Se você costuma usar
resenhas de livros como orientação e sugestão de leitura, creio que esta não
lhe servirá de nada. Menos ainda atente-se à pessoalidade da nota inserida ao término
da mesma. Sim, pois talvez eu tenha cometido o equívoco venial de começar a ler
Samuel Beckett por este MALONE MORRE. Trata-se aqui de uma obra
subjetiva e multifacetada, que embora eu aprecie bastante o estilo, esta me foi
uma leitura demasiado esgotante.
A trama é narrada pela
personagem do título; um homem velho, moribundo, aparentemente debilitado e
preso a uma cama de um confinamento que pode ser um hospital, manicômio ou
similar. O cara possui apenas sua visão limitada do quarto, uma janela com
restrita permissão visual, alguns poucos pertences os quais ele usa um lápis
para escrever sobre aleatoriedades e, acima de tudo, suas infindáveis
incertezas.
Malone não sabe onde se
encontra, muito menos sabe dizer qualquer coisa sobre si mesmo com plena
convicção. Externaliza seus pensamentos de maneira desordenada e é exatamente
isso o que resume a leitura de seus relatos: desordem e mais desordem.
Encontrar instantes de coerência ou permissividade aqui é algo incerto, talvez
impossível. Samuel Beckett mantém a
linguagem hermética por toda a trama, não nos fornecendo nada e encerrando de
forma igualmente enigmática.
Por toda a leitura eu tentei
alcançar o escopo psicológico do narrador, um homem claramente desprendido de
qualquer forma de absolutismo, condição geralmente compreendida por aqueles que
se encontram em situações similares a da personagem: o flerte progressivo e
determinante da finitude.
Seus relatos começam com
certa lógica, mas logo descaem para o absurdo. Quando descreve lugares, pode-se
intuir tanto como uma visão distorcida do ambiente como uma mera metáfora. É
notório como praticamente tudo e todos são sofríveis, personagens em limites
extremos, insanos, feios, excluídos. Outras vezes somos remetidos aos
arquétipos propositais do narrador, ou suas lembranças nebulosas e pouco
confiáveis, ou estamos mesmo diante da tentativa de se narrar a miséria do
ponto de vista de um miserável do modo mais cru que já li na vida.
Por vezes eu tive que fazer
pausas por imaginar que havia perdido o foco da atenção. Relia, muitas vezes,
páginas inteiras já lidas e a desordem perdurava imponente na minha cabeça.
Contudo, durante toda a leitura havia um elemento que jamais se afastava de
mim: a noção da indigência do ser. Seja a indigência do próprio narrador, de
suas desafortunadas personagens ou de nós leitores, determinados a seguir acompanhando
com nossa precária falta de percepção do que nos é mais acessível: a condição
da penúria.
Seja lá o que Samuel Beckett quer nos passar com seu MALONE MORRE, a mensagem incutida na
obra certamente me escapou. O fato é que em nenhum momento a trama segura na
mão do leitor; é como se ela nos dissesse: terás que percorrer sozinho o vale
dos indigentes. E faltou-me maturidade para tal.
NOTA: 5,8
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