Estacionado na fila do
caixa, mantendo distanciamento estabelecido pelas normas legais, eu aguardava
para pagar minhas compras de fim de semana. Supermercado lotado, somos uma gente
empoleirada que em tempos de pandemia, faz do ato de fazer compras a única
rota de entretenimento.
Ocasionalmente, olhei para o
lado e avistei uma seção estrategicamente posicionada na lateral da fila, onde
uma placa em letras reluzentes anunciava: “PROMOÇÃO DE MÁSCARAS”.
Seduzido que fiquei pelo
anúncio a me oferecer mais um ótimo negócio, resgatei uma unidade e joguei no
carrinho, sem nenhuma ponderação sobre este que se tornou objeto essencial de
nossos dias. Afinal, o que há para se verificar numa máscara? Não existem
grandes distinções entre elas! Máscaras são feitas para cobrir o rosto, inteira
ou parcialmente, então basta que cumpram precisamente sua função e está tudo
certo.
Contudo, dias depois quando
minha nova aquisição se fez necessária, foi que eu descobri que máscaras não
são padronizadas como eu imaginava. Elas possuem particularidades, tamanhos,
cores, funções... A minha nova máscara, em específico, não havia elásticos para
que eu a prendesse atrás das orelhas. No lugar, tiras de tecido que indicavam
que eu deveria amarrá-la na cabeça...
Isso mesmo: amarrar!
Achei aquilo ultrajante!
Onde foi parar a praticidade do elástico? O fabricante devia ter colocado
instruções de uso (como se alguém lesse instruções de uso) para que o
consumidor não fosse surpreendido por tiras no lugar do elástico. Agora eu
teria que gastar vários minutos da minha vida ajeitando uma máscara analógica,
dar o nó correto e não me esquecer de afrouxar um pouco para não morrer
sufocado. Vi-me sentenciado a desenvolver a invejável paciência de um
executivo, que em frente ao espelho, faz com zelo e cuidado o nó de sua
gravata.
Sim, caros leitores,
máscaras são adereços que estão se tornando cada vez mais necessários, mais
sofisticados e pomposos. Nosso mercado sempre atento para as carências humanas
é especialista na arte de variar. Depois do meu entrave com as tiras da minha
nova máscara, passei a observar (porém, não tão de perto por medo de um
famigerado vírus) as mais distintas máscaras que hoje tomaram conta de todos os
espaços imagináveis.
Máscaras de variadas cores,
tamanhos, gêneros, de composição variada, de estampas combinando com o estilo
do cliente, com bordado de marcas famosas para aqueles que gostam de ostentar, transparentes
para que não se perca a leitura labial, máscaras de tricô, e até com a opção do
seu time do coração! Ah, e já estão chegando, para delírio coletivo, as invejáveis máscaras com aroma de frutas.
A máscara agora é você,
cidadão brasileiro! Ela nos representa de tal forma, que atualmente estamos
olhando para máscaras e comparando, fazendo avaliações mentais. Outro dia,
passei por uma moça na rua e pensei comigo: puxa como ela ficou bem com aquela
máscara. Minha esposa recebe ocasionalmente um catálogo variado de modelos e,
vaidosa que é, passa horas experimentando para ver qual a que melhor combina
com ela.
Recentemente uma vendedora,
sabendo de minhas preferências musicais, ofereceu-me uma máscara de
“caveirinhas”. Ela comentou, entendedora que era do mercado de máscaras, que
aquele modelo era “a minha cara”. Também recebi anúncios lustrosos oferendo a
mais inovadora das alternativas: máscaras 3D.
Mas que porra seria uma
máscara 3D?
Diante dessa minha antiquada
percepção da atualidade, uma colega do trabalho veio em meu socorro e explicou, em detalhes, o
que era uma máscara 3D. Durante sua apresentação até tirou da bolsa a sua 3D, novinha, comprada naquela mesma semana.
Sim senhor! E a
partir de agora nós, respeitáveis consumidores, respiramos, literalmente, nossas
máscaras! Portanto, neste mundo de rostos semicobertos, escolhas serão feitas no uso das verificações adequadas aos tempos de rostos cobertos: você tem aquela com
elástico? Quais são as opções de cores? Esse estilo combina com jeans? Você
trabalha com modelos 3D? Eu queria daquela cavadinha para não ficar pegando no
meu olho...
Mas não importa qual seja a sua preferência. Melhor fazer uso da mais cafona e desproporcional das máscaras, do que sair na rua de cara limpa à mercê de um certo corona.
Mas não importa qual seja a sua preferência. Melhor fazer uso da mais cafona e desproporcional das máscaras, do que sair na rua de cara limpa à mercê de um certo corona.
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