terça-feira, 11 de julho de 2017

RESENHA DE LIVRO – O AVESSO DA LIBERDADE


Será possível pensarmos na ideia de liberdade sem que a palavra soe como mera obviedade existencial? Por que nos prestarmos a pensar sobre tema que permeia a vida comum de forma tão simples e evidente, garoto propaganda de toda a nossa solenidade? O sentido de liberdade seria mesmo algo adquirido ou elemento natural do ser?

Foi pensando em problematizar este tema, que o autor Adauto Novaes organizou esta coletânea enriquecedora, que nos ajuda a pensar sobre o assunto que por demais foi utilizado pela oratória popular. Tanto que hoje a definição de liberdade parece ter se tornado arquétipo identitário dos padrões sociais de conveniência; ídolo de doutrinas materialistas. Liberdade é palavra fácil na boca de muitos, mas o típico caso de termo que de tão desgastado parece ter perdido o sentido.

O conteúdo deste excelente O AVESSO DA LIBERDADE, busca pensar o tema proposto em toda sua diversidade histórica, cultural e afetiva. Analisar as condições particulares e efetivas de seu exercício, compreendendo esta distorção que maquia atos obscuros e aprisiona homens livres. Os autores esmiúçam o assunto, levando em consideração, problemáticas que vão desde a dualidade entre matéria e espírito; passando por elaboração condicional e natureza intrínseca, até chegarmos aos conceitos da liberdade dentro de trabalhos artísticos, aparentemente frutos de situacionismos de seu tempo.

Em cada capítulo, os autores fazem uso de eficientes nomes que pensaram a liberdade ao longo da história do pensamento. Podemos discorrer sobre artigos à luz de Epicuro, Santo Agostinho, Spinoza, Pascal, Hobbes e outros...

Maravilhoso é o artigo do autor Luiz Carlos Villalta, intitulado “Liberdades Imaginárias”, em que trata dos movimentos inconfidentes no Brasil colonial. Ideias de liberdades oriundas de outros países, que inflaram o anseio de brasileiros, desencadeando em lutas armadas (ou não), cuja paixão pela liberdade não passou de sonho desembocado em tragédias.

Precisos e bem articulados também são os artigos que trabalharam a noção de liberdade de inventar, ou seja, a liberdade do artista. Faz-nos questionar se a arte se mostra, e em quais momentos, fruto da pura criação livre, ou ela sempre fora convencionada por limites permissivos. O capítulo do autor Willi Bolle, intitulado “A Liberdade de Pensar” analisa os procedimentos sofisticados do mestre Guimarães Rosa e seu magnífico GRANDE SERTÃO: VEREDAS, na composição precisa da linguagem e do tema, o sertão.

A coletânea deste O AVESSO DA LIBERDADE não segue uma sequência linear; alguns possuem linguagem um pouco mais complexa, outros facilitam com diálogos informais. Alguns artigos aprofundam tanto o assunto que o leitor chega a se perguntar aonde o autor pretende chegar. Mas é justamente esta amplitude temática o motor que faz com que o tópico da liberdade seja analisado de diferentes ângulos e em múltiplas perspectivas.

É um livro para ser relido várias vezes, ou pelo menos os capítulos que nos pareceram mais pertinentes. E que nem mesmo o já longínquo ano de lançamento da obra (2002), não ofusca seu teor discursivo atual, um tema tão rico, ainda que difuso e complexo... E justamente por conta desta complexidade que precisamos deixar a preguiça de lado para dar espaço a trabalhos com esse tipo de premissa: a literatura filosófica em prol da amplificação de mentes bitoladas.

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