E após o interminável
momento de urros comedidos, ele lavava o rosto na água fria da pia, respirava
devagar até que a vermelhidão facial desaparecesse, abria a porta do banheiro e
voltava para o quarto.
Era tarde da noite.
Alguém passou por ele, veloz
e impaciente... A vez de o irmão usar o banheiro, que passou pelo menino,
esbravejou pela demora e trancou a porta do tão ambicionado recinto. Carregava
revistas em sua mão, cujo conteúdo transformaria completamente a função do
banheiro: de antro do sofrimento para abrigo do prazer.
A casa reinava em silêncio.
Talvez fosse o instante em que as coisas realmente aconteciam.
A mãe já havia se retirado. A
porta do quarto, austera e fechada, parecia impor a restrição definitiva, assim
como autorizava para que tanto os transgressores da concupiscência quanto os prantos
secretos pudessem acontecer... A mãe costumava fazer muito isso, se retirar de
tudo... Do mundo. Certamente não havia pranto porque ela não sabia fazê-lo em
silêncio tão bem quanto o menino.
E aquele homem estranho,
outra vez adormecido na cozinha, luz apagada, um prato de arroz com feijão
sobre a mesa, frio e intocado... Aquele mesmo ronco, de fera desditosa, de
outras noites.
Nenhum comentário:
Postar um comentário