domingo, 7 de março de 2021

LIVRO GRÁTIS – A COLETORA DE LÁGRIMAS

Caroline Passim Krushev é o arquétipo de mulher realizada. Casou-se com um advogado bem sucedido, tem um filho lindo e saudável, mora em cobertura de frente para o mar de Camburí, no Espírito Santo. A vida de causar inveja em qualquer indivíduo que almeje ascender na sociedade de consumo a qual estamos inseridos.

Ou seja, o que faltaria na vida desta mulher que conseguiu alçar o topo capitalista sem grandes esforços? Talvez essa pergunta seja respondida a cada página virada deste imprevisível “A COLETORA DE LÁGRIMAS”; a amarga noção de que para pessoas inseridas num mundo de consumos e aparências, lhes falte significado existencial.

Consciente desta precariedade, Caroline vive seus dias enfadonhos procurando empregos online ou indo a entrevistas. Cismou que a obtenção de um trabalho digno lhe proporcionaria vigor; ela queria ser alguém que tivesse o mínimo de importância. No entanto, o marido é inflexível contra a ideia de a esposa trabalhar e sempre usa argumentos pragmáticos que a convençam a desistir de um emprego. Caroline então segue seus dias de princesa moderna, confinada num apartamento sofisticado, esperando que o dia termine, para que ela possa morrer mais um pouco no dia seguinte.

Mas a vida é uma incógnita e costuma sacudir criaturas adormecidas quando menos se espera. É o que acontece com a protagonista, quando recebe uma mensagem anônima pelo correio. Sua vida muda completamente assim que ela consegue traduzir o conteúdo cifrado da mensagem. E o que era aparentemente inofensivo, se mostra um ardiloso presságio de morte: a mensagem deu a moça os precisos dados de quando e onde um acidente fatal aconteceria.

Era apenas a primeira de muitas outras mensagens que seriam entregues à receosa moça, que não sabe exatamente o que fazer com os prenúncios de morte que não cessam de chegar até ela. Só que mesmo assustada e insegura, Caroline, aos poucos, tenta avisar a cada um dos indivíduos enunciados para morrer, o que lhes espera.

Mas o destino é também um lugar incontrolável e arenoso. E conforme Caroline tenta ir ao encontro de pessoas marcadas para morrer, descobre que não consegue ter nenhum domínio das mais distintas situações: como quando é confundida com a amante de um advogado marcado pela mensagem; ou quando encontra uma noiva desenganada e tem-se início um jogo delicado de tentar penetrar em sua mente esmorecida; quando ela vai à busca de uma mulher que inesperadamente parece saber quem ela é..., ou quando um presidiário moribundo começa a lhe relatar o que realmente significa ser uma Coletora de Lágrimas.

Neste ínterim, Caroline vive situações complicadas que lhe fazem compreender que nada funciona como ela espera que vá acontecer; que a hora da morte está em seu conhecimento, mas isso parece, cada vez mais, uma informação irrelevante. Ao mesmo tempo, tal situação suscita o ego na moça, que ironicamente passa a ver o vazio aparentemente invencível de seu ser, sendo escoado pela nova função de levar a mensagem da morte para aqueles que estão assinalados pelo destino.

Caroline se vê dividida. Sabe que a realidade é bem diferente do que acontece em ficções premonitórias, onde mortes espetaculares acontecem sob o olhar do mensageiro e pessoas que irão morrer aceitam de bom grado a notícia funesta que lhes é dada.

Não. Aqui não há lugar para previsibilidades; Caroline encontra, o tempo inteiro, pessoas entediadas com suas rotinas e que obviamente não sabem que irão morrer, cujas situações banais vão se intercalando com a vida de nossa heroína, até o derradeiro desfecho que nada terá de extraordinário. Apenas se trata da finitude que nos acompanha diariamente.

A história é narrada em primeira pessoa, com exceção de pequenas introduções que abrem cada capítulo na terceira pessoa; prefácios em que acompanhamos a visita de Caroline a um presidiário. E o que deveria ser apenas mais uma mensagem da morte a ser entregue, se transforma num diálogo revelador entre Caroline e o preso... Até uma última e impactante confidência, que deixará Caroline em frangalhos.

O autor mostra nesta trama que aqui não há espaço para grandes heróis; tipos que se dotam de conhecimento resoluto assim que algo extraordinário ocorre... Não, nesta obra, apenas a dúvida é o que acomete a personagem. E quando um pouco diferente, ela se vê envaidecida por ser detentora de informações que sequer consegue controlar. E mesmo sendo ajudada por sua vizinha – uma jovem irreverente e descolada, que com todo seu alto estima, tenta colaborar com Caroline – ela se vê incapaz de usar de maneira benéfica, as informações que detém.

A COLETORA DE LÁGRIMAS é uma trama caquética, mas contada de forma moderna.  Com uma condução textual que traz para o leitor a sensação de insegurança constante, em que nada é o que parece ser quando se lida com algo tão obscuro e pernicioso, como a hora da morte da cada ser vivo.

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