sábado, 13 de novembro de 2021

RESENHA DE LIVRO – DESAMPARO

Encontrei este DESAMPARO em promoção num Sebo. A capa com o rosto de uma mulher me soou familiar (meses depois descobri a fonte desta impressão: é que já tinha visto o livro na estante de minha esposa), li a sinopse rapidinho e decidi acrescentá-lo a minha pilha de compras, tipicamente esse é o tipo de aquisição para se conhecer novos autores. E como foi gratificante saber que a autora é portuguesa. Tive certeza de que estava adquirindo coisa boa. A literatura lusitana tem muita gente boa, e Inês Pedrosa apenas surgiu para validar essa opinião.

A trama deste romance contemporâneo gira em torno da personagem Jacinta, mulher nascida em Portugal, porém, veio para o Brasil muito jovem, ela retorna ao país de origem meio século depois para conhecer a genitora da qual foi arrancada muito cedo. Jacinta é como o ponto de origem para explicar muitos outros personagens, todavia, ela segue como figura central, mesmo em capítulos em que pouco dela nos é apresentado, mesmo assim, sua essência permanece circundando toda a leitura.

O reencontro acontece numa pequena aldeia, onde ela se estabelece em definitivo porque precisa cuidar da mãe. Neste ínterim, o livro alterna para outros capítulos em que nos são apresentados novos personagens, alguns mais interessantes do que outros, sendo o mais complexo e meu favorito, Raul, que em determinado instante também se encontra instalado em Portugal para cuidar de sua mãe, Jacinta, exatamente como ela houvera feito antes, num ciclo altruísta no cerne daquela família.

Raul é figura singular, carrega problemas existenciais, tem conflitos familiares com seus irmãos desgarrados, é consciente de suas limitações de uma forma quase lamentável, sente-se fracassado na profissão e no amor. Este personagem, juntamente com Jacinta, são os pontos mais altos da trama.

O livro resvala num segmento introspectivo, quase um fluxo de consciência, mas o mergulho não desce tão fundo em tais reflexões idiossincráticas, ficando mais próximo do verniz; de uma prosa deliciosa, engraçada, triste e muitas vezes carregada de análises conflitantes, de personagens tomados demais dessa natureza humana cheia de inconstâncias.

Mas apesar de instigar, é justamente aqui que o livro resvala num problema.

Muitos personagens inseridos comprometeram aquilo que seria este mergulho mais fundo na leitura da alma humana. Talvez Inês tenha exagerado na dose, despejou demais os tipos diferentes que nos são apresentados, e terminamos por conhecer bem menos do que gostaríamos de cada um deles..., uma pena.

De qualquer forma, é um livro gostoso de se ler, fluído e crível, onde o desamparo do título paira o tempo inteiro ao redor de seus envolvidos, porém, deixou-me com a sensação de que faltou arrancar camadas de seus personagens, o que talvez fosse possível, caso a trama tivesse se concentrado em um ou dois indivíduos. Opinião à parte, esta obra é mais um acréscimo que eleva minha admiração pela literatura portuguesa, Inês Pedrosa é mais uma autora que passarei a procurar avidamente.

NOTA: 7,7

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