Caroline Passim Krushev é o
arquétipo de mulher realizada. Casou-se com um advogado bem sucedido, tem um
filho lindo e saudável, mora em cobertura de frente para o mar de Camburí, no
Espírito Santo. A vida de causar inveja em qualquer indivíduo que almeje ascender
na sociedade de consumo a qual estamos inseridos.
Ou seja, o que faltaria na
vida desta mulher que conseguiu alçar o topo capitalista sem grandes esforços?
Talvez essa pergunta seja respondida a cada página virada deste imprevisível “A
COLETORA DE LÁGRIMAS”; a amarga noção de que para pessoas inseridas num
mundo de consumos e aparências, lhes falte significado existencial.
Consciente desta precariedade,
Caroline vive seus dias enfadonhos procurando empregos online ou indo a
entrevistas. Cismou que a obtenção de um trabalho digno lhe proporcionaria vigor;
ela queria ser alguém que tivesse o mínimo de importância. No entanto, o marido
é inflexível contra a ideia de a esposa trabalhar e sempre usa argumentos
pragmáticos que a convençam a desistir de um emprego. Caroline então segue seus
dias de princesa moderna, confinada num apartamento sofisticado, esperando que
o dia termine, para que ela possa morrer mais um pouco no dia seguinte.
Mas a vida é uma incógnita e
costuma sacudir criaturas adormecidas quando menos se espera. É o que acontece
com a protagonista, quando recebe uma mensagem anônima pelo correio. Sua vida
muda completamente assim que ela consegue traduzir o conteúdo cifrado da
mensagem. E o que era aparentemente inofensivo, se mostra um ardiloso presságio
de morte: a mensagem deu a moça os precisos dados de quando e onde um acidente
fatal aconteceria.
Era apenas a primeira de
muitas outras mensagens que seriam entregues à receosa moça, que não sabe exatamente
o que fazer com os prenúncios de morte que não cessam de chegar até ela. Só que
mesmo assustada e insegura, Caroline, aos poucos, tenta avisar a cada um dos
indivíduos enunciados para morrer, o que lhes espera.
Mas o destino é também um
lugar incontrolável e arenoso. E conforme Caroline tenta ir ao encontro de
pessoas marcadas para morrer, descobre que não consegue ter nenhum domínio das
mais distintas situações: como quando é confundida com a amante de um advogado
marcado pela mensagem; ou quando encontra uma noiva desenganada e tem-se início
um jogo delicado de tentar penetrar em sua mente esmorecida; quando ela vai à
busca de uma mulher que inesperadamente parece saber quem ela é..., ou quando
um presidiário moribundo começa a lhe relatar o que realmente significa ser uma
Coletora de Lágrimas.
Neste ínterim, Caroline vive
situações complicadas que lhe fazem compreender que nada funciona como ela
espera que vá acontecer; que a hora da morte está em seu conhecimento, mas isso
parece, cada vez mais, uma informação irrelevante. Ao mesmo tempo, tal situação suscita o ego na moça, que ironicamente passa a ver o vazio
aparentemente invencível de seu ser, sendo escoado pela nova função de levar a
mensagem da morte para aqueles que estão assinalados pelo destino.
Caroline se vê dividida. Sabe
que a realidade é bem diferente do que acontece em ficções premonitórias, onde
mortes espetaculares acontecem sob o olhar do mensageiro e pessoas que irão
morrer aceitam de bom grado a notícia funesta que lhes é dada.
Não. Aqui não há lugar para
previsibilidades; Caroline encontra, o tempo inteiro, pessoas entediadas com suas
rotinas e que obviamente não sabem que irão morrer, cujas situações banais vão se
intercalando com a vida de nossa heroína, até o derradeiro desfecho que nada
terá de extraordinário. Apenas se trata da finitude que nos acompanha
diariamente.
A história é narrada em
primeira pessoa, com exceção de pequenas introduções que abrem cada capítulo na terceira pessoa; prefácios em que acompanhamos a visita de
Caroline a um presidiário. E o que deveria ser apenas mais uma mensagem da
morte a ser entregue, se transforma num diálogo revelador entre Caroline e o
preso... Até uma última e impactante confidência, que deixará Caroline em
frangalhos.
O autor mostra nesta trama
que aqui não há espaço para grandes heróis; tipos que se dotam de conhecimento
resoluto assim que algo extraordinário ocorre... Não, nesta obra, apenas
a dúvida é o que acomete a personagem. E quando um pouco diferente, ela se vê
envaidecida por ser detentora de informações que sequer consegue controlar. E
mesmo sendo ajudada por sua vizinha – uma jovem irreverente e descolada, que
com todo seu alto estima, tenta colaborar com Caroline – ela se vê incapaz de
usar de maneira benéfica, as informações que detém.
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