quarta-feira, 1 de junho de 2016

RESENHA DE LIVRO – MENTES PERIGOSAS, O PSICOPATA MORA AO LADO


Em 1993, no norte da Inglaterra, dois garotos sequestraram, torturam e deixaram na linha de trem uma criança de dois anos que foi estraçalhada pela locomotiva. Após serem detidos pelas autoridades fora perguntado aos garotos o porquê de terem cometido tamanha barbárie. Em resposta, um deles disse serenamente, para o choque ainda maior da sociedade: “só queríamos ver como é o crânio de uma criança explodindo”.

O crime que deixou o mundo estarrecido retrata com distinta clareza a premissa por trás desta decente obra da psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva: tentar compreender um pouco melhor como funciona a mente de um psicopata.

A notícia ruim, segundo pesquisas intensas da autora, é que isso não é tarefa muito simples. No entanto, se a identificação talvez seja complexa, a constância dos famigerados psicopatas pode ser mais corriqueira do que se imagina. Exatamente como diz o subtítulo da obra: “O psicopata mora ao lado”; ou pior: talvez ele esteja dentro da sua própria casa, sem que você mesmo note isso.

A autora procura discorrer para uma visão, digamos, menos fatalista de um psicopata, dando ao temido gênero algo mais ordinário; os psicopatas podem estar em qualquer lugar, e os crimes brutais tão definidores deste gênero – como foi o caso dos garotos ingleses – seria apenas a máxima desta maledicência, algo que nos faz pensar que matar é a inevitável máxima desse tipo de criminoso, afinal, somente quando chegam a matar é que psicopatas vão parar nas capas dos jornais de nosso dia-dia. Mentes Perigosas trás para o termo psicopata definições que, embora caracterizem aquele tipo de ser humano inteiramente capaz de causar na sociedade, níveis consideráveis de estarrecimento e trauma, ainda são bem menos atrozes do que a óbvia associação deles com assassinatos e crimes brutais: trata-se de pessoas frias, manipuladoras, ausentes de consciência. São “predadores sociais”, nas palavras de Ana Beatriz. Gente que anda por ai, normal e liberta, camuflada de falsa ética, aparentemente incógnita. São pessoas comuns, de qualquer cor ou credo, que trabalham, estudam e levam suas vidas “normalmente”.

Um aspecto que me deixou levemente incomodado foi o uso de referências dos noticiários das franquias Globo, excessivamente usados pela autora. Penso que, de uma maneira infeliz, Ana Beatriz acabou deixando suas notas de rodapé um pouco restritivas. Mesmo diante da possibilidade de vermos a bibliografia de pesquisa, feita pela autora, no final da obra, talvez ela devesse ter feito variados usos referenciais em suas notas, ou pelo menos, ter diversificado os meios midiáticos, se era esse o intento.

Veja bem: não é uma questão de colocar em dúvida a qualidade do livro nem o intelecto evidente da autora, o qual eu já pude apreciar em palestras. Muito menos pretendo discorrer sobre assunto tão complexo, o qual eu possuo a mesma profundidade de um pires. Mas minha observação aponta para certa escassez de coerência na hora de mencionar meios de aprofundamento reflexivo; repetição constante das mesmas referências pode fazer com que o livro pareça limitante, ou pior, podem dar ao leitor a sensação de que tais menções de nota sejam propositais.

Quanto ao que de melhor podemos encontrar neste livro, é a textualização direcionada ao público leigo. Ana Beatriz discorre sua reflexão de maneira informal e acessível, permitindo que nós, leitores não acadêmicos, tenhamos a oportunidade de estudar sobre assunto tão intrincado.

Mentes Perigosas é um livro que interessa a todos nós, porque o tema é socialmente amplo, delicado e importante. De leitura simples e objetiva, nos deixa um pouco mais próximos da mais temível das atrocidades humanas; aquela que ainda temos pouca ou nenhuma compreensão: a psicopatia.

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