Algumas vezes é preciso um
pouco de perseverança e flexibilidade para se compreender e, por conseguinte,
gostar de um autor. Clássicos do século XIX costumam carecer de elevada
sensatez, pois é fatal que se entenda que tudo naquela narrativa pressupõe
aspectos e valores de um determinado tempo.
DIVA é a
primeira obra que li de José de Alencar
e, diferente de outros clássicos do XIX, a linguagem empregada aqui me
enterneceu de imediato, algo que normalmente não acontece tão depressa comigo, daí a observação no início desta resenha.
A trama aqui é simplória;
por meio de uma carta, a personagem Augusto revela para seu amigo Paulo, as
mazelas e embates que afligiu sua relação afetiva com Emília; moça de
personalidade demasiadamente forte.
Sob a caneta (sob a pena?)
de um autor clichê, remeteríamos DIVA
a um romance café com leite, banal, de reviravoltas trágicas para
causar comoção. Contudo, José de Alencar
sabe utilizar uma linguagem elegante e refinada, que privilegia o escopo narrativo,
onde autenticidade e esmero textual é o que mais chama atenção.
A Emília do autor é, de fato, uma mulher impossível. Extremamente vaidosa, de um pudor exagerado quase como
um TOC e de insensibilidade que beira o cruel, ela é o perfeito arquétipo de ser indomável e algumas vezes parece se deleitar
por ser assim. Confesso que a odiei desde o início da leitura, mas percorrendo a algumas opiniões femininas pela internet, alguém sugeriu que este meu
desconforto com a personagem é puro orgulho de macho. Enfim, talvez seja mesmo isso
e, se realmente se tratar de orgulho, o livro acertou novamente, pois Emília me
irritou por diversos momentos da trama...
Já Augusto, o desenganado
narrador, soou-me como um verdadeiro banana. Provavelmente por achar que ele
devia ter dado à sua amada as devidas lições oriundas do mesmo orgulho que me
fez detestar Emília, por vezes eu me peguei esbravejando o comportamento
irresoluto de Augusto, algo que sempre acontecia quando ele estava diante da
incomparável beleza de sua musa. E ao término da leitura, vi-me envergonhado
por julgar Augusto ao vê-lo se submeter aos caprichos de sua amada... Mas qual
homem nunca o fez, perante os encantos da beleza de uma mulher?
DIVA é um romance charmoso,
cuja linguagem é o que mais me chamou a atenção. Uma trama simples, porém,
narrada na medida certa. O livro é curto, o que não permite que se torne
cansativo, justamente porque o autor mantém seu foco exclusivamente no romance,
exatamente como é uma carta confessional de um homem apaixonado.
E após esta deliciosa
incursão, já estou providenciando outros títulos de José de Alencar, pois o que os comentários dizem pela internet é
que DIVA é o mais singelo de seus trabalhos. Se os leitores online estiverem
certos, essa é uma ótima notícia, afinal, é sempre bom começar a ler um grande
autor por seus trabalhos menos expressivos, pois desse modo, a cereja ficará
para o final.
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