segunda-feira, 11 de março de 2019

RESENHA DE LIVRO – UM DIA


Meu interesse nesta obra tão consumida e comentada pelos leitores brasileiros se deveu à mera rendição: depois de tantos elogios e declarações inflamadas de devoção a este volume (inclusive de críticos que se levam a sério), de várias comparações com livros que gostei; de ouvir que a trama era insinuante como raramente se encontra na literatura moderna; concluí que este trabalho de David Nicholls só poderia se tratar de leitura peculiar e indispensável...

Mas calma lá, porque a coisa não é assim, tão impecável.

Aqui temos um romance dos tempos atuais que conta a história de dois amantes os quais seus eventos primordiais ocorrem no dia 15 de julho (ou eles se absorvem em devaneios nesta data). Portanto, a premissa é fazer com que acompanhemos tudo o que aconteceu na vida desde maçante casal, num resumo que se passa sempre no dia 15 de julho de cada ano.

A pegada é bem novelesca e o autor, já nas primeiras páginas, evidencia que sua literatura não tem a premissa de chegar a lugar algum (isso não é algo propriamente ruim, pois a falta de linearidade costuma funcionar perfeitamente bem nas mãos de alguns autores que sabem trabalhar com narrativas randômicas). UM DIA é um livro morno e cansativo, que te obriga a atravessar longa e árdua leitura que o conduzirá até um desfecho igualmente insípido e apagado, cujo único prazer é a noção de termos finalmente chegado ao seu término.

Vale salientar que a narrativa não é de todo ruim; o autor, embora demasiado prolixo, sabe sugerir ao leitor aquilo que se propõe a contar. Os diálogos também são críveis e, vez ou outra, até provocam alguma graça. No entanto, seu aspecto água com açúcar, repetitivo e alienado a personagens que não cativam, suscita demais o enfado porque nada acontece em momento algum. E o leitor segue acompanhando com aquela impressão de que logo ali na frente algo se encaixará com o que foi lido e tornará relevante todas as centenas de frivolidades que fomos obrigados a engolir.

Mas não. Nada acontece em quase momento algum. Os capítulos são esquecíveis, quase todos os dias 15 de julho poderiam ser resumidos em muito menos relatos banais. A trama leva os personagens às mais distintas situações existenciais, talvez no intuito de explicar os resultados e escolhas de cada equação de suas vidas. Só que tudo isso teria funcionado melhor se a narrativa fosse mais sucinta. A maioria dos capítulos está lá para absolutamente nada. Eu poderia ter ocasionalmente pulado alguns capítulos que o ato em nada teria interferido na compreensão do texto ou em seu desfecho final.

Já os dois protagonistas, Dexter e Emma, são apáticos e não possuem elementos que os identifique com a construção do romance. A única condição que parece os tornar apaixonados um pelo outro é a conveniência, pois qualquer outra existência que aparece na vida de cada um deles é propositalmente pior do que a enfadonha realidade que os cerca. Emma é uma mulher cheia de baixa-estima, principalmente em relação à cisma de encontrar um namorado e tenta encobrir seu espírito de porco bancando a descolada. Enquanto Dexter é um vaidoso metido a pegador, que ostenta sua jovialidade e um emprego como apresentador, condições que fazem com que olhe para o resto do planeta de cima para baixo. Cheio de infantilismo, ele logo se deixa submeter aos vícios em etílicos e entorpecentes, situação que o torna ainda mais insuportável.

O final tenta forçar a barra para causar comoção, típico de comédias românticas de sessão da tarde. Mas obviamente o abalo é previsível e clichê. Não faz do ato final algo que desperte um mínimo de reflexão no leitor.

UM DIA é um romance esquecível, de protagonistas que não combinam em nada, de uma trama que se arrasta em banalidades e marasmos que certamente servirá de soporífero ao leitor. Na mesma pegada novelesca, eu recomendaria os bons livros de Marian Keyes, que embora tenham tramas bem corriqueiras e até previsíveis, ao menos em se tratando dessa autora as gargalhadas estarão garantidas.

NOTA: 3,8

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