terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

RESENHA DE LIVRO – NOTURNO EM MANHATTAN


O subgênero romance investigativo, assim como acontece com a maioria dos tipos literários, costuma alcançar leitores variados quando consegue utilizar elementos que não sejam propriamente característicos de sua forma. Isso também ajuda a deixar a trama menos cansativa. Colin Harrison já mostrou que sabe como inserir isso em seus trabalhos, porém o resultado dessa vez foi uma discreta obra intitulada NOTURNO EM MANHATTAN.

Exemplo da boa intuição do autor já se nota no protagonista. Enquanto os suspenses policiais costumam pairar em torno de um investigador ou perito em desvendar crimes, aqui a personagem é um abutre da mídia; um colunista de jornal cujo trabalho é ir à busca de tragédias humanas para desenvolver suas crônicas. Porter Wren, apesar da profissão pouco moral, aparenta ser um sujeito minimamente decente e segue sua vida cotidiana da maneira mais banal possível. Contudo, a passividade que o permeia desaparece no instante em que ele se envolve com Caroline Crowley, viúva de um famoso cineasta. Começa-se um cenário de intrigas, dúvidas e um interminável pisar em solo desconhecido... A vida do jornalista se torna um inferno em tempo recorde.

O autor mantém a mesma pegada prolixa de seus outros trabalhos; Collin Harrison não economiza vocabulário na hora de tecer sua trama, mas a sensação que tive é que neste livro especificamente esta característica funcionou em alguns momentos, mas noutros não.

A narrativa como um todo é agradável mesmo alongando-se em demasia. O autor sabe contar sua história com leveza; ele insere elementos informais, gírias e obscenidades que ajudam a tornar a narrativa mais crível. Também as personagens comportam-se de modo orgânico e inerente, o que agrada bastante. O leitor tem um longo livro pela frente, porém raramente este se torna cansativo.

Mas o problema ocasionado por esta acentuação verbosa acontece no final. Conhecendo outros trabalhos do autor, achei estranha a necessidade em explicar demais os instantes finais. Collin Harrison passa muito tempo narrando o que já foi dito ao longo da trama, esmiúça detalhadamente cada ponto chave da história, como se houvesse uma preocupação com a capacidade de compreensão do leitor. Eu cheguei a pensar que estava diante de um resumo da obra. Talvez isso tenha acontecido pela incapacidade do autor em tornar seu trabalho mais enxuto, pois o livro poderia ter terminado com pelo menos umas cinquenta páginas a menos. Ou seja, a maior virtude de Collin Harrison aqui acabou se tornando um considerável entrave.

Em breves passagens também podemos acompanhar a descrição de uma cidade efervescente como Manhattan, sempre focado em seu aspecto mais lúgubre. O autor nos mostra a marginalidade que permeia a cidade, a miséria dos cidadãos esquecidos e que sempre estão ladeando o glamour e requinte das grandes metrópoles. O livro precisava deste elemento sórdido que assertivamente elevou o dinamismo do texto.

NOTURNO EM MANHATTAN é um livro discreto e bem escrito, porém, exageradamente prolixo principalmente no final. Sustenta os elementos narrativos que fazem de Collin Harrison um excelente escritor, mas peca ao tentar retirar do leitor o prazer de analisar seu conteúdo.

NOTA: 7,5

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