nossa literatura; um audacioso em incisivo cronista, que de fato, nos entregou esta obra genial, cujo título premonitório, fez deste leitor, mais um prisioneiro de sua brilhante ficção urbanista. O título Os Prisioneiros certamente deve referir-se á nós, porque não há outra condição para aqueles que se atreverem á viajar por esta deliciosa coletânea de contos.

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