Meu interesse nesta obra tão consumida e comentada pelos leitores brasileiros se deveu à mera rendição: depois de tantos elogios e declarações inflamadas de devoção a este volume (inclusive de críticos que se levam a sério), de várias comparações com livros que gostei; de ouvir que a trama era insinuante como raramente se encontra na literatura moderna; concluí que este trabalho de David Nicholls só poderia se tratar de leitura peculiar e indispensável...
Mas calma lá, porque a coisa
não é assim, tão impecável.
Aqui temos um romance dos
tempos atuais que conta a história de dois amantes os quais seus eventos
primordiais ocorrem no dia 15 de julho (ou eles se absorvem em devaneios nesta
data). Portanto, a premissa é fazer com que acompanhemos tudo o que aconteceu
na vida desde maçante casal, num resumo que se passa sempre no dia 15 de julho
de cada ano.
A pegada é bem novelesca e o
autor, já nas primeiras páginas, evidencia que sua literatura não tem a
premissa de chegar a lugar algum (isso não é algo propriamente ruim, pois a
falta de linearidade costuma funcionar perfeitamente bem nas mãos de alguns
autores que sabem trabalhar com narrativas randômicas). UM DIA é um livro morno e cansativo, que te obriga a atravessar
longa e árdua leitura que o conduzirá até um desfecho igualmente insípido e
apagado, cujo único prazer é a noção de termos finalmente chegado ao seu término.
Vale salientar que a
narrativa não é de todo ruim; o autor, embora demasiado prolixo, sabe sugerir ao
leitor aquilo que se propõe a contar. Os diálogos também são críveis e, vez ou
outra, até provocam alguma graça. No entanto, seu aspecto água com açúcar, repetitivo
e alienado a personagens que não cativam, suscita demais o enfado porque nada
acontece em momento algum. E o leitor segue acompanhando com aquela impressão
de que logo ali na frente algo se encaixará com o que foi lido e tornará
relevante todas as centenas de frivolidades que fomos obrigados a engolir.
Mas não. Nada acontece em
quase momento algum. Os capítulos são esquecíveis, quase todos os dias 15 de
julho poderiam ser resumidos em muito menos relatos banais. A trama leva os
personagens às mais distintas situações existenciais, talvez no intuito de
explicar os resultados e escolhas de cada equação de suas vidas. Só que tudo
isso teria funcionado melhor se a narrativa fosse mais sucinta. A maioria dos
capítulos está lá para absolutamente nada. Eu poderia ter ocasionalmente pulado
alguns capítulos que o ato em nada teria interferido na compreensão do texto ou
em seu desfecho final.
Já os dois protagonistas, Dexter
e Emma, são apáticos e não possuem elementos que os identifique com a
construção do romance. A única condição que parece os tornar apaixonados um
pelo outro é a conveniência, pois qualquer outra existência que aparece na vida
de cada um deles é propositalmente pior do que a enfadonha realidade que os
cerca. Emma é uma mulher cheia de baixa-estima, principalmente em relação à
cisma de encontrar um namorado e tenta encobrir seu espírito de porco bancando
a descolada. Enquanto Dexter é um
vaidoso metido a pegador, que ostenta sua jovialidade e um emprego como
apresentador, condições que fazem com que olhe para o resto do planeta de cima
para baixo. Cheio de infantilismo, ele logo se deixa submeter aos vícios em
etílicos e entorpecentes, situação que o torna ainda mais insuportável.
O final tenta forçar a barra
para causar comoção, típico de comédias românticas de sessão da tarde. Mas obviamente
o abalo é previsível e clichê. Não faz do ato final algo que desperte um mínimo
de reflexão no leitor.
NOTA: 3,8
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