Considerei difícil
classificar ou resenhar este livro, porque no instante em que sua trama causa
determinada impressão, logo esta é desconstruída mais adiante. E isso não
significa nenhum estorvo, mas sim, uma inusitada condução narrativa, que segundo
as palavras do próprio Milan Kundera:
“a única razão de um romance é dizer o
que somente o romance pode dizer”.
Ao que parece, o autor se
viu descontente com a adaptação de uma de suas obras mais aclamada, A Insustentável leveza do Ser. Sendo
assim, Kundera quis desenvolver um livro que fosse nada menos que um texto
impossível de ser adaptado.
A
IMORTALIDADE é um livro um pouco complexo, mas não por
ter uma linguagem difícil ou sofisticada, pelo contrário, Milan Kundera escreve de forma acessível. O problema é que o autor narra
perspectivas distintas para mostrar um mesmo tema; esmiúça aspectos de
diferentes personagens em tempos distintos inseridos na obra. Condensa tudo
para chegar ao escopo que intitula a obra: a imortalidade que habita em cada um
de nós.
A narrativa intromete-se
pouco no que tange aproximar a pessoalidade do autor – que no caso aqui é
também a personagem que narra a história, ou pelo menos houve a tentativa de
confundir o leitor com tal sugestão – Milan
Kundera simplesmente discorre sobre quem somos do ponto de vista
situacional dentro da vida de cada um de seus narrados, deixando por conta do
leitor qualquer forma de julgamento. Contudo, sacralizando a máxima desejante
enraizada no ser humano desde que o mundo é mundo: o anseio de ser
inesquecível.
Num universo atemporal, a
trama divide seu espaço de importância entre diversas personagens; Agnes é a
protagonista que desperta no autor a inspiração para a narrativa, um breve
gesto e está criado o encanto que faz o criador querer contar uma história.
Dispersando os universos, deparamo-nos com o famoso escritor Goethe envolto
numa relação tempestuosa com a jovem e bela Bettina; temos Laura, a irmã de
Agnes, mulher depressiva cuja mente vive desenvolvendo meios de tirar a própria
vida; ainda há passagens em que acompanhamos a aparição de personagens ilustres
como Beethoven, Napoleão Bonaparte e até diálogos entre o já citado Goethe e
Ernest Hemingway.
O livro não é linear, seus
capítulos pareceram-me independentes, não sendo necessário que sejam lidos na
ordem em que estão inseridos. Os diálogos são caprichados e merecem o devido
cuidado do leitor para frear em certos instantes. Do contrário, corre-se o risco
de que seu conteúdo filosófico seja perdido.
Esse método de capítulos
individuais e diversos personagens dividindo o espaço do livro pode ter seu
lado bom no aspecto de discorrer determinado tema sob situações e ações
distintas. No entanto, há o inevitável problema com algumas partes que são mais
agradáveis do que outras, assim como podemos considerar personagens
carismáticos e outros nem tanto. Quando nosso favorito desaparece por muito
tempo das páginas, consequentemente o livro perde em prestígio.
NOTA: 7,8
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