Será possível pensarmos na
ideia de liberdade sem que a palavra soe como mera obviedade existencial? Por
que nos prestarmos a pensar sobre tema que permeia a vida comum de forma tão simples
e evidente, garoto propaganda de toda a nossa solenidade? O sentido de liberdade
seria mesmo algo adquirido ou elemento natural do ser?
Foi pensando em
problematizar este tema, que o autor Adauto
Novaes organizou esta coletânea enriquecedora, que nos ajuda a pensar sobre
o assunto que por demais foi utilizado pela oratória popular. Tanto que hoje a
definição de liberdade parece ter se tornado arquétipo identitário dos padrões
sociais de conveniência; ídolo de doutrinas materialistas. Liberdade é palavra
fácil na boca de muitos, mas o típico caso de termo que de tão desgastado
parece ter perdido o sentido.
O conteúdo deste excelente O AVESSO DA LIBERDADE, busca pensar o
tema proposto em toda sua diversidade histórica, cultural e afetiva. Analisar
as condições particulares e efetivas de seu exercício, compreendendo esta
distorção que maquia atos obscuros e aprisiona homens livres. Os autores
esmiúçam o assunto, levando em consideração, problemáticas que vão desde a
dualidade entre matéria e espírito; passando por elaboração condicional e
natureza intrínseca, até chegarmos aos conceitos da liberdade dentro de trabalhos
artísticos, aparentemente frutos de situacionismos de seu tempo.
Em cada capítulo, os autores
fazem uso de eficientes nomes que pensaram a liberdade ao longo da história do
pensamento. Podemos discorrer sobre artigos à luz de Epicuro, Santo Agostinho,
Spinoza, Pascal, Hobbes e outros...
Maravilhoso é o artigo do
autor Luiz Carlos Villalta,
intitulado “Liberdades Imaginárias”,
em que trata dos movimentos inconfidentes no Brasil colonial. Ideias de
liberdades oriundas de outros países, que inflaram o anseio de brasileiros,
desencadeando em lutas armadas (ou não), cuja paixão pela liberdade não passou
de sonho desembocado em tragédias.
Precisos e bem articulados
também são os artigos que trabalharam a noção de liberdade de inventar, ou
seja, a liberdade do artista. Faz-nos questionar se a arte se mostra, e em
quais momentos, fruto da pura criação livre, ou ela sempre fora convencionada
por limites permissivos. O capítulo do autor Willi Bolle, intitulado “A
Liberdade de Pensar” analisa os procedimentos sofisticados do mestre
Guimarães Rosa e seu magnífico GRANDE SERTÃO: VEREDAS, na composição precisa da
linguagem e do tema, o sertão.
A coletânea deste O AVESSO DA LIBERDADE não segue uma
sequência linear; alguns possuem linguagem um pouco mais complexa, outros
facilitam com diálogos informais. Alguns artigos aprofundam tanto o assunto que
o leitor chega a se perguntar aonde o autor pretende chegar. Mas é justamente
esta amplitude temática o motor que faz com que o tópico da liberdade seja
analisado de diferentes ângulos e em múltiplas perspectivas.
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