terça-feira, 10 de setembro de 2019

RESENHA DE LIVRO – DIVA


Algumas vezes é preciso um pouco de perseverança e flexibilidade para se compreender e, por conseguinte, gostar de um autor. Clássicos do século XIX costumam carecer de elevada sensatez, pois é fatal que se entenda que tudo naquela narrativa pressupõe aspectos e valores de um determinado tempo.

DIVA é a primeira obra que li de José de Alencar e, diferente de outros clássicos do XIX, a linguagem empregada aqui me enterneceu de imediato, algo que normalmente não acontece tão depressa comigo, daí a observação no início desta resenha.

A trama aqui é simplória; por meio de uma carta, a personagem Augusto revela para seu amigo Paulo, as mazelas e embates que afligiu sua relação afetiva com Emília; moça de personalidade demasiadamente forte.

Sob a caneta (sob a pena?) de um autor clichê, remeteríamos DIVA a um romance café com leite, banal, de reviravoltas trágicas para causar comoção. Contudo, José de Alencar sabe utilizar uma linguagem elegante e refinada, que privilegia o escopo narrativo, onde autenticidade e esmero textual é o que mais chama atenção.

A Emília do autor é, de fato, uma mulher impossível. Extremamente vaidosa, de um pudor exagerado quase como um TOC e de insensibilidade que beira o cruel, ela é o perfeito arquétipo de ser indomável e algumas vezes parece se deleitar por ser assim. Confesso que a odiei desde o início da leitura, mas percorrendo a algumas opiniões femininas pela internet, alguém sugeriu que este meu desconforto com a personagem é puro orgulho de macho. Enfim, talvez seja mesmo isso e, se realmente se tratar de orgulho, o livro acertou novamente, pois Emília me irritou por diversos momentos da trama...

Já Augusto, o desenganado narrador, soou-me como um verdadeiro banana. Provavelmente por achar que ele devia ter dado à sua amada as devidas lições oriundas do mesmo orgulho que me fez detestar Emília, por vezes eu me peguei esbravejando o comportamento irresoluto de Augusto, algo que sempre acontecia quando ele estava diante da incomparável beleza de sua musa. E ao término da leitura, vi-me envergonhado por julgar Augusto ao vê-lo se submeter aos caprichos de sua amada... Mas qual homem nunca o fez, perante os encantos da beleza de uma mulher?

DIVA é um romance charmoso, cuja linguagem é o que mais me chamou a atenção. Uma trama simples, porém, narrada na medida certa. O livro é curto, o que não permite que se torne cansativo, justamente porque o autor mantém seu foco exclusivamente no romance, exatamente como é uma carta confessional de um homem apaixonado.

E após esta deliciosa incursão, já estou providenciando outros títulos de José de Alencar, pois o que os comentários dizem pela internet é que DIVA é o mais singelo de seus trabalhos. Se os leitores online estiverem certos, essa é uma ótima notícia, afinal, é sempre bom começar a ler um grande autor por seus trabalhos menos expressivos, pois desse modo, a cereja ficará para o final.

NOTA: 7,9

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