Este é um espaço de reflexão e opinião de um improvável leitor... Ordinário em sua existência, às vezes transgressor em sua análise. Mas como eu disse, é apenas um espaço. E como tal, precisa ser eternamente preenchido...
sábado, 23 de julho de 2016
RESENHA DE LIVRO: EU ROBÔ
terça-feira, 12 de julho de 2016
CRÔNICA: FELIZ DIA MUNDIAL DO ROC... “DA LIBERDADE”!
Raramente me dou ao trabalho
de ir além da porta desse tipo de estabelecimento, porque sustento desconfiança
de que quase tudo o que encontrarei, custará valor substancial que vai muito
além do meu senso de realidade financeira. Em outras palavras, considero
praticamente tudo o que se vende numa loja de grife irracionalmente caro demais
e sem nenhum fundamento que justifique aquele valor.
Infelizmente quase sempre
tenho razão.
Mas naquela manhã, eu havia
visto uma camisa aparentemente legal na vitrine. E como sou detentor de certa
peculiaridade tosca e restrita, que esporadicamente faz com que me sinta
atraído por uma peça de roupa, adentrei para olhar de perto aquela singularidade
em malha. Os dedos cruzados para que ela não custasse o valor equivalente a uma
Smart TV de tela plana.
Pois eis que fui prontamente
atendido por uma vendedora sorridente, simpática e muito solícita. Afinal,
cortesia é o mínimo que ela pode despender, porque se depender somente dos
valores impressos nas etiquetas, será pouco provável que ela consiga bater sua
meta mensal. De praxe, devolvi-lhe a amabilidade e, sorrindo discretamente, pedi
para dar uma olhadinha na referida camisa.
– Não gostou dela? – perguntou
a vendedora, ao ver a careta que eu havia feito quando analisei o produto mais
de perto.
– Ela é bonita, sabe..., mas
tem uma marca enorme bem aqui – apontei a região onde havia letras robustas e
em alto-relevo, explicitando enormemente o nome da grife, na parte detrás da peça.
– Eu tenho esse outro modelo –
disse a moça, pensando se tratar de uma questão geográfica. Ela ergueu diante
de mim outra camisa, cuja estampa da marca agora estava na lateral do tecido,
contrário da que eu havia olhado, de estampagem na vertical.
─ Não gostei também... O
problema é que eu não gosto de uma marca infestando toda a dimensão da peça de
roupa. Sinto-me como se estivesse usando um macacão da Formula 1.
– Ah, sim... Nós temos outras
marcas, vem cá que eu te mostro.
Deduzi que ela não havia compreendido
a piada.
– Desculpe, mas você não
entendeu. Eu não disse que não gosto dessa marca. Quis dizer que não gosto de
marcas encobrindo todo o tecido de minhas camisas.
– Mas acontece que se você
quiser comprar roupas de boa qualidade, só encontrará nas grandes marcas do
mercado – ela tentava a todo custo defender o patrimônio em que trabalhava.
– Eu concordo plenamente com
você – disse em tom de encerramento, enquanto devolvia gentilmente a camisa ao
cabide – Aliás, o tecido dessa camisa aqui tem uma textura maravilhosa.
– Então vamos levar, ora...
– O que me incomoda é o porquê
dessa obsessão de uma grife em fazer questão de expor seu nome largamente nas
roupas, como se fossem outdoors.
– Ah, mas você deve saber
muito bem que uma camisa com essa marca lhe proporcionará muita presença em
qualquer lugar que esteja.
Ela se referia ao status. Ao
estatuto emblemático que eventualmente eu iria adquirir caso me tornasse
usuário da grife vendida em sua loja. E a inflexível vendedora tinha razão.
Porque ela não estava tentando me vender apenas uma camisa. Na verdade, ela me
oferecia a oportunidade de obter reconhecimento social, coisa que só é possível
quando nos rendemos aos símbolos consagrados pela sociedade contemporânea.
– Não, obrigado..., mas acho
que vou ficar com o caminho mais difícil: vou tentar ser reconhecido por meus
méritos e não por minhas escolhas.
