terça-feira, 27 de janeiro de 2015

RESENHA DE LIVROS – AS ESGANADAS


Jô Soares é um homem indiscutivelmente inteligente. Além de entrevistador, é comediante, humorista, dramaturgo e escritor. E esta última ocupação do cara é o que nos interessa aqui. As Esganadas foi minha primeira incursão através de um de seus trabalhos literários. E embora eu jamais houvesse lido nada dele antes, devo confessar que fiquei com certo descontentamento, pois esperava mais de seu livro.

Bom, antes de tudo, quero salientar em defesa do Jô Soares escritor, que seu livro está longe de ser ruim. O que houve é que não gostei muito de sua pegada literária, que em minha opinião não funcionou muito numa trama de suspense policial. Em alguns instantes tive a sensação de estar lendo uma comédia de humor negro (o que talvez fosse proposital). De qualquer forma, o autor nos brinda com um trabalho altamente rico em vários aspectos. Eu começo por eles:
A trama deste As Esganadas se passa no Rio de Janeiro de 1938, um assassino está á solta perseguindo alvos peculiares: mulheres gordas. Com requintes de crueldades gastronômicas ele mata suas vítimas e depois expõe seus corpos acintosamente, bem ao estilo de vilãos criados por autores como Dan Brown. Quem sai á caça do malquisto é um quarteto composto por um delegado e seu assistente, ambos brasileiros; uma repórter charmosa e também de nacionalidade brazuca; e por fim, um antigo inspetor da polícia de Portugal, que após um incidente escandaloso, se muda para o Brasil e acaba se tornando dono de uma rede de confeitarias.

A linguagem do texto é impecável, recheado de palavras rebuscadas, o que deixa o texto charmoso. As descrições do Rio de Janeiro da época são de fazer cair o queixo, tamanha vastidão de detalhes. E quanto ás cenas dos crimes, estas se mostram tão minuciosas em suas particularidades, que muitas vezes o leitor consegue ter intensos vislumbres mentais dos cenários.
Só que inesperadamente a grandiosidade de detalhes foi justamente o tiro que saiu pela culatra. Há momentos em que a minuciosidade é tamanha, que acaba comprometendo na fluência do texto, deixando a história cansativa em vários instantes. Outro aspecto que não pareceu positivo foram algumas tentativas de se inserir momentos cômicos á trama, os quais não funcionaram muito bem. O que é um pouco inusitado, pois Jô Soares tem grande intimidade com a comédia e sabe fazer o telespectador rir com maestria e inteligência. Era de se esperar que pudéssemos ver esta habilidade inserida em suas histórias.

Em resumo, As Esganadas não chega a decepcionar. É um volume literário genial até certo ponto, mas que acabou tropeçando em sua própria impecabilidade, tornando-se um trabalho mediano e esquecível.

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