quinta-feira, 15 de março de 2018

RESENHA DE LIVRO – BRANCO COMO ARCO-ÍRIS


Muitas vezes é preciso um susto existencial para que possamos dialogar com a nossa interioridade. Eu pergunto: até que ponto somos capazes de refletir sobre nossa maneira de existir?

Branco Como Arco-Íris é uma narrativa de contornos delicados, que aproxima o leitor de sua própria sinceridade. O recôndito do ser que exige de si nada menos do que a verdade guardada na alma. Nessa medida, cada parágrafo avançado na leitura passa a ser entendido sob o olhar desconfiado de nós, leitores, para a nossa aparente verdade.

O personagem principal neste belo livro é um publicitário que se vê prestes a realizar uma tomografia cerebral por recomendação de um médico. E a possibilidade fatal é o sacolejo na alma que o faz se encher de deliberações íntimas e fantasiosas à cerca de seus amores passados.

De um ângulo muito peculiar, Branco Como Arco-Íris são confissões cheias de saudosismos secretos do narrador; um breve diálogo com níveis sensíveis de sua subjetividade. Açucarado na medida certa e tão delicioso que até pode ser lido numa única tarde, acompanhado de uma xícara de chá.

Edgard Telles Ribeiro transborda em talento escritural, em despojamento prosaico e, sobretudo, em belas sacadas da fragilidade humana. Sem se ater a temas fortes ou conteúdos clichês, aqui é a simplicidade cotidiana que esbarra na possibilidade do trágico imaginário do que poderá ser o tal exame tomográfico, deixando restar na mente de seu personagem a sutileza frágil de quem espera encobrir incertezas com a emersão da saudade.

Em cada trecho do livro eu tive que fazer pausas; refletir sobre mim mesmo; fazer anotações de coisas que vinham não sei de onde... Deliberar sobre as incertezas que o personagem nos instiga a pensar.

Pensar espaços inusitados, mesclar o passado com fantasias imaginárias.

Branco Como Arco-Íris é outro achado maravilhoso de um 2017 de muita literatura boa. Resta agora procurar por outros trabalhos deste esplêndido autor, que com elevada delicadeza prosaica, soube transformar as reticências da vida de seu personagem, num texto sinuoso e envolvente.

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