Outro dia tive um prolongado embate
online com uma grande amiga, que alegou acreditar que as redes sociais estão
deixando as pessoas burras; que a expansividade informativa da internet faz com
que tenhamos acesso a todo o tipo de conteúdo, mas há uma carência de qualidade
em quase tudo que era postado. Da mesma maneira, essa permissividade
democrática forneceu voz a toda essa massa idiotizada e cheia da necessidade de
adjetivar o mundo que a rodeia, como se, nas palavras dela: “dar opinião
fosse indicativo de discernimento”.
Tendo em vista que eu já havia
escutado esse tipo de apontamento de outras pessoas, achei que seria prudente
refletir sobre, antes de redarguir. E após o que imagino ter sido uma fugaz verificação
consciente, alienada a sutil cautela quanto ao perigo de se generalizar
qualquer julgamento, tentei renovar a oportuna discussão com essa amiga. E eis
que colocamos um novo ponto de interrogação no sentido de abrandar o
determinismo que era dela e de outros tantos. Sugeri que, embora concordasse
com os argumentos quanto à internet ser um instrumento que, para ser edificante,
carece de profundo empenho em peneirar conteúdo, discordava quanto a ideia de
que todos os adeptos das redes sociais estejam, propriamente, emburrecendo. Mas
que talvez estejamos sim, nos tornando uma tribo de iguais, aprisionados em
bolhas (essa conversa acontecia inbox,
numa famigerada rede social).
Mas o que significa estarmos
nos tornando iguais?
O que quero fomentar é que
quando se está interagindo pelo intermédio de uma rede social, é muito difícil
conseguir verter personalidade através de uma simples telinha. E de certa
maneira isso torna membros distintos da sociedade em meros aplicativos de
análises, bitolados; reduz a diversidade latente em indivíduos parecidos ou até
iguais. Superficialmente essa ideia de igualdade até parece democrática. Mas se
observarmos tal condição um pouco mais de perto, veremos que é quase injusta a
privação da singularidade, dadas circunstâncias tão desfavoráveis quanto a mera
troca de informações escritas, as quais podem (e muitas vezes são)
interpretadas de maneira errônea pelo interlocutor. Outro problema é que essa
igualdade online, embora nivele seus usuários, faz com que este nivelamento
unifique pensamentos semelhantes.
Eu vou dar um exemplo:
Certa feita, conheci uma
garota através da gigante das redes sociais, o Facebook. Inicialmente a achei uma moça interessante e fui checar
seu perfil. Notei que muito de suas preferências batiam com minhas preferências,
e aparentemente seus ocasionais comentários em posts eram evidências de que ela
só poderia ser, de fato, alguém agradável para se tentar amizade.
Análise feita, enviei um
convite de amizade que por ela foi prontamente aceito. Satisfeito, tentei uma abordagem
gentil. Porém, em pouquíssimo tempo de prosa notei que, por mais que me
esforçasse em parecer simpático, comunicativo, expressivo ou qualquer ato
corriqueiro, que teria seu poder de influência aumentado por uma abordagem
presencial, a interação online deixava meus recursos limitados a ponto de fazer
com que eu parecesse um sujeito insosso ou, ainda pior, poderia estar sendo
interpretado como algum tipo de sociopata interessado em transgredir a moral
alheia. Ou seja, aquele mesmo auxílio tecnológico que me possibilitou novo
horizonte, era o mesmo que me privava de distinguir-me. E por quê?
Porque é impossível expressar individualidade
através de uma simples conversar virtual. E se pensarmos na importância da
sensibilidade humana, da linguagem corporal, do olhar que anuncia e insinua, coisas
que imagino serem fundamentais quando se está conhecendo alguém, estas ficam
completamente ocultadas pela interação virtual.
Outro problema é que estamos
vivendo uma expansão tecnológica onde todos se tornaram vozes ativas. E como a
rede social é uma forma de interatividade indireta que possibilita sermos quem
quisermos, fica muito fácil destilar veneno quando se está pilotando um avatar.
Em outras palavras, a internet tem se mostrado um antro de proliferação
desenfreada de ódio. E isso acaba fazendo com que algumas pessoas se protejam
demasiadamente por temerem interlocutores, digamos, encolerizados.
Por fim, se usamos de uma
ferramenta na qual podemos ser (ou parecer) quem quisermos, torna muito
complicado confiar na configuração do perfil que está diante de nosso monitor
nos convidando para um bate-papo. Por isso as bolhas estão fechadas para que
apenas iguais possam interagir.
“Significa que redes sociais são ainda piores do que imaginamos!”, cravou
minha amiga.
Por mais escabroso que pareça,
eu ainda acho que não, respondi.
Claro que não sou o dono da
verdade absoluta, até porque não existem verdades absolutas. Além do mais, sabemos
bem que as redes sociais servem como ótimos recursos de estreitamento social,
agilizam serviços, enfim, é um eficaz espaço para se elevar e expandir negócios.
Mas precisamos trazer à tona a ideia de democratização coletiva: por que não
fazer das redes sociais um lugar de interação responsável e apenas no sentido de
abordagens sucintas que desencadeiem em harmoniosos encontros presenciais? deixar
de lado a ideia do perfil maravilhoso e despir-se de quem realmente somos;
minimizar opiniões superficiais no sentido de evitar a propagação do ódio; e
que tal aprendermos de uma vez, já que redes sociais são espaços modernos de
interação, a usarmos a ética da convivência para estes ambientes?
Sim, meus amigos. Pessoas
comunicativas, que gostam de conversar, de interagir com outros dos seus,
aqueles que anseiam pelo contato humano, estes estão fadados a serem reduzidos
a meros solitários online, sentenciados por essa mesma tecnologia que surgiu
com a premissa de os salvar..., ou muito pior é a hipótese de boas pessoas
serem confundidas com algum tarado da internet, o que não é muito difícil de
acontecer.
O fato é que cheguei a pensar
que fosse apenas eu quem não soubesse lidar com redes sociais. Mas talvez o que
realmente ocorre é que pessoas, na mesma proporção em que não demonstram seu
lado crível, também não parecem muito interessadas em saber quem é o
interlocutor.