Antes mesmo de iniciar minha leitura de mais este clássico da
literatura, constatei que alguns comentários pela internet alertavam a nós,
leitores iniciantes em Jane Austen,
de que esta não é a sua melhor obra. E mesmo deixando de lado a opinião da
maioria dos internautas, devo dizer que eu esperava mais deste RAZÃO E SENSIBILIDADE. Afinal, é possível
encontrar até críticos literários comparando as obras da moça com as de Shakespeare.
Contudo, se ORGULHO E PRECONCEITO (livro
mais famoso da autora) for, de fato, a obra perfeita de Austen, creio que estou
no caminho certo, pois penso que todo autor deve ser lido do pior livro para o
melhor. Porque começar a ler um autor por seu melhor trabalho pode ofuscar os
demais.
A trama de RAZÃO E
SENSIBILIDADE conta a história de duas irmãs que representam a dicotomia
sugerida pelo título. Temos então duas protagonistas movidas pela intensidade
de seus distintos afetos; a mais velha, Elinor, é amplamente sensata e
comedida, enquanto Marianne se mostra excessivamente impetuosa e romântica. Jane Austen nos oferece um excelente
panorama do mundo regrado das mulheres que viveram em sua época, nos mostra por
meio da vivência de suas personagens, uma sociedade completamente submetida a
conceitos rígidos no qual as mulheres são tratadas como se fossem mercadorias;
meros objetos vazios de conteúdo e importância social, que precisam moldar sua
realidade diminuta e desnecessária às imposições patriarcais da época.
Obrigadas a viver dentro de um mundo regido pelo dinheiro,
posição social e interesses, as irmãs sofrem por conta de não possuírem fortuna
e conexões com a alta burguesia, deixando-as à mercê da sorte, ou puramente
fadadas ao incerto destino, que quase nada lhes reserva.
Os pontos altos da obra ficam por conta da bem elaborada
personificação da razão em uma das personagens, e da sensibilidade na outra, características
que foram muito bem construídas pela autora. Vez ou outra, podemos até cogitar
certa inversão sentimental em ambas, mas conforme avançamos na leitura fica claro
quem são e quais os sentimentos primordiais em Elinor e Marianne.
Outro ponto que agrada muito é a ambientação georgiana do
texto, onde nos deparamos com detalhes enriquecidos daquela regrada época, que
vão desde a inserção de ambientes sofisticados, os costumes e trajes formais, e
até a linguagem exageradamente cerimoniosa, algo que deixa os textos desse
período com um charme agradável.
Mas achei que Jane
Austen peca em alguns aspectos. O primeiro deles é a constância. O livro
demora muito sem que nada de relevante aconteça, deixando-nos receosos quanto a
suas mais de quatrocentos e cinquenta páginas. A trama começa morna e não se
eleva em momento algum. Nem mesmo em sua reta final, quando revelações e
reviravoltas surgem, não há nada que nos faça delirar. O segmento do livro não
chega a decepcionar, mas mantém sempre uma perigosa linha tênue entre o enfado
e a mesmice.
Também fiquei um pouco incomodado com a considerável
quantidade de coadjuvantes que a autora lança no texto sem esperar o leitor
digerir com calma. Muita gente inserida em pouco tempo de leitura, nos deixando
com certa dificuldade em nos familiarizar com personagens e suas linhas de
importância no enredo. Alguns deles nos são apresentados logo no início, então ficamos
com a sensação de que serão peças fundamentais da trama, mas só voltamos a
vê-los ocasionalmente, quando já nem nos lembrávamos de seus nomes.
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