“Um povo que não conhece a sua
história está condenado a repeti-la”.
Essa frase de George
Santayana, deveria soar para a nação brasileira como um alerta para o que está
acontecendo em nosso país, e talvez sobre a égide desse prenúncio agourento,
não permitirmos que lideranças populistas tentem reinventar o passado do
Brasil, transformando atos hediondos, irresponsáveis e traumáticos de nossa
história em razoabilidade patriótica. Apossar-se da memória de um povo é
submeter este mesmo povo à um eterno retorno de desgraças.
A grande premissa por trás
dessa excelente obra da antropóloga Lilia Schwarcz, é trazer à tona temas
aparentemente escondidos ou disfarçados da sociedade brasileira, justamente para
que o público leigo reflita sobre nossos problemas com o enfoque no cerne da
enfermidade, sem se deixar seduzir por caminhos fáceis e soluções milagrosas. A
autora aqui nos convida a uma verdadeira terapia social.
Não me excluo desse meio que
precisa desenvolver melhor o pensar e, portanto, antecipei a leitura desse
livro por conta do atual momento em que estamos vivendo; um cenário onde a
sociedade brasileira parece fadada a um futuro desesperançoso. SOBRE O
AUTORITARISMO BRASILEIRO é uma obra pra ser lida agora, por todos nós,
quase em caráter de urgência.
Sim, precisamente o livro é premente,
pois sua premissa é tentar explicar, de um modo introdutório, quais foram as
mazelas que resultaram na ascensão dessa nova direita extremamente autoritária
e populista. Mas então seria o autoritarismo, incutido no título da obra, algo
exclusivo de uma parcela de nossa sociedade? Em outras palavras, o viés
extremista é aspecto exclusivo desse pensamento direitista?
É o que Lilia Schwarcz
através de uma linguagem simples e acessível procura nos mostrar: o
autoritarismo brasileiro não é elemento de determinado grupo, ou de meia dúzia
de pessoas sem caráter. Não. O autoritarismo é resultado de um país que ainda
se sustenta em bases apodrecidas dos tempos de colonialismo, onde imperava um
sistema latifundiário patriarcal, escravocrata e misógino, onde a figura
central, que alimenta e carece da continuidade expressiva de desigualdade
social, era e ainda é a figura do “mito”, do salvador da pátria.
A concentração de poder, dentro
da instância pública, tornou nosso sistema político inchado, refém de um
clientelismo quase que inerente e que nunca deixou de existir. Os entraves
desse “jeitinho brasileiro” de ser, é apenas uma das muitas práticas que se
repetem ainda em tempos atuais, de um povo que ainda sofre as consequências de
um sistema escravocrata, cuja estrutura latifundiária expansiva reduz à um
punhado as riquezas da nação.
É um livro, sobretudo, que trata da permanência do nosso passado. Somos um povo explicitamente movidos pelo ressentimento por termos sidos colonizados, de termos mandonismos localizados, nossos governantes são formados ainda por coronelismo, ou seja, famílias que eram donas do poder nos tempos de Brasil colônia e a coisa parece seguir do mesmo modo; somos regidos por um sentimento patriarcal que nos soa normativo, mas que nos induz a acreditar em heróis de terno e gravata.
Alguns livros precisam ser indicados, não pelo mero prazer da leitura (aliás, muitos são laboriosos), mas pela obrigação que temos de elevar o conhecimento em prol de um mundo melhor. SOBRE O AUTORITARISMO BRASILEIRO é esse modelo de livro, pois me parece um tapa na cara de nossa hipocrisia. Chega de empurrar para debaixo do tapete a nossa sujeira de cinco séculos! Não dá mais para continuar ignorando este modelo de democracia dissimulada, cuja sordidez está tão enraizada, que consequências ainda mais graves estarão a nos esperar, se não abrirmos de uma vez nossos olhos turvos.
NOTA: 8
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