sábado, 6 de junho de 2020

CRÔNICAS: MÁSCARA – MANUAL DO USUÁRIO


Estacionado na fila do caixa, mantendo distanciamento estabelecido pelas normas legais, eu aguardava para pagar minhas compras de fim de semana. Supermercado lotado, somos uma gente empoleirada que em tempos de pandemia, faz do ato de fazer compras a única rota de entretenimento.

Ocasionalmente, olhei para o lado e avistei uma seção estrategicamente posicionada na lateral da fila, onde uma placa em letras reluzentes anunciava: “PROMOÇÃO DE MÁSCARAS”.

Seduzido que fiquei pelo anúncio a me oferecer mais um ótimo negócio, resgatei uma unidade e joguei no carrinho, sem nenhuma ponderação sobre este que se tornou objeto essencial de nossos dias. Afinal, o que há para se verificar numa máscara? Não existem grandes distinções entre elas! Máscaras são feitas para cobrir o rosto, inteira ou parcialmente, então basta que cumpram precisamente sua função e está tudo certo.

Contudo, dias depois quando minha nova aquisição se fez necessária, foi que eu descobri que máscaras não são padronizadas como eu imaginava. Elas possuem particularidades, tamanhos, cores, funções... A minha nova máscara, em específico, não havia elásticos para que eu a prendesse atrás das orelhas. No lugar, tiras de tecido que indicavam que eu deveria amarrá-la na cabeça...

Isso mesmo: amarrar!

Achei aquilo ultrajante! Onde foi parar a praticidade do elástico? O fabricante devia ter colocado instruções de uso (como se alguém lesse instruções de uso) para que o consumidor não fosse surpreendido por tiras no lugar do elástico. Agora eu teria que gastar vários minutos da minha vida ajeitando uma máscara analógica, dar o nó correto e não me esquecer de afrouxar um pouco para não morrer sufocado. Vi-me sentenciado a desenvolver a invejável paciência de um executivo, que em frente ao espelho, faz com zelo e cuidado o nó de sua gravata.

Sim, caros leitores, máscaras são adereços que estão se tornando cada vez mais necessários, mais sofisticados e pomposos. Nosso mercado sempre atento para as carências humanas é especialista na arte de variar. Depois do meu entrave com as tiras da minha nova máscara, passei a observar (porém, não tão de perto por medo de um famigerado vírus) as mais distintas máscaras que hoje tomaram conta de todos os espaços imagináveis.

Máscaras de variadas cores, tamanhos, gêneros, de composição variada, de estampas combinando com o estilo do cliente, com bordado de marcas famosas para aqueles que gostam de ostentar, transparentes para que não se perca a leitura labial, máscaras de tricô, e até com a opção do seu time do coração! Ah, e já estão chegando, para delírio coletivo, as invejáveis máscaras com aroma de frutas.

A máscara agora é você, cidadão brasileiro! Ela nos representa de tal forma, que atualmente estamos olhando para máscaras e comparando, fazendo avaliações mentais. Outro dia, passei por uma moça na rua e pensei comigo: puxa como ela ficou bem com aquela máscara. Minha esposa recebe ocasionalmente um catálogo variado de modelos e, vaidosa que é, passa horas experimentando para ver qual a que melhor combina com ela.

Recentemente uma vendedora, sabendo de minhas preferências musicais, ofereceu-me uma máscara de “caveirinhas”. Ela comentou, entendedora que era do mercado de máscaras, que aquele modelo era “a minha cara”. Também recebi anúncios lustrosos oferendo a mais inovadora das alternativas: máscaras 3D.

Mas que porra seria uma máscara 3D?

Diante dessa minha antiquada percepção da atualidade, uma colega do trabalho veio em meu socorro e explicou, em detalhes, o que era uma máscara 3D. Durante sua apresentação até tirou da bolsa a sua 3D, novinha, comprada naquela mesma semana.

Sim senhor! E a partir de agora nós, respeitáveis consumidores, respiramos, literalmente, nossas máscaras! Portanto, neste mundo de rostos semicobertos, escolhas serão feitas no uso das verificações adequadas aos tempos de rostos cobertos: você tem aquela com elástico? Quais são as opções de cores? Esse estilo combina com jeans? Você trabalha com modelos 3D? Eu queria daquela cavadinha para não ficar pegando no meu olho...

Mas não importa qual seja a sua preferência. Melhor fazer uso da mais cafona e desproporcional das máscaras, do que sair na rua de cara limpa à mercê de um certo corona.

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