Normalmente não me sinto à
vontade em fazer resenhas dos clássicos que leio, por dois motivos: muitas
vezes não detenho a sutileza que a obra merece ao ser lida; e também porque
acho que seja desnecessário resenhar algo que já foi amplamente analisado por
gente muito mais capacitada do que eu.
Mas resolvi abrir uma
exceção para esta magnífica obra de Oscar
Wilde, pelo simples fato de seu conteúdo ser tão atual aos nossos tempos. O RETRATO DE DORIAN GRAY é uma obra que
nos remete à reflexão daquilo que nos é mais constante e infalível: a vaidade
humana. O Dorian construído magistralmente por Wilde é o arquétipo perfeito do
desejo pela juventude eterna.
Após ter sua imagem pintada
num quadro, nosso herói lamenta profundamente a triste realidade de saber que,
mesmo com o passar do tempo, a obra de arte permanecerá em eterno esplendor de sua
beleza, enquanto Dorian obviamente envelhecerá como o limitado mortal que é. Desse
ponto em diante, um pacto inesperado e misterioso tem início e o retrato passa
a absorver a ação do tempo e miséria substancial de seu retratado. Dorian permanece
jovem e belo, enquanto sua imagem no quadro envelhece sistematicamente.
O autor magistralmente cria
um personagem notável em toda sua juventude ingênua e superficialidade aflorada.
Dorian Gray fascina pela beleza, mas não é profundo ou sedutor, embora
ambicione também o intelecto. O detentor do fascínio na obra fica com Lorde
Henry, meu personagem favorito e principal influência na construção de um
Dorian tomado pelo ego.
Henry é reflexivo, erudito,
possui aspectos misteriosos e quase sempre é capaz de convencer com seus
conceitos impudicos. Ele consegue ser genial e irritante ao mesmo tempo,
justamente por fazer convencer através de seu sofismo; possui o verdadeiro
charme e elegância de um lorde, mas inveja arduamente a beleza de Dorian, assim
como também lamenta a perda de sua juventude.
O livro foi publicado pela
primeira vez em 1890 e, ao que parece, os editores temiam que a história fosse
indecente demais. Quando se lê a edição de nosso tempo é difícil pensar que
este fora considerado indecoroso. Não há nada de grave, além da temática
contumaz do apreço humano pela juventude. Mas Oscar Wilde chegou a ter problemas por conta desta obra que a crítica
da época a considerou obscena e imoral. Um ano depois, o autor fez uma extensão
do texto e o publicou como romance, inserindo um ótimo prefácio aforístico
sobre a impecabilidade da arte.
A versão da obra que eu li
corresponde a publicada por Nicholas
Frankel no ano de 2011 e que é baseada no datiloscrito de Oscar Wilde que permaneceu inédito por
mais de 120 anos. As versões anteriores tiveram suas publicações atenuadas em
diversas referências consideradas impróprias para a época. A tradução para o
português é de Jorio Dauster e ficou
enxutinha e atual.
Agora eu quero ler esse livro!
ResponderExcluirRecomendadíssimo, minha amiga. Oscar Wilde é genial!!!
ExcluirObrigada Michel. Já estou providenciando... Instigante!
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