– E o que você acha que é isso
que está tatuado em seu braço? – Ainda dentro da loja fui surpreendido por uma
questão incomum. A vendedora não havia se dado por vencida.
Olhei para minha tatuagem do Metallica, como se estivesse a vendo pela primeira vez.
A manga do meu uniforme estava dobrada, permitindo que partes da tattoo
ficassem expostas.
– Ué, isso é uma tatuagem... –
tive que dar uma resposta imbecilizada, porque ainda não sabia o que dizer
diante da inesperada afronta.
– Isso é um símbolo! – eu
havia tido o azar de ser atendido pela vendedora mais obstinada da cidade –
Você carrega no braço o símbolo de uma marca, que de certa maneira, possui o
mesmo efeito que as roupas desta loja.
– Espere um pouco aí... É
claro que uma banda de rock é diferente.
– Diferente como?
É difícil responder quando se
está com os dentes soltos na boca, após lancinante bofetada.
Então eu saí da loja de mãos
vazias e sem nenhum argumento para combater o ataque da vendedora contra o meu
idealismo fajuto. No entanto, aquela conversa me fez pensar sobre o assunto... Costumo
ser assim: às vezes preciso de algum tempo para discernir sobre o que as
pessoas me dizem. E esse tempo pode levar até anos.
No caso deste episódio, levou
apenas alguns dias. Mas quando finalmente encontrei razões que pudessem
convencer a mim e aquela vendedora insistente de que eu tenho razão, juro que
fiquei com vontade de voltar em sua loja, só para dar continuidade ao nosso
embate sobre marcas.
Mas se há uma coisa benéfica
no avanço do tempo, é que abandonar o orgulho faz com que deixemos disputas
conceituais de lado. Além do mais, a vendedora também poderia ter feito a lição
de casa dela, e talvez eu voltasse a sair de sua loja derrotado.
O fato é que aquela mulher
vendia produtos que (mesmo que isso pareça uma ideia meio irracional) ajudava
as pessoas a se sentirem melhores; mais aceitas. E quando optei por fazer uma
tatuagem que exibisse o nome de uma de minhas bandas favoritas, talvez não
fosse mesmo uma forma de homenagear, como sempre tentei me convencer.
O que queria era exibir minha
preferência; mostrar ao mundo minhas aptidões musicais. E quando uma pessoa se
identifica comigo ao reparar o que há estampado em meu braço, inevitavelmente
me sinto bem, como se aquilo fosse a constatação do sucesso de minha intenção
vaidosa.
Sim, o Metallica é uma banda que
admiro e curto desde os tempos de minha adolescência. No entanto, nunca tatuei
no braço o nome do meu livro favorito, a receita do meu prato predileto ou o
nome de minha querida mãe. E isso talvez signifique que tatuar uma banda no
corpo, mesmo que me doa tal averiguação, é sim, fazer propaganda gratuita
usando a própria pele para isso.
Não me arrependo de ter feito
a tattoo do Metallica ou qualquer outra, de jeito nenhum. Eu o faria de
novo se pudesse voltar no tempo. O que gostaria com esta reflexão é rever a
atitude de meu julgamento preconceituoso, que acusa de idiota alguém que curte
sair por aí exibindo roupas de marca... Creio que seja esse tipo de conceito
fundamentalista um dos grandes males de nossa sociedade; não conseguimos largar
de uma vez por todas, a mania de metermos os nossos narizes na vida alheia.
Achamos que somos referência, a medida do que é certo ou errado.
Não, meus amigos... Somos
todos iguais, cuidamos somente de nossa própria vida e precisamos dar parecer
apenas a nós sobre ela. Eu notei meu disparate quando comecei a construir essa
crônica, que inicialmente possuía o viés de ser uma argumentação em defesa de meus
ideais em detrimento das decisões dos outros.
Ainda bem que deu tempo de
mudar de rumo e deixar uma mensagem menos destrutiva para este Dia Mundial do Rock... Que ele seja
festejado sob a bandeira da harmonia, sem que haja comparações ou distinções
ideológicas. Que cada um faça de sua vida o que desejar desde que seja
respeitada a vida do próximo...