Assim que comecei a fazer graduação em psicanálise, conteúdos que envolvem o tema passaram a me interessar de perto. Já havia assistido adaptação da obra aqui resenhada para o cinema, mas adiava a leitura deste divertido DIVÃ por sustentar alguma desconfiança de que se tratasse de mais um daqueles livros água com açúcar, cheios de clichês..., mas fiquei satisfeito por estar completamente enganado, eu adoro quando a literatura me proporciona essas agradáveis surpresas.
DIVÃ narra
a história de Mercedes, uma mulher de meia idade que começa a fazer psicanálise
por sustentar certo vazio existencial. Ela é casada, mãe de três filhos,
pedagoga e artista plástica nas horas vagas. Aparentemente leva uma vida
regrada e sem grandes desafios, pois é justamente esse o problema que relata,
já no início da trama: Mercedes não gosta do meio termo, tem dificuldade em
lidar com essa vida morna e higienizada, ela relata no divã ao seu terapeuta
que gosta dos extremos, mas por alguma razão optou por desempenhar o papel
social que lhe era esperado.
O divã é o cenário único da
narrativa. Tudo o que acompanhamos sobre a personagem são os relatos que ela
expõe nas sessões com o psicanalista Lopes. Ou seja, cada capítulo é uma nova
consulta e Mercedes conta como se sente, como vai a vida, suas impressões, seus
sentimentos, tudo em recortes de monólogos.
E cá entre nós, é uma delícia
acompanhar as sessões de Mercedes. Ela conta sua história de modo honesto e
divertido, não se abstém, não tem medo de dizer como se sente. Mesmo quando
relata situações difíceis em sua vida, nos faz querer avançar ao próximo
capítulo para sabermos um pouco mais sobre a vida dessa mulher. Mercedes
certamente é a analisanda que todo psicanalista gostaria de ter em seu
consultório.
Há momentos em que damos boas
risadas, outros em que nos pegamos a pensar sobre suas reflexões. Momentos
difíceis, quando coincidem com algo já vivido por nós, causam imersão; o
capítulo termina e você fica pensando longamente sobre o próprio passado.
Aliás, os capítulos aqui são
curtinhos, o livro tem uma narrativa fluída, dá pra ler em um único dia, embora
eu sigo sustentando o velho hábito de desacelerar minhas leituras quando estou
gostando do livro.
Claro que é tudo mérito de sua criadora. Essa é a primeira obra que li de Martha Medeiros e já fiquei encantado com seu estilo direto e pitoresco. Ao que parece ela se destaca por suas crônicas, o que pode ser notado na condução narrativa aqui exibida. Alguns leitores dirão que isso é óbvio, mas o livro é bem melhor do que sua adaptação cinematográfica. Aliás, foi por conta de ter assistido ao filme primeiro, que fiquei com uma impressão equivocada sobre a autora.
DIVÃ é uma obra deliciosa, fácil de ser lida e detentora de uma protagonista apaixonante. Se algo negativo pode ser dito sobre esse livro é o quanto ele é curtinho, eu seguiria numa boa acompanhando as sessões de análise de Mercedes..., quem sabe futuramente Martha Medeiros brinde-nos com uma continuação?
NOTA **10**
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